sábado, junho 09, 2007

14 O inesperado, a invasão e o telefonema

Escrito por Diana Oliveira

Alguém imaginou que seria de goleada?

Ao sair da Cidade Baixa, fui pensando em dois à zero. Quando cheguei na Praia de Belas já ouvia os gritos da torcida, impressionante, só na final da Libertadores eu percebi a torcida de tão longe. À medida que fui me aproximando do estádio a comoção foi se intensificando e no momento em que parei na arquibancada tive a certeza de um bom jogo, mas nunca pensei em 4x0.

O Pachuca toca bem a bola, tomamos a posse quase sempre no desarme, mais pro fim do jogo eles foram cansando e entregaram uns passes, acho que o terceiro gol nasceu desse erro. Possuem bom entrosamento, rodam bem e se posicionam pro contra-ataque o tempo todo. Mas eles são baixinhos, os escanteios foram finalmente tranqüilos pra nós e o Sidney pode jogar com menos pressão. O colorado soube marcar com inteligência, muito bem postado em campo e até o destino esteve a nosso favor, não era jogo pro Fernandão. Os mexicanos são muito velozes e nesse tipo de jogo o Iarley se dá melhor. Claro que só tendo o gigante na área, no meio daqueles anões, já é meio gol de cabeça, mas acho que perderíamos em velocidade, pois o Capitão anda exausto e merece um descanso. Foi justamente o que me encantou nesse jogo, rapidez, há tempo não via isso e dedico o mérito ao articulador que destruiu, Pinga.

E por falar em méritos, também merecido o reconhecimento ao técnico Alexandre Gallo, penso que o time foi taticamente perfeito. Além disso, a opção da retranca escancarada no México foi atitude bastante questionável, mas deu certo. Talvez se o Sidnei ou Mineiro tivessem ficado no mano a mano com um daqueles ratinhos no contra-ataque, poderíamos ter tomado uma goleada, na seqüência do jogo desastroso com o Fluminense. Então garantimos um bom resultado, porém, num futebol ainda desesperador.

Por tudo isso é que foi inesperado, pelo recente histórico da equipe, o desfalque de última hora, a atuação do Pinga na segunda-feira contra o Náutico e pelo perigo do adversário. É, o Pachuca não se afirma como time consagrado e sim, perigoso. Esse jogo me lembrou os 3x0 contra o Nacional porque o Inter dominou a partida do início ao fim, sem chance ao oponente. Será um presságio? Aquele foi o primeiro jogo de uma temporada vitoriosa...

Depois da angústia vivida nos últimos meses, a vitória convincente distribuiu um efeito de alegria em exaustão pela arquibancada e o vacilo dos portões foi o convite à invasão. Muito se questiona nessas horas o conceito de civilizado e faz-se a comparação com outros povos. Pois bem, os Estados Unidos cultua publicamente o uso de armas de fogo, são extremamente bélicos. O que pra eles é quase status, pra nós é retrato de desigualdade social. Na Itália e Espanha são constantes os casos de discriminação racial, os torcedores não aceitam negros jogando futebol, sendo que estes são, em sua maioria, melhores atletas. Certamente nesses países não se vê invasão de campo, mas o termo civilizado acaba sendo contraditório.

O certo e o errado são definições que se valem pelo desejo da maioria, é o que proporciona o convívio em sociedade. Então acho errado invadir o campo, mas confesso que gostei, pelo fato de ser fora dos padrões. Acredito que não deva acontecer novamente, mas na hora me pareceu uma quebra de protocolo bastante calorosa. Eu fiquei observando os torcedores se espalhando pelo gramado, tinha até pai correndo de mão dada com filho. Todos os gordinhos, invariavelmente, correm de um jeito simpaticamente esquisito.

Reconheço o transtorno que causou à cerimônia. Impediu a volta olímpica. No momento em que os torcedores entraram em campo a polícia e segurança do estádio deveriam ter imediatamente protegido o palco e garantido a integridade dos jogadores. E os “papagaios de pirata” que subiram no tablado poderiam ter ficado no chão, afinal de contas somos todos coadjuvantes e só atuamos de forma determinante quando juntos, não em meia dúzia querendo aparecer na foto do título. Isso faz o restante passar vergonha.

Nos veículos de comunicação a correria no gramado não foi tratada como um ato de vandalismo, até onde acompanhei. A imagem repetida na tv foi a dos torcedores em cima da goleira e novamente confesso, achei bonito.
Invasão de campo após o jogo como feito comemorativo deve ser evitada, pelo bem da maioria, mas nunca repreendida como anti-civilizada. Estabelecer a regra é definir o bem comum, mas recriminar de forma bruta a alegria que extrapolou estas regras torna-se inversão de valores. Cuidado pessoal, nem todo incorreto é desprezível.

Por fim, o telefonema:
- Alô.
- Oi.
- Oi Glorinha, vem pra cá, tô te esperando, vou ficar um tempo de molho, tenho que me recuperar.
- Tô indo sim, avisei aqui em casa que fizemos as pazes.

14 Comentários:

Gonçalves disse...

Na verdade jogamos em cima dum monstro que foi criado naquele primeiro jogo lá no México, jogando defensivamente...neste do Beira Rio acreditava fiélmente num vitória, pois tinha quase certeza de que o Pachuca sucumbiria diante da torcida, um pouco pela pressão em cima deles e um pouco como um dopping para os nossos jogadores...e foi o que aconteceu, o mérito da força nos fez campeões, mas ainda há um sinal amarelo para os sucessivos erros de passes, tanto que por 3 vezes tentamos um olé que não passou de 4 toques..(lembro que no jogo aquele do Nacional ficamos de posse da bola diante de vinte e tantos toques, mas o que vale é o troféu e o título no currículo...e a esperança de que a atitude demonstrada possa suprir ou até mesmo dar tranquilidade para aos poucos consertarmos esses detalhes.

Schroder-EUA disse...

Diana...bonito no sentido estetico..de longe é bonito a invasão, mas o problema é que tragedias podem acontecer. E nem to falando de falta de volta olimpica.

Eu postei aqui ano passado uma inasao na Bahia em que a policia bateu pra matar...um cara levou um tiro de meta no nariz...e ele recem tinha entrado no campo.

A podio que os jogadores estavam quase dessabou por completo...imagina essa imagem para sempre o Clemer F9 e Iarley caindo 3 metros com a taça....

Aqui nos USA tambem INVADIAM campos mas isso acabou a 20 anos...e te garanto que a 20 anos isso tambem nao vai mais existir no Brasil. Em certas coisas o Brasil lidera..em outras corre atras...essa de organizaçao em estadio é um desses que corremos atras...Os esatdio Brasileiros no momento tao ainda no anos 60 em nivel mundial em termos de condiçoes e organizaçao.

Rodrigo de Araújo Rosa disse...

É Diana, concordo com o Louis.

Chegou a ver a câmera que tomaram do cinegrafista, após agredi-lo. Viu o que fizeram com os painéis dos patrocinadores? aquilo foi vandalismo! Arrancaram as flores da jardineira, pra quê!!! O Índio saiu machucado. Tem uma cena que aparece na TV, em que o Iarley tem que segurar firme a taça para não cair, e uma moça tentando arrancá-la das mãos dele, cena ridícula.

Eu não gostei, fiquei gravando toda essa barbaridade no final... Foi vergonhoso.

m.rodrigo.oliveira disse...

Achei constrangedora a imagem daqueles caras subindo no tablado tentando levantar a taça junto com o Iarley, o F9 e o Clemer. Fiquei na dúvida se não foi alguém do clube que teria aberto algum portão pra galera entrar. Pela TV era de assustar a imagem do Iarley tendo que sair quase fungindo do palco. Sinceramente, acho que estragou uma parte da festa.
Mas nada que tenha impedido de comemorar e muito a nossa conquista.
E por falar em conquista. O que falar do Clemer, quase quarenta anos. Depois da Libertadores, do Mundial e da Recopa, ele agora é o legítimo "Tríplice Coroa".
E Diana. No final das contas a gente só precisava mesmo que o Nando e a Glória fizessem as pazes.

Anônimo disse...

quanta enrolacao pra nao dizer nada.

astein disse...

muito legal o texto

diana oliveira disse...

hehe, é verdade maninho, agora reataram e espero q de vez. Louis e Rodrigo, se alguém me perguntasse, apoia invasão de campo? responderia q não, pelo que já afirmei, o bem da maioria.
Não sei se isso ficou claro, mas nem de longe quis fazer do meu texto um incentivo à invasão, se pareceu, acho q preciso editar... Só não sinto todo esse repúdio, acho q foi um fato isolado, não um reflexo de comportamento da torcida.
Gonçalves, isso dos passes me chamou atenção, eles erraram menos, mas eu acho q os mexicanos são rápidos e introsados. Percebi q é esse o jogo deles, roubar a bola e ir pra cima no contra-ataque. Toda vez q um deles interceptava o passe, já tinha outro buscando espaço no meio e um terceiro correndo pra receber na frente. Não deu certo pelo eficiente posicionamento defensivo do Inter em campo.

... disse...

Diana parabens!! Aquela era a festa do clube do povo!!! Acho que a festa foi bonita pena que alguns passaram da medida, mas apesar dos apesares a galera merecia e a festa mostra a todos que nós somos o clube do povo e o povo deve fazer parte da festa!!!!! Ninguem teve um comportamento agressivo foi apenas uma comemoração pacifica dos torcedores no palco da festa!!!

Ah e adivinhem quem vai ser chamado de macaco quarta?!

Unknown disse...

Falou tudo no que diz respeito a invasão, parabéns pelo texto, conseguiu expressar o que eu tentei e não consegui! A invasão foi linda e calorosa, como deve ser uma comemoração, só acredito que não pode haver tumulto com pessoas se machucando e depredação do patrimonio do clube.

Torcida tem que ser assim, não tem a menor graça comemorar um título com todo mundo em seus lugares batendo palma, isso pode servir nos EUA mas não serve aqui e nem nunca vai servir. Eu vou pro estadio pra sentir emoção mesmo, pra interagir de alguma maneira com o jogo, seja apoiando meu time, seja invadindo o campo quando o jogo acabar, não pra ficar sentado numa cadeira olhando um showzinho com fogos, palco, luzes, etc, senão iria a um teatro ou algo do tipo.

Nelson - CONVERGÊNCIA COLORADA disse...

Pois é Leonardo, a invasão teria que ser linda, oredeira, e democrática, só que quem não invadiu saiu lograda da festa pois não tivemos volta olímpica, etc...

Imagina se os 50.000 invadissem o gramado! A Festa tem que ser para todos que lá estiveram, se não dá para ser espontânea, tem que haver regras, não pode privilegiar poucos em detrimento da grande maioria.

Essa sua frase de que ´futebol tem que ser assim` está mais para ´tourada` ou ´farra do boi`.

A máxima sempre vale:
`A sua liberdade termina quando começa a liberdade do outro`.

Imagina, Leonardo, as pessoas irem assitir uma luta de box, como seria a comemoração, lutas entre as torcidas ?

É emocionante, é, mas o futebol somos simples torcedore, pois noutro dia tem trabalho, tem a família, temos responsabilidades, etc...

Também sempre digo ao meu filho, futebol é maravilhoso, mas quem ganha com o futebol são os profissionais, portanto, além da tristeza ou alegria que fazem parte do jogo, não deveremos ter qualquer perda pessoal no futebol, não vale a pena...

Sds

Guilherme Mallet disse...

A invasão, da forma que ocorreu, não foi por um defeito do Estádio. Sejamos justos, pouco o Beira-Rio dessa culpa.

Pode-se ter o estádio mais moderno do mundo, mas se não houver pessoas qualificadas para o evento esportivo o resultado é esse.

Abriram o portão para uns repórteres, e um grupo de uns 20 foram atrás. Aí surgiu o tumulto. Os seguranças ficaram segurando, mas uma massa vinha atrás. Fizeram então, o que melhor poderiam ter feito: liberaram. Sim, pq caso contrário haveria esmagamento, feridos, talvez mortos. O que seria péssimo para o Beira-Rio e, acreditem, causaria MUITOS danos para a imagem do Clube.

Agora, quem subiu no palco é realmente retardado. Assim como o cara que subiu junto com o Gabirú na saida do vestiário. Querendo aparecer no jornal dividindo espaço com um dos heróis daquele ano.

POR FIM, QUESTIONO O SEGUINTE:

E a invasão consentida de "vips" na recepção do Mundial? Estragaram o evento da mesma forma. Quem, como eu, ficou lá dentro num calor de 40 graus e depois não conseguiu ver taça, jogadores, nem nada, sabe do que estou falando. Isso que eu estava na Social, imaginem que estava na Superior torrando no Sol! Frustração total. Basta ver nas imagens que ainda havia jogadores no gramado, mas a superior já estava vazia.

Edu disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Edu disse...

o mallet falou tudo. ninguem lembra que no mundial houve invasao. houve volta olimpica mas nao dava para ver nada. eu pude ver poucos jogadores.

naquela ocasiao, a centena de otarios que estavam no gramado estragou a festa.

diana oliveira disse...

é verdade eduardo, tenho q admitir, não me lembrava disso.

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