O título do post remete ao que eu pensei, assim que a goleada do Bayern sobre o Barça começou a se desenhar, na terça passada. Há tempos atrás, escrevi um texto (aqui) sobre o que eu considerei "um novo paradigma no futebol" implantado pelo Barcelona. Segue abaixo os critérios que me fizeram afirmar isso:
Quanto ao jogo, muito já se falou, mas vou enfatizar alguns pontos: (i) uma filosofia absolutamente coletiva, em que nenhum jogador é "peça fundamental" e em que cada individualidade é potencializada pela atuação conjunta; (ii) o ritmo é o mesmo do início ao fim, não existe o conceito de "segurar resultado", no sentido de evitar o jogo; (iii) não existe posição fixa do meio pra frente, mas apenas áreas de atuação: todos devem ser capazes de concluir a gol e de participar do ataque; (iv) a movimentação dos jogadores é muito semelhante a de esportes como o basquete, com triangulações recorrentes e contra-ataques velozes em que sempre dois jogadores abrem totalmente para os lados; (v) os passes são como no futebol de salão: quase que na totalidade são rasteiros e curtos, com o jogador recebendo em movimento; e (vi) nenhum jogador pega a bola parado e sai driblando em direção ao ataque: dribles ocorrem com o jogador também já em movimento, o que dificulta a marcação e torna o drible mais objetivo.É assim que eu vejo o futebol praticado pelo Barcelona e que considero ser eficiente o suficiente para mantê-los no topo (ou quase lá) indefinidamente. Aí vem a pergunta: se é assim, como explicar a derrota vexatória para o Bayern? Obviamente, o "futebol 2.0" não é perfeito e pode ser desenvolvido. Além disso, há outros fatores, tais como, por exemplo, a soberba. Além da qualidade enorme do Bayern, o Barça perdeu daquela forma por limitações do seu jogo, pelo mau momento de alguns jogadores, especialmente Messi, e por falta de um bom treinador. Vamos considerar um pouco de tudo isso, já que me interessa muito que o Inter trabalhe em direção a um futebol bem jogado.
Limitações. Esse paradigma de futebol, em que a posse de bola é um dos principais objetivos, acaba por levar o time a "desaprender" a marcar, visto que isso pouco ocorre em situações de jogo a valer. Quando digo "marcar", me refiro especialmente à marcação quando o adversário está atacando-o de fato, o que é muito diferente daquela marcação voltada para a retomada rápida da bola, ainda no campo do adversário ou no meio-campo. O Barça faz muito bem a marcação para a retomada, mas sua marcação em situações do ataque adversário é risível, para dizer o mínimo. Para mim, essa é a principal limitação do paradigma e para superá-la é preciso que os treinamentos coloquem o time artificialmente em situações de contra-ataque e pressão adversária. Assim, mantém-se alto o "tônus" marcador do time.
Soberba. Esse fator leva a vários problemas. Um deles, é passar a acreditar, dado o sucesso do time, que se é imbatível, mesmo estando fora de suas melhores condições e sem contar com grandes jogadores ou comissão técnica. O Barça mostra tudo isso, atualmente. Seu desempenho no espanhol, apesar dos problemas do time, prova a eficiência do paradigma. Porém, o Barça fez (e quer fazer) parecer que o papel de Guardiola no time era meramente de escalar o time, como se o técnico não fizesse diferença. Daí, eles tem insistido com Tito Vilanova, que já mostrou ser apenas um "Osmar Loss" com grife, pois ficou evidente nesta e noutras partidas, que ele simplesmente não sabe o que fazer para mudar o panorama de um jogo do Barça, não prepara alternativas de jogo para o time e não tem cacife para barrar o Messi, mesmo estando baleado. Além disso, o Barça começou a acreditar que qualquer jogador pode fazer qualquer função no time, montando uma zaga ridícula, praticamente sem jogadores especialistas na posição. Pois o Barcelona está enganado. É preciso sim ter ótimos jogadores em cada função e é ainda mais necessário ter alternativas para mudar o panorama do jogo, especialmente quando o adversário usar a tática de se defender e sair no contra-ataque. É preciso saber oferecer o jogo ao adversário, incentivá-lo a acreditar e se abrir, enfim, é preciso atraí-lo, coisa que o Barça não faz nunca.
Futebol "reloaded". Por outro lado, vejo o Bayern buscando exatamente praticar o novo paradigma, mas atualizando-o, de modo a contar também com as virtudes do paradigma anterior, numa fusão que, até o momento, tem se mostrado magnífica. Alterna um jogo de posse de bola e ataque baseado em tabelas para entrar na área com um jogo baseado em jogadas de linha de fundo e cruzamentos. O time é alto, forte, possui ótimos jogadores em cada função, busca também manter a posse de bola mas, o mais importante, sabe muito bem jogar sem ela, sabe atrair o adversário, marcando bem atrás e saindo em grande velocidade. Obviamente, esse sistema também não é perfeito e o Chelsea inclusive os venceu ano passado, fazendo o mesmo que eles fizeram ao Barça essa semana. Espero que o Bayern tenha aprendido a lição daquela vez. E, claro, seja Barça, seja Bayern, etc., todos precisam de bons jogadores e de um time compromissado. Tão importante quanto: um bom técnico.
Gostaria que nosso Inter mirasse essa direção também e acredito que poderíamos fazer grandes evoluções, apesar das carências. Técnico e comissão, na minha opinião, nós temos e devemos valorizar, para mantê-los aqui o máximo possível. Falta trabalhar o time nessa direção e ir contratando cirurgicamente jogadores para reforçar o grupo. Guardadas as proporções, dá pra chegar longe.