sexta-feira, janeiro 02, 2009

12 100 mil sorrisos absolutamente iguais

Esse é o primeiro "post" publicado por mim nesse histórico ano de 2009. Ano do Centenário é o momento propício para lembrarmos dos nossos valores do passado, das nossas origens.
Por anos, vingou a tese de que o nome do nosso nome era uma "cópia" pura e simples de um clube paulista, ou até da Internazionale Milanesa, fundada um ano antes do outro lado do oceano. Escondendo o valor agregador e SUPLIME que há por trás do nome, "Internacional".
Sabe-se que naquela época, só haviam dois clubes de futebol em Porto Alegre. O Porto-Alegrense e o Fuss-bal. Ambos eram ligados à imigração alemã. Não há nada de errado nisso, valorizar as origens e as tradições de um grupo étnico é natural, é mais ou menos o que se faz em qualquer CTG. Embora eles escondam, isso são fatos. Assim como os "não-germânicos" dificilmente jogavam no Grêmio naquele tempo, os negros também não jogavam até os anos 50. São fatos. Não é uma opinião.
E quem não era germânico, mas queria jogar bola? E os brasileiros, os portugueses, açorianos, italianos, belgas, franceses, ou sei lá o que, de qualquer outra nacionalidade? Ora, INTERNACIONAL, o Clube do Povo, o Clube de todos!!!! Mais do que origem e inspiração, há um significado belíssimo que nem sempre é percebido. Esse nome, tem muito mais peso do que a incompetência histórica, as mentiras casuísticas e as teses fúteis e rasteiras que circulam por aí.
E para começar a celebrar o Centenário do Clube do Povo (todos, pobres e ricos, brancos e negros) deixo-lhes um texto publicado por Mendes Ribeiro (o pai) em decorrência da inauguração do Beira-Rio em 1969.
Pois é, não vamos esquecer, SÃO 40 ANOS daquele Gigante de concreto, aço e muitas emoções.
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Cem mil negrinhos, vestindo vermelho e agitando bandeiras. E nem um só era um negrinho rico. Em cada negrinho um sorriso muito branco. Cem mil sorrisos brancos. E todos orgulhosos, e todos reis, esquecidos do que a vida não lhes dera em dinheiro, em oportunidade, em quase tudo. E depois, onze dêles pisando a grama fofa, nova, caprichosamente desenhada, como caprichoso era o sonho que ia em frente. E o jôgo começava. E a bola brande, de pé em pé, como em passe de mágina, tinha rumo certo. E os negrinhos do campo chegavam às redes e, os que estavam esparramados por tôda a parte, riam ainda mais seus cem mil sorrisos absolutamente iguais.
Quando o jôgo ia em meio, tudo ficou quieto, tudo ficou mudo. O dia se fêz noite e, também de surprêsa, cem mil sóis ofuscaram os cem mil negrinhos. Eram as luzes. Foi aí que, lentamente, um dos tantos se encaminhou para a tribuna. O momento era solene e, foi solenemente que êle começou. E disse que esteva entregando a casa aos seus verdadeiros donos. Que tinha um grande respeito e gratidão pelos comandantes do feito. Mas que via, em cada tijolo, em cada muda de grama, o esfôrço do homem comum, do anônimo que não haveria de ganhar placas, de receber honrarias, de passar à posteridade. Disse tudo de foma solene, mas simples. E depois de dizer, descerrou a placa: "Ao povo do Rio Grande, o Internacional, agradecido, entrega a Casa do Povo".
Além protestou. Casa do povo? E os legislativos, as câmaras, as assembléias? Cem mil negrinhos responderam em côro dizendo da autenticidade da escolha. Aquêle estádio era a consagração de um candidato. Cada tijolo acrescentado um voto perpétuo de confiança. Ali estava um palácio erguido sem importos, pelo esfôrço comunitário a que ninguém fôra obrigado. Um jornal que o jornaleiro vendera pensando no Inter, uma camisa que o homem da rua não havia usado pois, sem camisa, qual o homem da lenda, era mais feliz e mais colorado e, assim por diante.
Cem mil negrinhos deixaram a casa nova para outros cem mil negrinho entrarem, depois. Não há conta os donos que aquela casa tem. E todos, os que saíam e os que entravam, nas camisas vermelhas traziam um distintivo. O distintivo era mais do que um símbolo. Era um desafio. Dasafio que os incrédulos lançaram ao povo para, mais uma vez ficarem sabendo, definitivamente, de que com o povo não se brinca. Do brinquedo dos outros, da bóia cativa, êles fizeram um ideal e o ideal enfeitou uma cidade, orgulhou um Estado, assombrou um País.
Acordei. No dorme-desperta de após sono a procissão dos negrinhos continuava. E não tentei colocar brancos, ali. Eu gosto de gente, preta, amarela, pouco importa. E os pretinhos de meu sonho, mais do que ninguém, representavam êsse povo sofrido, de noites insones, de esperanças muitas e de dinheiro pouco que fêz o Beira-Rio, a Bóa Cativa, a Casa do Povo. E, palavra, sonhos assim, não deveriam terminar.


12 Comentários:

Cleber_Tapes/RS disse...

Ótimo texto...

O BR é um lugar mágico, espero que a modernização do Novo BR seja tudo o que esperamos....

E que principalmente seja palco de grandes conquistas....

Quero desejar aqui pra todos um Feliz e Abençoado 2009.

Schroder-EUA disse...

Gulherme

Tava lendo sobre o negocio de 100 mil socios e apenas 50 mil lugares....mas na verdade sao 38 mil que entram liberado o resto é meio-socio tendo que pagar 50% do ingresso.

O que tu acha desses 38 mil socios 100% ter cadeira fixa como se faz em boa parte do Mundo?

É interesante aqui meu cunhado tinha cadeiar nos Giants e no Jets..todos os jogos (se bem que era apenas uns 10 por ano pra cada time pois jogam muito menos na NFL) mas ele pagava o preço total de ingresso...então nao tem desconto..tu ta pagando pelo previlegio de ir ao jogo...e por isso tu ve todos os jogos lotados aqui...ate de times ruins, ultimo na tabela. O cara paga ele vai ir...

Eber Prado disse...

Louis,

Acho que aqui a coisa não funcionaria, pois a condição econômica pesaria bastante.

E digo que o pessoal até continuaria pagando para não perder a condição de sócio, mas no meu entender reduziria o nº de assistentes por partida.

Gabri Rodrigues disse...

Belo texto... o gigante sim é um lugar mágico, místico, basta colocar o pé lá dentro q é possível sentir a vibração e se prestar atenção se ouvem ainda os brados de felicidade que ecoam sempre por la!
Feliz ano novo e saudações coloradas!

Celso disse...

Du caralho o texto !

sempre bom ler textos como esse !

Sacuga disse...

Olha cara, texto bom heim??
Será que para não perder a mistica desta história não seria possivél convocar a nação colorada a novamente dar um tijolinho para ajudar na nova obra do gigante??
Nem que fosse só como jogada de marketing.
Pois resgatar nossas raizes, nosso passado; só nos faz fortalecer os alicerces que sustentarão as glórias do nosso futuro.

Um abraço a toda coloradagem de plantão.

Gonçalves disse...

Pois é Sacuga, eu já havia pensado nisso, quando alguns aqui comentaram ter documentos comprovando doações, a Anelise parece tinha um avô que ajudou de alguma forma e apresentou esse documento uma vez aqui, seria uma grande sacada de marketing mesmo.

Guilherme Mallet disse...

Louis,

Particularmente eu não gosto da idéia de ter a "minha" cadeira no Beira-Rio. Acho que sou como a maioria que gosta de variar de lugar no Estádio. Quando não quero agito ou para ver o jogo taticamente, prefiro a superior, as vezes a social, a inferior ou até a popular.

O que eu acredito ser o melhor para o Clube é criar a necessidade de o sócio "passe livre", "comprar" o seu ingresso. A cada jogo ele usa internet ou telefone para escolher a sua cadeira. Só com isso, já se saberia com antecedência o número exato de lugares disponíveis para venda aos demais sócios da modalidade Campeão do Mundo.

Acho que ocorrerá alterações nesse sentido em breve, pois é bom lembrar que a maioria dos sócios votantes em 2010 pertencem à modalidade "campeão do mundo".

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Outro problema de lugar marcado: e se eu quiser levar um amigo ou a família? Não poderei ficar junto...

Abraços.

RP disse...

baaah, muito bom o texto! volta e meia me emociono lendo esse tipo de coisa e passa pela cabeça a idéia de que seria impossível torcer para qualquer outro time no mundo.
ps: afinal, tenho mesmo que me deparar com um banner do san pablo (a maior torcida do mundo, segundo o que li iahduhsdiuaf) ou do flamengo toda vez que entro aqui?

Lúcia Bastos disse...

Concordo com o Guilherme sobre esse aspecto do sócio ter direito de acessar qualquer espaço no estádio ! É muito ditatorial querer que fique sempre num mesmo lugar !!!
Nesse aspecto houve uma evolução no Inter.
Antes da gestão Amoretty sócio só podia sentar na social, agora pode acessar superior e inferior, só não pode ir nas cadeiras.
Já o sócio campeão do mundo, como paga 50% do valor do ingresso, pode acessar até as cadeiras.
Depois de toda essa liberdade, fixar o sócio num local acho retroceder...
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O que o Inter precisa fazer URGENTE é saber quantos desses sócios com direito de livre acesso realmente frequenta o BR !
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Sobre inauguração do BR...
Foi realmente EMOCIONANTE !!!
Meu pai e alguns de seus irmãos foram alguns dos tantos colorados que contribuiram com doações.
Hoje isso se materializaria melhor com contribuições em dinheiro, numa conta especifica pra receber doações destinadas a remodelação do estádio.

Unknown disse...

Concordo com o que disse o Guilherme, mas tem uma coisa me incomodando: essa história de querer liberar o ingresso com identificação digital.

Pelo que eu entendi, eles querem acabar com o empréstimo de carteirinhas, é isso? Aí, sim, vai ser o maior retrocesso do mundo.

Por exemplo: eu não posso ir nos jogos nos finais de semana, pois quase sempre trabalho nestes dias, e aí sempre empresto minha carteira (modalidade antiga) para um primo, que é sócio campeão do mundo e poupa alguns reais. Isso garante uma presença constante no estádio, e evita que aconteça de a minha carteirinha tirar o lugar de alguém.

Se não pudermos mais emprestar as carteirinhas, dificilmente teremos uma presença expressiva de torcedores da modalidade antiga em todos os jogos, já que são vários os casos que eu conheço parecidos com o meu.

Sem falar no fato de que isso não acontece em lugar nenhum do mundo. Nos EUA, mesmo, quem tem ingressos de cadeira pode emprestar sua vaga para outra pessoa. Na Europa, quem é sócio também pode emprestar sua carteira... o que os caras querem é ver estádio cheio sempre.

warley.morbeck disse...

Olá. Estou criando um blog para divulgar as curiosidades do futebol brasileiro e de seus grandes clubes. Estou em busca de parcerias e de pessoas que possam ajudar. Poderia enviar alguma curiosidade, foto rara, texto sobre algum ídolo do Inter?

Se puder mandar, envie para o warley.morbeck@gmail.com que publico o texto com o link da fonte do seu blog. Se quiser fazer troca de links, será um prazer.

Passe lá no blog e deixe uma resposta nos comentários, se preferir.

Warley Morbeck
http://eternabola.blogspot.com

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