terça-feira, fevereiro 03, 2009

24 Há Vagas

24
Domingo, 1° de fevereiro, 19h10min, em meio a um feriadão na Capital gaúcha. Jogo de Gauchão, primeira fase do primeiro turno, no Beira-Rio, contra o Grêmio Sapucaiense. Público total: aproximadamente 13.500 pessoas. O ingresso mais barato custava R$ 10,00 para sócios (que pagam R$ 20,00 por mês) e R$ 20,00 para não-sócios. Minha avaliação: bom público. Minha impressão: temos potencial pra bem mais.

O Beira-Rio poderia estar quase lotado. Sim, mesmo em meio a um feriadão em pleno verão gaúcho. O público de domingo, com aqueles preços e contra aquele adversário, me levam a essa conclusão. Mas para estar mais cheio, mais rentável, mais lucrativo, o jogo de domingo não poderia ter sido contra o Grêmio Sapucaiense.

Foi-se o tempo (e já há algum tempo) em que Porto Alegre esvaziava no verão. Hoje, a Capital gaúcha fica bem mais agradável, habitável nessa época, mas não vazia. Tem muita gente em Porto Alegre, o suficiente para lotar um Beira-Rio num grande jogo, desde que com os mesmos preços de ingressos do jogo de domingo. Tenho convicção disso.

Contudo, enquanto continuarmos perdendo de três a quatro meses do ano brincando de Campeonato Gaúcho, continuaremos tendo jogos com público bem inferior à metade da capacidade do estádio. E como não há demanda, a oferta de melhorias na estrutura do Beira-Rio também acaba andando em marcha lenta.

Ao mesmo tempo, os times de São Paulo, onde está o maior mercado consumidor do país, a maior audiência televisiva, estão disputando um estadual absolutamente desigual em relação aos dos demais times da primeira divisão do futebol nacional. O Paulistão, que hoje conta com 6 times da série A e 4 da B, tem nível igual ou superior a muito campeonato nacional europeu. Ou alguém acha que os campeonatos português, holandês e escocês são assim tão melhores que o Paulistão?

Portanto, se já estamos em desigualdade com os mercados do exterior, dentro do Brasil também estamos em desigualdade com São Paulo. E o calendário do futebol brasileiro em nada colabora para que essas diferenças venham a ser atenuadas. Pelo contrário, as acentua ainda mais.

Nesta semana, perderemos mais alguns dias do calendário do futebol profissional preocupados com um jogo praticamente amistoso a ser disputado no próximo domingo, em Erechim. Que bom que pelo menos o público do interior vai poder ver um clássico ao vivo, “in loco”. Pena que os preços dos ingressos que se anunciam (R$ 60,00 o mais barato), fazem com que o evento torne o Colosso da Lagoa numa grande ala VIP. Mas, enfim, coisas do futebol contemporâneo.

E assim segue a nossa “pré-temporada” oficial. Queremos manter jogadores de nível europeu e queremos estádios de Copa do Mundo, mas tudo isso tem um preço que não se paga com público de Gauchão. Talvez consigamos negar ofertas do exterior agora mas, na próxima janela, talvez não. E quando nos dermos conta, teremos mantido este ou aquele jogador por mais quatro ou cinco meses para quê? Para disputar jogos contra o Zequinha, o Grêmio Sapucaiense e a Ulbra.

Se queremos times fortes, qualificados e, principalmente, estáveis, voltando a ter a identificação da torcida com jogadores que se destacam e permanecem no clube por um bom período, precisaremos nos defender perante os mercados mais fortes. E para isso, precisaremos de calendários ainda mais profissionais, que estimulem os clubes a se estruturarem, a se sustentarem através dos lucros advindos dos ganhos de seus times dentro de campo, e não apenas com a venda de jogadores.

Não tenho a ilusão de que nos igualaremos ao poderio econômico europeu. Continuaremos vendendo jogadores, pois se trata de diferenças que vão muito além do mercado da bola. Entretanto, o público de domingo, no Beira-Rio, demonstra bem que há potencial para nossos clubes se sustentarem também através de outras fontes, principalmente, pela da força do seu torcedor. O Inter vem buscando isso já há algum tempo, mas ainda estamos distantes do ideal. As “entusiasmadíssimas” comemorações de Nilmar em seus gols deixaram isso bem claro.