"Às vezes, encontramos o nosso destino pelo caminho que tomamos para evitá-lo."
Talvez esta frase passe batida para a maior parte das pessoas, mas o fato é que ela é genial. Ocorre que foi exatamente a visita de Zeng à prisão que, alterando a rotina da mesma, tornou possível a fuga de Tai Lung. Para mim, esta frase se relaciona a um quase clichê da psicanálise que prega que ao negar algo, você o afirma ainda mais. Linguisticamente isso fica ainda mais evidente, pois uma sentença com negação, como "Eu não quero sofrer", contém a assertiva respectiva, no caso, "Eu quero sofrer".
Não é incomum na vida situações em que quanto mais tentamos fugir de algo, mais o atraímos. É como a velha cena do "Jason" (olha a velhice aí!) caminhando lentamente e sempre alcançando suas vítimas, embora estas corram como loucas.
No futebol, penso que a ideia de "grupo fechado" traz em si não apenas a virtude, mas também a armadilha. Bons técnicos tem a qualidade de unir seu grupo, torná-lo coeso e comprometido. Em geral, isto é festejado por todos como uma excelente qualidade. E de fato é.
O problema é que esta qualidade é apenas um lado da moeda.
O outro lado é que, estando o grupo fechado, dirigentes e mesmo o técnico ficam reféns dos elementos do grupo, passando a ter cada vez mais dificuldades para mexer no grupo, para fazer modificações e, principalmente, para incluir novos elementos.
E quando este grupo consegue bons resultados, aí é que a coisa piora muito.
Exemplos? Por quantos anos o Inter pagou o preço de ter um grupo fechado em 2010? Quanto (em tempo e dinheiro) custou para remodelar o grupo? Quantos treinadores e dirigentes foram queimados nesse processo? Vejam o Barcelona no momento atual também. Mesmo levando em conta a ausência de um treinador realmente acima da média, está claro que um dos maiores problemas do clube é a renovação do time, que envelheceu, encareceu e tem medalhões quase intocáveis. E, agora, vai pagar o preço de ter tido um excelente grupo fechado, até que os dirigentes e técnico consigam renovar o elenco.
Não estou dizendo que é fácil e nem sei qual seria um possível caminho para solucionar isso. Talvez, seja mesmo inevitável. Ou, talvez, contratos por produtividade e com prêmios por metas alcançadas. Isso poderia servir como impulso para mudanças mais rápidas, quando os resultados deixassem de vir.
Enfim, para concluir, minha preocupação com o atual grupo fechado do Inter é que isso pode tornar quase impossível trazermos jogadores melhores para certas posições, como por exemplo a de centro-avante. Pode ser que fiquemos reféns de Moura e W. Paulista até o fim do campeonato, mesmo naufragando, apenas para que o grupo se mantenha "fechado".
Ou seja, fechando o grupo no intuito de vencer o campeonato, corremos o risco de perdê-lo exatamente por isso.