O episódio da zona de conforto dá brecha a múltiplas interpretações. Através de um certo raciocínio lógico, vamos entrar no campo das suposições.
É fato que roupa suja se lava em casa. É o que também se chama de problema de economia interna.
O treinador, com duas décadas de experiência, sabe muito bem como o boleiro pensa e entende muito bem os meandros de um vestiário, especialmente o colorado. Portanto, a linha de ingenuidade e amadorismo não me convence.
Em suas próprias palavras em tal ocasião, o mesmo mencionou que tentou várias alternativas: falar por bem, ser amigo; tentou levantar a voz, ser rígido e cobrar profissionalismo; ora paternal, ora linha dura, nada funcionou.
Supomos então que a cobrança pública foi calculada, premeditada, uma espécie de “vai-ou-racha”.
É possível supor também que há insubordinação. E obviamente, falta de respaldo dos altos escalões do futebol colorado.
Fernandão, sujeito de caráter que é, falou o que todo colorado no momento pensava. E que alguns dirigentes mentiam para si mesmo recusando-se a enxergar a verdade em tal linha de pensamento.
Em síntese, atingiu-se uma bifurcação: os jogadores, fazendo um público mea-culpa davam a resposta em campo, enfileiravam vitórias e terminavam o ano de forma digna… ou a situação desandava de vez, com o ano terminando prematuramente, a melancolia reinando e salve-se quem puder.
Note que não havia alternativa em que a continuidade de Fernandão fosse viabilizada.
O rompimento público com seus subordinados é insolúvel, e infelizmente, a alternativa mais provável (e dolorosa) foi a que seguiu seu curso, com o clube amargando três derrotas consecutivas, desempenhos insatisfatórios e uma depressão colorada coletiva.
Eu - e aqui já prevejo as pedras que a mim vão ser atiradas - tiro disso uma única conclusão.
Fernandão, em uma manifesta demonstração de caráter, se autointitulou bode expiatório.
A ele, não faltou hombriedade, e foi o único a mostrar indignação e inconformidade. Seu único objetivo foi obter uma resposta, uma reação.
A sua “recompensa”, entretanto, foi uma direção que não lhe deu respaldo, que lhe isolou e que apela para o mesmo discurso conciliatório de sempre; e é claro, um grupo de jogadores que, milionários e descomprometidos - mas com altos salários em dia - não conseguem honrar o manto colorado.
Depois da autoimolação de F9, a quem falta conhecimento e experiência para comandar o clube neste momento – mas não falta caráter - o ano de 2013 passa pela contratação de um treinador cujo perfil é diametralmente oposto.
No entanto, acima de tudo, 2013 passa pela dispensa de medalhões e generais, pela limpa de qualquer vestígio de “panela” e insubordinação no vestiário, e primordialmente, pelo abandono de um modelo onde o departamento de futebol serve como trampolim político de indivíduos em detrimento do SCI.
Temos fortes e manifestos indícios de uma descendência do clube, que vem ocorrendo desde 2010 e continua-se acentuando, e um cenário próximo à fatídica década de 90 assombra cada vez mais os colorados.
O problema é que, fica difícil ficar esperançoso quando as medidas, imperativas, já deviam estar em curso, mas opta-se por esperar o Brasileiro acabar (ainda não acabou?) e o planejamento (têm?) já começa defasado.
Aliás, haverá alguma indignação?