---
Estava lendo uma lição do livro "Yoga para nervosos", de José Hermógenes (fica a dica, pois é um livro fantástico), quando me deparo com uma citação que ele faz de uma frase do evangelho, em que Cristo dizia "Onde está o seu tesouro, aí está seu coração". Frase sábia. Como todas as que Cristo deixou (e, aqui, meu respeito a quem é ateu). Fiquei refletindo sobre essa frase em relação à minha vida, claro, mas também em relação ao Inter.
Há muito que eu questiono os valores e princípios éticos que movem nosso clube, assim como muitos leitores aqui. Onde está o "tesouro" do Inter (em se tratando de futebol)? Não está na torcida, decerto. Afinal, apesar de um trabalho um pouco acima da média, em relação a outros clubes brasileiros, o tratamento dado ao torcedor colorado (não-sócio e, pior ainda, aos sócios) é muito precário (conforto no estádio, estacionamento, etc.). Quando vemos um dirigente dizer que "torcedor torce", temos a certeza de que não, a torcida não é o tesouro do clube (pelo menos para as últimas gestões).
Seriam então as categorias de base, o "celeiro de ases"? Bem, até que poderia ser. Afinal o clube está sempre cantando as conquistas dessas categorias aos quatro ventos, sempre ressaltando-as. Mas quando olhamos para o time profissional e vemos a escassez absoluta de bons jogadores formados na base, temos que desconfiar. Sim, temos um ou outro grande talento que surge e é rapidamente vendido. Mas isso é muito pouco para configurar nosso "tesouro". Se fosse, certamente teríamos menos carências no time profissional.
Eu poderia conjecturar outras possibilidades, mas vou me arriscar e afirmar que o "tesouro" do Inter está nas negociatas com empresários. Talvez fosse mesmo inevitável, vá saber. Mas a verdade é que o Inter é hoje refém de empresários, inclusive, cogita-se, empresários-ex-dirigentes. Não vou citar os vários casos, pois são notórios. Não podemos demitir, não podemos escantear ou punir seriamente, somos obrigados a fazer contratos longos e caros com jogadores de rendimento duvidoso, temos "promessas" a manter e assim vai. Por conta disso, nosso "coração" não está mais no futebol em si e nem na busca de títulos. Nosso "coração" está em fazer dinheiro para empresários, pois aí está o tesouro do Inter. E se isso for possível sem o trabalho de ter que conquistar títulos e atender bem ao torcedor, é certo que a direção assim o fará.
Mas, como dizemos muitas vezes, o Inter é maior que tudo isso. Hoje, dirigentes, empresários e jogadores fazem o que querem com o Inter e se sentem no direito de "fazer um favor" à torcida, vencendo alguns títulos. Uma lástima (né, Kate?)...
Quem sabe um dia o clube possa escolher algo mais nobre como seu "tesouro" e ali, enfim, colocar seu coração, ou seja, seu empenho e trabalho.
