terça-feira, fevereiro 10, 2009

55 Pontos de Vista

55
Um jogo de futebol pode ser analisado sob diversos pontos de vista. Normalmente, observamos mais a atuação dos nossos jogadores, do nosso time. Contudo, dependendo das circunstâncias de cada partida, dos fatos que se destacam nos 90 minutos de bola em jogo, também nos chama a atenção o desempenho do adversário, a atuação da arbitragem, as condições do gramado, e, até mesmo (e essa é nova pra mim em se tratando de grenal), a iluminação do estádio.

Pois bem, vou tentar fazer um breve relato do que vi anteontem, “fatiando” o clássico de acordo com esses diferentes pontos de vista.


O grenal do Inter

Quatro zagueiros. De novo! Danilo teve trabalho. Foi no setor do novato a maior pressão adversária. Praticamente não passou da linha divisória do gramado, mas não chegou a comprometer. Álvaro anda intranquilo, mas também não comprometeu. Índio, tranquilo demais, dormiu no ponto no gol do adversário, mas ninguém gritou “ladrão”, ou um código que o valha. Pô, no Inter, jogador adversário apertou, o companheiro tem o dever de gritar “Márcio Resende”, daí quem tá com a bola põe pro mato, tchê! Marcão foi bem. Às vezes, ele vai bem. Guiñazu não foi bem, mas agora (espero que não por muito tempo) ele virou primeiro volante. E o Magrão, até então terceiro, virou segundo. Dali pra frente, não há esquema, não há quadrado, losango ou retângulo. Há quatro jogadores ocupando espaços de acordo com o vento. Entrosados eles estão, mas a impressão que tenho é que treinados eles não são. Não vejo padrão, não vejo ensaio, não vejo a famosa e surrada frase de boleiro: “É fruto de um trablho, seguindo a orientação do professor.” Isso muito me preocupa. Melhorou no segundo tempo com Andrezinho, mas principalmente com a saída de Diogo no time adversário. Andrezinho fechou o nosso meio e a saída de Diogo abriu o deles. Por isso, a meu ver, o segundo tempo foi equilibrado. E vencemos, mais uma vez, na soma das individualidades, não no conjunto.


O grenal do adversário

O adversário tem virtudes e defeitos. Particularmente, achei que saberiam explorar melhor nossas deficiências, pensei que explorariam, com seis jogadores no meio-campo, mais jogadas de linha de fundo. Fizeram algumas incursões pela esquerda de ataque e, no mais, tentaram chutes de fora da área. Dois bastante perigosos. Me lembro que contra o Zequinha o Inter também sofrera com chutes de fora da área, mas aquele time explorou mais a linha de fundo. Faltou ao adversário foi ataque, mesmo. Cercou, rondou, sassaricou, mas na hora de concluir, não soube fazê-lo. No segundo tempo, a saída de um volante para a entrada de um atacante abriu espaços para os contra-ataques colorados. Mas o adversário continuou marcando presença no campo ofensivo e foi marcando sob pressão que achou seu gol no jogo. Se por um lado teve sorte, por não ter Réver expulso, dentre outros, tirou seu melhor volante justamente com medo do segundo amarelo. No final, ainda colocou mais um atacante, no típico desespero. Ao término da partida, nem presidente, nem treinador, nem cronistas tricolores, nem torcedores analisaram seus eventuais defeitos. Não me surpreendeu. Quem atribui ao além o sucesso (imortalidade e outros que tais), atribui a terceiros as derrotas. Mas quando a argumentação contra a arbitragem se esvaiu, sobrou até para a iluminação. Tá bem, é fraca, mesmo.


O grenal da arbitragem

Números extra-oficiais apontaram 29 faltas azuis e 13 vermelhas em todo o jogo. Nitidamente, Carlos Simon optou por não dar cartões em jogadas nas quais, normalmente, se dá cartão. Quando cabia amarelo, não dava. Quando cabia vermelho, tampouco. E nisso, o Inter sofreu. Roth tirou Diogo, que já tinha amarelo e, mais tarde, colocou o volante reserva Anderson, que também recebeu amarelo. Podia ter levado o vermelho. O lance do Réver dispensa comentários. É o chamado lance de concurso. Não foi lance duvidoso. Mas também tivemos a camisa do Índio rasgada dentro da área de defesa do Grêmio numa bola alçada em direção ao nosso zagueiro, que tentou pular para cabecear e foi impedido. Acho que ali, alguém interpretou que a bola não ia para o Índio, criando-se uma nova figura no futebol: a penalidade passiva, que não interfere no lance. Se foi isso, foi uma interpretação errada. Ah, sim, também tem o lance do “chororô”. Se alguém me disser que o impedimento de Jonas, mal anotado pelo auxiliar, no segundo tempo, foi lance claro, vou me preocupar com os meus reflexos. Ele, de fato, tinha condição legal de jogo, na TV, em câmera lenta. Agora, não houve gol anulado, pois a jogada parou antes da sua conclusão. Fatos são fatos.


O grenal em campo neutro

Confesso que gostei de ver o estádio divido igualmente em vermelho e azul. Talvez porque me remeta a algo da infância, sei lá. Não que eu queira ver isso de volta nos estádios da capital. Aqui, sinceramente, acho que se foi esse tempo e nem deve voltar. Estádio privado é do sócio e do torcedor do time. Pra visitante, cota mínima prevista em lei e era isso. Mas o que eu gostei é do jogo no interior, mesmo. Torcidas divididas, mas todos os registros de que tive conhecimento apontaram para um convívio pacífico entre colorados e gremistas. Muito legal isso! Acho muito boa essa idéia de grenal no interior. Em 2004 houve um em Bento Gonçalves. Acho que poderíamos ter algo tipo as finais da Champions League, sempre num lugar diferente, com patrocinadores locais se envolvendo no evento. E poderia ultrapassar as fronteiras políticas do Rio Grande do Sul, adentrando nas colônias gaúchas no exterior. Que tal um clássico em Chapecó/SC, outro ano em Cascavel/PR, outro em Campo Grande/MS, apenas para exemplificar. Não precisa ser na final, pode ser como o de domingo. Acho que seria interessante.