sábado, dezembro 08, 2012

Abandonado

Não é uma tarefa fácil admitir e aceitar que o ser humano em geral ainda é um ser (muito) abaixo da crítica. Mas é preciso. É preciso que entendamos que por enquanto e por muito tempo ainda teremos que conviver com a ganância, a desonestidade, a malandragem, a intolerância, a idiotice, a violência, enfim, essas e as demais mazelas que impedem nosso mundo (o mundo humano) de brilhar como poderia, dado o incrível trabalho de inúmeras pessoas através da história. O ser humano já fez muita coisa boa incrível, inacreditável mesmo. Mas o outro lado da moeda ainda ocupa tanto espaço que ofusca boa parte desse belo trabalho.

O Inter poderia brilhar muito mais. Uma pena, não é? Nosso clube poderia estar já a anos-luz de distância dos demais clubes brasileiros, se tivesse simplesmente dado sequência e levado a sério aquilo que iniciou lá pelos idos de 2000 e que teve o ápice em 2006. Um belo trabalho dessas gestões, não foi? Não apenas pelos resultados em campo, aliás, não mesmo. O mais bonito foi ver como o Inter se destacou dentre a mediocridade reinante no país. Como se tornou modelo de gestão, como sua marca tinha passado a ser respeitada. Para mim foi uma grande emoção ver o clube atingir a marca de 100 mil sócios. Que conquista!

Dentro de campo, como era bom ver aquele time jogar. Que belo futebol apresentava o Inter, mesmo não tendo jogadores badalados. Jogadores que hoje seriam chamados apressadamente de "nabas", cresceram junto com o clube, simplesmente por que em todos os níveis o trabalho no clube era sério. Não tenho dúvida alguma de que mesmo nesse período já ocorria muito dos problemas que vemos hoje. Havia empresários, havia negociatas, havia laranjas, havia aspones, etc. Mas sua ação não era maior que o trabalho bem feito. Nesse período, o que o clube tinha de melhor sobressaía ao que tinha de podre.

Infelizmente, após 2006, algo mudou nas pessoas dentro do clube. A última coisa que eu gostaria aqui era de ter que apontar o dedo para este ou aquele dirigente, jogador ou funcionário, por desconfianças de toda espécie. Pelo contrário, eu gostaria de ter na memória apenas imagens como aquela do Carvalho dançando na final de 2006, feliz demais pela conquista do Inter. De repente, no entanto, me vejo em conflito, com esta imagem do Carvalho competindo com a imagem de um empresário/investidor/parceiro/ou-que-nome-quiser que, ao que tudo indica, tem se beneficiado à custa de prejuízo ao clube. Se é verdade ou não, não sei, mas há muita fumaça, infelizmente. Carvalho é apenas um exemplo, o mais eloquente, sem dúvida, mas só um exemplo. E, claro, só um ser humano. Nem santo, nem demônio. Nem herói, nem vilão.

E por "prejuízo" não me refiro, como parecem pensar vários leitores do blog, a títulos. Títulos são coisas imponderáveis. Nunca se pode garantir a conquista de um título. O prejuízo a que me refiro é muito maior que não conquistar títulos: é a perda da credibilidade. O Inter está perdendo sua credibilidade, não apenas junto ao torcedor, mas junto à opinião pública em geral e junto aos demais clubes. De repente, a imagem do Inter é aquela de um clube que apenas deu sorte. Como um grande goleiro que de repente começa a cometer frangos aqui e ali, até perder toda a auto-confiança e o respeito dos demais. Assim é o Inter hoje. É nisso que ele tem sido transformado.

Um clube em que já se falou em 200 mil torcedores, hoje está certamente rezando para manter uns 80 mil. Um clube que deixou a seriedade de lado. Que lava roupa suja em público. Que vaza informações a torto e a direito. Um clube que foi abandonado por quem foi escolhido para conduzi-lo. Sim, abandonado. Se esse abandono foi por interesses escusos ou por falta de auto-crítica ou preparo, eu não tenho como saber de fato.

O que sei é que meu Inter se apequenou novamente. Tão cedo, tão rapidamente. Demos passos para trás em todos os aspectos, exceto, quero crer, no quesito estádio.

É uma pena. É o lado miserável do ser humano, vencendo seu lado luminoso.