sexta-feira, agosto 31, 2012

Gênios

Ele tinha certeza que aquilo era uma revelação. "Genial, genial", repetia para si mesmo, com um largo sorriso nos lábios. À sua frente, dois jogadores disputavam uma partida equilibrada de um jogo que ele não conhecia, embora o tabuleiro ele reconhecesse por ter jogado dama muitas vezes, com umas poucas vitórias contra seus sobrinhos mais novos. Os jogadores demoravam-se em cada jogada, deixando transparecer em seus rostos suas dificuldades mútuas. "Está claro que essa rigidez das peças está prendendo o jogo, ele não flui", refletia. Ele não tinha ouvido falar das particularidades do xadrez, não conhecia o jogo, muito menos os movimentos específicos de cada peça e as estratégias, e tinha dificuldades em compreender o que se passava.

 
"É muito complexo ter que lidar com os movimentos particulares de tanta peça diferente e pra quê?", se perguntava perplexo. Ainda assim ele percebia que os jogadores estavam se divertindo, apesar das fisionomias concentradas e levemente sisudas. Sem compreender como isso era possível, pensava "Tenho certeza que estariam se divertindo muito mais se o jogo fosse mais simples. É isso mesmo, basta ser só o Rei e o resto composto por peões. Uma mistura de dama com isso aí". "Aliás, qual será o nome desse jogo chato aí?". Perguntou a uma criança a seu lado, que surpresa lhe disse, "Ué, é xadrez, óbvio!", balançando a cabeça negativamente. Ele não ligou, afinal era uma criança e crianças são assim mesmo, não respeitam os mais velhos.

Na sua cabeça havia um problema a resolver: era preciso simplificar o jogo, que assim fluiria melhor. Ao invés de um jogo estático e entediante, ele queria um jogo em que as peças fossem menos especializadas, capazes de atuar em qualquer posição. Ele observava atentamente o jogo, estava fascinado pela ideia que crescia em sua mente. Ele já tinha uma peça preferida: o peão. De movimento simples e numerosas, elas o faziam pensar por quê não ter mais delas. "Puxa, imagina? Bastava o Rei, que ficaria lá no seu lugar, paradinho, observando, como um general comandando um exército de peões, que percorreria todo o tabuleiro, prontos para tudo para proteger seu rei. O jogo fluiria, fluria!", se empolgava. "Talvez fosse mais difícil vencer", refletia, "mas também seria muito mais difícil perder, com certeza!".

 
Começou a testar seu novo jogo, tanto contra oponentes da dama, como contra oponentes seguindo as regras do xadrez. Por alguma razão, que ele não compreendia, ele não conseguia vencer as partidas e o jogo não fluía como ele esperava. "Será um problema com o tabuleiro?", pensava. Tentou também outras inovações, voltando a usar as peças do chadrez, mas mudando as posições dos cavalos, bispos, etc., fazendo um jogar na posição do outro, mas nada deu certo. Por fim, depois de mais algumas tentativas frustradas ele desistiu de sua invenção e resolveu que podia ser uma boa aprender a jogar xadrez. Claro que, se fosse muito difícil, ele podia voltar a apenas observar o jogo, como fazia antes, ao que parece, para o bem de todos.