Escrito por Diana Oliveira
Alguém imaginou que seria de goleada?
Ao sair da Cidade Baixa, fui pensando em dois à zero. Quando cheguei na Praia de Belas já ouvia os gritos da torcida, impressionante, só na final da Libertadores eu percebi a torcida de tão longe. À medida que fui me aproximando do estádio a comoção foi se intensificando e no momento em que parei na arquibancada tive a certeza de um bom jogo, mas nunca pensei em 4x0.
O Pachuca toca bem a bola, tomamos a posse quase sempre no desarme, mais pro fim do jogo eles foram cansando e entregaram uns passes, acho que o terceiro gol nasceu desse erro. Possuem bom entrosamento, rodam bem e se posicionam pro contra-ataque o tempo todo. Mas eles são baixinhos, os escanteios foram finalmente tranqüilos pra nós e o Sidney pode jogar com menos pressão. O colorado soube marcar com inteligência, muito bem postado em campo e até o destino esteve a nosso favor, não era jogo pro Fernandão. Os mexicanos são muito velozes e nesse tipo de jogo o Iarley se dá melhor. Claro que só tendo o gigante na área, no meio daqueles anões, já é meio gol de cabeça, mas acho que perderíamos em velocidade, pois o Capitão anda exausto e merece um descanso. Foi justamente o que me encantou nesse jogo, rapidez, há tempo não via isso e dedico o mérito ao articulador que destruiu, Pinga.
E por falar em méritos, também merecido o reconhecimento ao técnico Alexandre Gallo, penso que o time foi taticamente perfeito. Além disso, a opção da retranca escancarada no México foi atitude bastante questionável, mas deu certo. Talvez se o Sidnei ou Mineiro tivessem ficado no mano a mano com um daqueles ratinhos no contra-ataque, poderíamos ter tomado uma goleada, na seqüência do jogo desastroso com o Fluminense. Então garantimos um bom resultado, porém, num futebol ainda desesperador.
Por tudo isso é que foi inesperado, pelo recente histórico da equipe, o desfalque de última hora, a atuação do Pinga na segunda-feira contra o Náutico e pelo perigo do adversário. É, o Pachuca não se afirma como time consagrado e sim, perigoso. Esse jogo me lembrou os 3x0 contra o Nacional porque o Inter dominou a partida do início ao fim, sem chance ao oponente. Será um presságio? Aquele foi o primeiro jogo de uma temporada vitoriosa...
Depois da angústia vivida nos últimos meses, a vitória convincente distribuiu um efeito de alegria em exaustão pela arquibancada e o vacilo dos portões foi o convite à invasão. Muito se questiona nessas horas o conceito de civilizado e faz-se a comparação com outros povos. Pois bem, os Estados Unidos cultua publicamente o uso de armas de fogo, são extremamente bélicos. O que pra eles é quase status, pra nós é retrato de desigualdade social. Na Itália e Espanha são constantes os casos de discriminação racial, os torcedores não aceitam negros jogando futebol, sendo que estes são, em sua maioria, melhores atletas. Certamente nesses países não se vê invasão de campo, mas o termo civilizado acaba sendo contraditório.
O certo e o errado são definições que se valem pelo desejo da maioria, é o que proporciona o convívio em sociedade. Então acho errado invadir o campo, mas confesso que gostei, pelo fato de ser fora dos padrões. Acredito que não deva acontecer novamente, mas na hora me pareceu uma quebra de protocolo bastante calorosa. Eu fiquei observando os torcedores se espalhando pelo gramado, tinha até pai correndo de mão dada com filho. Todos os gordinhos, invariavelmente, correm de um jeito simpaticamente esquisito.
Reconheço o transtorno que causou à cerimônia. Impediu a volta olímpica. No momento em que os torcedores entraram em campo a polícia e segurança do estádio deveriam ter imediatamente protegido o palco e garantido a integridade dos jogadores. E os “papagaios de pirata” que subiram no tablado poderiam ter ficado no chão, afinal de contas somos todos coadjuvantes e só atuamos de forma determinante quando juntos, não em meia dúzia querendo aparecer na foto do título. Isso faz o restante passar vergonha.
Nos veículos de comunicação a correria no gramado não foi tratada como um ato de vandalismo, até onde acompanhei. A imagem repetida na tv foi a dos torcedores em cima da goleira e novamente confesso, achei bonito.
Invasão de campo após o jogo como feito comemorativo deve ser evitada, pelo bem da maioria, mas nunca repreendida como anti-civilizada. Estabelecer a regra é definir o bem comum, mas recriminar de forma bruta a alegria que extrapolou estas regras torna-se inversão de valores. Cuidado pessoal, nem todo incorreto é desprezível.
Por fim, o telefonema:
- Alô.
- Oi.
- Oi Glorinha, vem pra cá, tô te esperando, vou ficar um tempo de molho, tenho que me recuperar.
- Tô indo sim, avisei aqui em casa que fizemos as pazes.