terça-feira, julho 07, 2009

25 Eu Nunca Me Esquecerei

Esta história eu já contei várias vezes, mas nunca me canso de contar de novo.

Era noite de 16 de dezembro de 2006. Já fazia alguns dias que eu não dormia e, tenho certeza, a maioria dos que estão lendo este texto, colorados e gremistas também (acreditem), assim como eu, igualmente não dormiram direito naquela semana.

Saí da zona sul numa Porto Alegre silenciosa de tensão como eu nunca antes vi. Aliás, nunca mais vi nada igual e acredito que dificilmente tornarei a ver. Não daquele jeito, não com aquele silencio tenso e apreensivo.

O fato é que rumei para a zona norte da cidade, para jantar com o meu pai. Cheguei lá já tarde, passando das 22h. Comi pouco. Quando estou nervoso, a comida mal passa na goela e cai feito chumbo no bucho. Daí, não tem jeito. Mas, enfim, comer, àquela altura da vida, era o que menos importava.

Só que depois da ceia, ao me preparar para ir embora, dei-me conta de que eu não poderia deixar meu pai em casa. Eu não assistiria ao jogo da manhã seguinte no apartamento dele, pois teria que compartilhar a TV com meu único irmão, mais velho e gremista! Iria dar merda, na certa. Era muita tensão e não seria justo, nem para mim, nem para ele, que tivéssemos que conter nossas emoções diante de um jogo tão importante para todos. Mas eu também não poderia deixar de ver tal jogo em companhia de meu pai, aquele que, do seu jeito sempre contido e discreto, me fez colorado!

Convidei-o para passar a noite comigo e, na manhã seguinte, assistirmos ao jogo juntos no meu apartamento, o que prontamente ele aceitou. Naquela noite quente e abafada, não atravessamos apenas a capital gaúcha, atravessamos o globo. Saímos de Porto Alegre para Yokohama, não de corpo, mas certamente, de alma.

Talvez por isso, por estar acompanhado do meu pai, somado às noites de insônia de toda a semana, mais umas que outras que eu já havia bebido naquela noite, surpreendentemente, eu dormi. E dormi bem.

Na manhã do dia 17, acordei pouco mais de meia hora antes do início da partida. Meu pai já estava prontinho, no sofá, em frente à TV. Assistira ao segundo tempo de Al Ahly x América e, juntamente com um “Bom dia!”, me informou o placar daquela partida. Respondi: “Bom sinal, bom presságio!”

Retornei para o meu quarto para os últimos rituais de superstição que, se em nada ajudam, por certo não atrapalham, e voltei para a sala. Posicionei-me no sofá e desabafei, nervoso: “Pai, não podemos sofrer gol cedo.”, no que ele me respondeu de imediato: “Não, não podemos é fazer gol cedo.” Arregalei os olhos e o encarei surpreso e até meio assustado, no que ele completou sua sentença profética: “Temos que levar o 0 x 0 até uns 30 do segundo tempo e, depois, fazer o gol.”

Até hoje, escrevendo essas palavras, me arrepio quando lembro. Logo o meu pai, tão discreto, tão contido que, para alguém menos atento, poderia passar um ar de indiferença, sentenciava com tanto otimismo, com tanta segurança, com tanta certeza uma vitória do Inter justamente na final da Copa do Mundo de Clubes, contra ninguém menos que o Barcelona! A sensação que senti naquele momento foi indescritível, mas posso afirmar pra vocês: fiquei ainda mais nervoso!

O jogo começa e a sua história todo mundo sabe. No intervalo, comentei que estávamos fazendo um baita papel, que o que quer que acontecesse na segunda etapa, não poderia apagar o belo desempenho que estávamos tendo. E algumas lágrimas de tensão escorreram pelo meu rosto. Mas ele me acalmou. Fez algo parecido com o que havia feito no Beira-Rio, meses antes, durante a emblemática semifinal entre Inter x Libertad (que jogo nervoso aquele!).

Eis que já sem Alex, Pato e Fernandão, a esperança de uma vitória nos pênaltis diminuía. Não bastasse isso, Índio já estava jogando sem nariz e o Gabiru estava em campo. Mas aos 36, o Iarley me puxa aquele contra-ataque, o Luiz Adriano abre pela direita e eu me levanto do sofá. Gabiru passa que nem um risco pela esquerda, eu dou um passo à frente e cerro os punhos. Galvão grita “Olha o gol! Olha o gol! Olha o gol!”, e é Inter 1 x 0 Barcelona.

Pulei em frente à TV, comemorei e, numa fração de segundos, me lembrei da profecia aparentemente despretensiosa do meu pai: levar o 0 x 0 até os 30 do segundo tempo e depois fazer o gol. Ao me virar, ele estava ali, em pé, vermelhinho igual à nossa camisa, igual ao nosso sangue, igual à nossa alma.

E duas crianças, uma de 30 e outra de 60 anos de idade, choraram e comemoram juntas, abraçadas, o gol e o título mundial do seu clube do coração!

Eu realmente, nunca me esquecerei dos dias que passei com o Inter. E o Inter é o meu clube, é o meu time, é a minha torcida, são os meus amigos e parentes colorados. Mas o Inter, pra mim, acima de tudo, é o meu pai!

Feliz Aniversário, pai! Tu és o melhor do mundo!

Na foto, meu pai conversa com o saudoso
Arthur Dallegrave, na festa de 99 anos do Inter.



25 Comentários:

Fernando Gonçalves disse...

Emocionante texto, Daniel !

Manda então um abraço e votos de muita saúde e felicidades para o profeta do teu pai.

Daniel Luis Costa disse...

Bonito...Saúde e vida longa ao teu pai.

Guilherme CB disse...

Que beleza Dani, sempre achei que tu era filho do Abel Braga, mas pela foto acho que me enganei.

Feliz aniversário para teu pai!!

Abraço.

col disse...

Show de bola mesmo, Abelão! Parabéns pro teu velho.

PS: Com a entrada do Vargas e a saída do Alex o time melhorou muito em ambos os jogos....kkkk

Jonatammm disse...

Col, é verdade. Mas isso não por que o Alex é ruim , e sim por que o Abel montou o time com F9 no meio, e Alex na função que o Tinga jogava. Alex é meia-atacante. Pode jogar somente como 4o. homem do meio ou segundo atacante.

Jonatammm disse...

Acabei de ver uma noticia no FINALSPORT que o Piffero foi se reunir com o secretário extraordinário do Gabinete Executivo da Copa de 2014, que pasmem, é PAULO ODONE!

PALHAÇADA TOTAL.

A menos que também haja um colorado ocupando um cargo equivalente, só posso lamentar profundamente tal fato.

col disse...

Jonatammm, meu comentário final foi sacanagem. Esse assunto já foi comentado e recomentado aqui uns 10.000 vezes.

João Luiz disse...

Emocionante Daniel. Parabéns ao seu Pai.
Minha escalação pro jogo de 5ª Feira;
LAURO
INDIO DANNY SORONDO KLEBER
MAGRÃO GUINA GLAYDSON
D'ALE
NILMAR TAYSON

Jonatammm disse...

Eu sei col, mas voce acredita nisso! Quantos gols o Vargas fez ano passado? Quantos de falta?

Não dá pra comparar jogadores diferentes. Os dois são bons, cada um na sua função.

Nelson - CONVERGÊNCIA COLORADA disse...

O problema é que o Alex só foi descobrir onde poderia jogar aos 27 anos !!!

Antes disto queria ser LE Seleção = f...o Inter em 2007 / 2008 = ficamos fora da LA2009


Mas,baahh Daniel, show de Crônica !

Parábens pro velho(os velhos sabem das coisas......rssss)

Schroder-EUA disse...

Muito Bom Daniel...sempre bom ler memorias do dia 17! E Feliz aniversario ao seu Pai!

cjr-sp disse...

Relato bacana.

Pena que tem um irmaozinho desgarrado...hehehehe.


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Sobre o jogo...íamos mal no primeiro tempo...na base da sorte e do clemer...mas aí Abelao viu que a cobra tava feia e chamou o homem que ia virar a história para o nosso lado, VARGAS, esse sim, e a partir daí passamos no segundo tempo a equilibrar e fazer eles sentirem o cutuco. Ainda bem que ALEX GRAN DODÓI saiu nos dois jogos no intervalo para que pudessemos ser campeoes.

geoband disse...

Q@#%&¨n wrth!?dq`{}

D'Ale não é bandido porra!!! É o 10indiscutível do Colorado.

E FORA TT!

Fabiano- POA-Germany disse...

Meus parabéns brou, pra ti e pro teu coroa. Como é bom ter um pai colorado né!!!
Grande abraço

Guilherme Mallet disse...

Convida teu pai para escrever aqui no BV, pelo visto, sabe mais que os sabidos daqui. hehehe.

Abraço e Parabéns para o teu pai!

Marco disse...

Parabéns para teu velho, Daniel!

Que o presente venha na quinta-feira, em forma de título!

Aliás, estou muito preocupado!
Já faz um mês e meio que não ganhamos nenhum título!

HAHAHAHAHAHA

rubensborges (rbfn04) disse...

Sobre pais e o Mundial:

Depois do jogo liguei pro meu pai (infelizmente não pude assistir com ele), o velho chorava feito uma criança, emocionante... eu? nem se fala, hehehe

Rossato disse...

Baita texto, Daniel! Parabéns pro teu velho!

Abraço!

Precisodevcakis2 disse...

Lindo texto Daniel!
A única coisa que senti falta estando em Toquio naquela noite de domingo foi não poder abraçar meu pai e agradecê-lo por ter me feito colorado.
A primeira coisa que fiz quando voltamos pro hotel foi ligar pra ele.

Gilberto Colorado do Brasil disse...

É bacana sabermos o quanto este sentimento clubístico que existe entre pais e filhos é profundo e emocionante. É claro que nem tudo é perfeito (Vide o irmão do Daniel). Mas nós, que somos filhos colorados de pais colorados; e, mais ainda, que somos, além de filhos, pais colorados de filhos colorados, como é o meu caso, e sei também que é o caso do Daniel, somos ainda mais abençoados e irremediavelmente felizes. Afinal estamos construindo três gerações coloradas, e isso nos enche de orgulho, porquê não?

Daniel Chiodelli disse...

Valeu, galera! Meu pai já andou lendo as congratulações de vocês aqui e agradeceu. Me emocionei também com alguns relatos aqui.
Agora vou lá, transmitir-lhe pessoalmente o baita abraço da galera do Blog Vermelho pelos 64 anos de vida colorada dele!

Joceli disse...

Bá Daniel, li somente agora o texto e além de me arrepiar enchi os olhos d'água. O final com certeza explica a razão da maioria de nós hoje estarmos aqui lendo este blog.

Aprendi com meu pai a ser colorado desde que nasci, e hoje aos 40 anos, também posso dizer:

"E o Inter é o meu clube, é o meu time, ... Mas o Inter, pra mim, acima de tudo, é o meu pai!"

GILSON - PR disse...

Parabéns ao seu pai e quando li o seu texto lembrei muito no meu saudoso pai, fazia um ano e meio que ele já havia falecido. No dia da grande vitória ainda lembro quando comentei com meu irmão mais velho que como seria bom se o pai estivesse ainda vivo para ver esta façanha;

Meu pai me ensinou ser colorado, como minha querida mãe, também falecida, contribuiu muito para que eu não saisse andando como uma banana de pijama.

Almilano disse...

Fala Dr. Chiodelli.

Parabéns pro véio, esse sabe muito. Realmente, ele é calmo afu, diria até que é um sábio, de tanta tranquilidade.

Manda os parabéns pra ele que além de tudo criou um filho que é gente fina e escreve muito, parabéns mesmo.

Abraço

Onassor disse...

Naquele dia eu chorei demais!!!
E quase chorei só de ler... lendo eu relembrei toda aquela história!
Parabens e abraço pro seu pai e pra todos os pais colorados...

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