O esporte outrora de exclusividade masculina faz algum tempo abriu suas portas, ainda que dos fundos, para as mulheres. Há um contingente significativo delas jogando em quadras, campos e freqüentando estádios. Enquanto mulheres desbravam o até aqui desconhecido mundo do futebol, este, frente à nova realidade, ainda não lhe compreende o bastante para atender suas características distintas. Seria uma proposta a de criar o universo feminino, a parte do masculino, no futebol? Não, porque é preciso unificar os torcedores, ao contrário de dividi-los. Mas para que se tenha um todo fortalecido é necessário observar alguns detalhes de cada fatia, tratar desigualdades com especial visão e assim atingir um equilíbrio entre sexos que são opostos e não, oponentes.
Hoje temos parte do público feminino que vai ao estádio torcer pelo time e, fora dali, pratica diferentes modalidades de esporte. Outras vão ao estádio e jogam futebol, mas o fazem como lazer, o futebolzinho com as amigas. E tem aquelas meninas que torcem, jogam e competem. O maior público do Campeonato Gaúcho de 2008 foi registrado no Beira Rio, no dia da promoção que ingresso para mulheres valeu um quilo de alimento. Isso significa, primeiro, que as mulheres se mostram interessadas pelo evento, segundo, basta um incentivo para que tímidas torcedoras passem a freqüentar, gerando nova categoria de receita para o Clube. Essa iniciativa não teve seqüência e a média de público do Inter no Brasileirão poderia ter sido melhor explorada.
Não existe no Brasil um campeonato feminino de futebol capaz de promover seu crescimento. A Copa existente usa os moldes do masculino com o demérito de jogos em horários de dias úteis, no meio da tarde. Se o torcedor vai nem em jogos do masculino na hora do expediente, que dirá do feminino. E eu pergunto, nos primórdios do esporte para os homens, os confrontos aconteciam em extensos gramados com arquibancadas a vinte metros de distância, onde o cara suando no sol das quatro no verão corria ouvindo os gritos de apoio tal como vozes do além? Claro que não. Ou seja, além de não tratar com atenção devida um setor que precisa desse cuidado, o fazem pior, em local e hora inadequados.
Um projeto decente para o futebol feminino começa na criação de um espaço menor, compondo gramado e arquibancada ajustados, mais próximos, dentro do Complexo Beira Rio. Depois, passa pela formulação de campeonatos curtos e freqüentes, buscando patrocínios até de produtos femininos. E termina na aproximação dos torcedores, com venda casada de ingressos, aliando um jogo do feminino ao masculino, não necessariamente no mesmo dia, mas com alguma ligação. As moças jogam. A torcida, que num espaço menor se impõe, comparece. Algum jogo se valoriza, alguma jogadora se destaca, sua camisa passa a vender na loja, surgem então novos produtos consumidos pelas praticantes e admiradoras. E o resto da história já se conhece porque assim foi com o futebol masculino. O clube, as meninas, a marca, todos crescem.
Por este, além de outros motivos, criamos o Movimento Internet/BV. Somos torcedores que argumentam e questionam desde o time até a instituição. O futebol tem função social. Para cada menino que escapa do crime através do esporte, há uma menina que não vai precocemente engravidar. Investir no futebol feminino e nas coloradas é pensamento de vanguarda, simplesmente porque não há, entre os clubes brasileiros, iniciativa eficiente. Chega a intrigar, qual o problema, os caras não gostam de mulher?
www.internetbv.com.br