segunda-feira, outubro 22, 2012

Colorado

Ao pensar sobre o que escreveria neste estimado espaço, encontrei-me quase sem opções.

Não gostaria de voltar a falar de política, não porque não seja importante (justamente o contrário), mas pretendo evitar um assunto que ainda está no campo de definições, onde sequer candidatos e planos de campanha foram elaborados e além de tudo, o assunto já foi abordado com maestria ao longo dos últimos dias.

Falar sobre o time, os problemas e tudo que envolve o futebol também parece um exercício de repetição, e me parece claro que a única missão é terminar o ano da maneira menos indigna possível, conformando-se com a Sulamericana e uma temporada infrutífera.

Por fim, pensei em assuntos alternativos, como as obras de nosso estádio, o domínio do eixo RJ-SP no campeonato de pontos corridos, a anunciada “espanholização” do futebol nacional entre outros…

No fim das contas, pensei no que leva a tornar o nosso sentimento pelo clube uma verdadeira paixão. Não dependemos economicamente, e mesmo assim, muitas vezes nosso humor e estado de espírito parece totalmente condicionado ao rendimento do clube.

Minha noiva sempre pergunta a mim – um fanático por futebol – o que eu ganho com tamanha devoção.

Pensei, divaguei, e cheguei a conclusão que é difícil encontrar uma resposta lógica e coerente. Em contrapartida, existe um dito(muito verdadeiro) que diz que o homem (mulher) pode trocar de esposa(o), de carro, de apartamento, de trabalho e até mesmo os seus hábitos mais enraizados – no entanto, vai morrer abraçado ao mesmo time por toda sua vida.

Como se torna e o que é ser colorado?

Eu nasci em 1983, em Passo Fundo, Rs. Aos 4 anos eu não entendia e muito menos compreendia o que era futebol.

Em um determinado domingo, lá pelas bandas de 1987, apenas pude – na ínfima compreensão que uma criança de determinada idade possui – constatar que não se tratava de um dia qualquer. Meu pai, então com seus 25 anos estava agitado, parecia nervoso.

Acabei, ao longo do dia, por me deparar com ele, de cuia de chimarrão na mão, assistindo algo na televisão, algo aparentemente importante.

Em um dado momento, a televisão fez o meu pai ficar brabo, chateado, irritado. Mas continuei a me preocupar com o que qualquer infante fazia na época – brincar despreocupadamente. Eu não entendia o que estava acontecendo.

Depois de alguns (sabe-se quantos) minutos o mesmo deu um grito de felicidade. E mais outro. E depois de um tempo que não soube precisar, aparentemente o assunto importante estava encerrado, e meu pai batia na mesa e celebrava.

Num passar de poucos minutos, a pequena cidade de Casca, com 6 a 7 mil habitantes e onde eu morava na época, estava tomada por uma profusão de carros e camisas rubras, um sorriso estampado na cara de centenas de pessoas que trajavam um vermelho sangue e cuja felicidade não cabia no mundo.

Eu nunca entendi o que estava acontecendo na sua plenitude.

Mas naquele momento – após a vitória colorada no Grenal do século, que passava pela TV – contagiado pelo mar vermelho e por uma emoção coletiva que jamais tinha visto antes e que ainda hoje julgo indescritível, naquele exato momento, foi o instante em que me tornei colorado.

Simples assim.

Um caminho sem volta.

De rompimento e reconciliação, de promessas e juras de amor, de sentimentalismo à flor da pele.

Ainda hoje, assim como naquele dia, eu não consigo explicar em palavras o sentimento que é torcer por este time.