Esta não é a bunda dela, mas ilustra bem. |
E por que razão trago essa história aqui? Bem, além de relembrar dos tempos do Rafael Severo, essa triste história de amor nos permite tirar uma lição. Quantos de nós, como essa moça, colocam toda sua "auto-estima" naquilo que tem? "Ter" aqui tem um sentido amplo, pois pode ser algo diretamente possuído ou indiretamente, quando possuído por algo ou alguém com o qual a pessoa se identifica. Há muita gente como ela: acreditam que são a própria bunda, se orgulham dos prêmios que ela ganha e dos "amigos" que sua bunda tem, permanecendo elas mesmas no anonimato.
A bunda assume diversas formas. No caso do futebol, para uns é o estádio. "Seu estádio não é tão grande como o meu!", bradam eufóricos. Reparem no "meu", um exemplo clássico de "posse indireta". Outros gritam "Ah, nossa torcida é a maior!", "Temos 583 títulos!", "Temos um elenco de estrelas!", "Nosso técnico é X", e assim vai, todos colocando sua auto-estima naquilo que pensam possuir, com a frustração logo ali, aguardando na sombra e tomando seu chimarrão, enquanto os desavisados seguem alegres em sua direção.
No fim, vão terminar frustrados e o gajo ainda irá se despedir com um "Não és nada má... Já tive muito pior e a pagar".
O Inter não é seu estádio. Nem Falcão, nem Dalessandro ou Fernandão. Não é Dunga. Não é Carvalho, nem Luigi. O Inter não é seus títulos, nem seus fracassos. O Inter não é o tamanho de sua torcida. Nada que o Inter tenha deve dimensionar seu tamanho, pois o Inter não é uma coisa.
O Inter é uma visão. É um jeito de jogar, de formar seus ases, de fazer futebol.
Se se esquecer disso, o Inter vai comprometer seu futuro, no anseio imaturo de ter, ter e ter. Não é preciso sair de Porto Alegre para ver um exemplo recente de onde isso leva. Alguns torcedores (né, Marco e CJR!) chegam a sugerir que o Inter deveria fazer qualquer loucura financeira para contratar jogadores de ponta e disputar títulos ainda este ano.
Permitam-me discordar. O Inter precisa é decidir um rumo certo e trabalhar com calma, inteligência e determinação. Precisa ser uma visão.
Dunga e Paulo Paixão apontam para uma visão: ambição e sacrifício. Dunga quer um time com preparo físico, marcação forte, passes rápidos e jogo vertical. Está trabalhando para isso, com as peças que tem. Se são insuficientes para conquistar títulos, não importa, pois isso é passageiro. Se a visão for mantida e todos (clube e torcida) a abraçarem, as peças certas começarão a chegar naturalmente. Será mais fácil identificar os jogadores apropriados ao sistema de jogo. Todos os nossos erros de contratação resultam (quando não por influência de empresários) da falta de uma visão clara de jogo.
É como dizem, para quem não tem rumo definido, nenhum vento serve (ou qualquer vento dá no mesmo).
Lembrem-se: há uma mulher na foto. |