Se tem uma profissão em relação a qual eu acho praticamente impossível estabelecer um rol de características indispensáveis para que se obtenha o sucesso, essa profissão é a de técnico de futebol. Não basta ser um exímio entendedor de sistemas táticos. Não basta ser uma excelente percepção dos melhores jogadores em um grupo. Não basta ser um pai no vestiário ou, simplesmente, um baita motivador. É preciso ter um pouco de cada uma dessas qualidades, alguém dirá. Mas alguns técnicos parecem não ter nada disso e, mesmo assim, estão por aí, ganhando seus milhares nos grandes times do país. E ainda tem gente que os chama de burro! Burros? Eles?
O fato é que naquela onda de eleger o melhor, a gente entra numas de saber, por exemplo, quem foi o maior técnico de futebol do Inter. Os mais experientes oscilarão entre Rubens Minelli e Ênio Andrade. Os mais novos talvez fiquem com o Abel. Eu, talvez por uma escolha subconsciente de querer me manter no time dos mais novos, fico com o Abel.
Não é só pela Libertadores, nem exclusivamente por ter vencido o Barcelona. É mais! Abel tem uma malandragem, uma pseudo irresponsabilidade (talvez nem tão pseudo, assim), que eu simplesmente idolatro. Abel tem aquela cara de quem dormiu pouco porque ficou até às cinco da manhã trovando fiado com os amigos, bebericando seu whisky, ou dedilhando um piano enquanto dedica-se à nobre arte da conquista. É, além de tudo, uma figura folclórica!
Alguém dirá que é um absurdo exaltar tais vícios como se virtudes fossem. Alguém dirá que Abel não é um bom líder, pois não passa um exemplo de seriedade com sua postura, digamos, descontraída. Mas Abel é mestre na arte de se relacionar com seus subordinados. Valendo-me de uma máxima mais que simplista do futebol, Abel fala a língua dos boleiros como ninguém. Aliás, não só fala, como ainda tem aquele inconfundível sotaque da Guanabara (créditos a Emanuel Neves).
Pois Abel viveu no Inter as maiores emoções de sua vida de treinador. Viveu o céu e o inferno por mais de uma vez. O homem ganhou o grenal do século! Naquela época, valia vaga pra Libertadores. Não como o da última rodada do Brasileirão do ano passado, em que só nós tínhamos chances de ir para a pré. Eram só duas vagas por país naquela época e uma iria ou pra Inter ou pro rival. Derrota em casa por 1 x 0 e um jogador a menos no intervalo. E Abel virou! O céu! Para depois perder para o Bahia na final do Brasileirão e para o Olímpia, em casa, na semi da Libertadores! O inferno! A história de 2006 é tão recente que nem cabe relembrar, muito menos o inferno do início de 2007, a ressaca!
Ocorre que já é 2012 e esse malandro carioca já começou a destilar sua maestria. Assim como no ano passado, já empeçou a rasgar elogios ao maior e mais apaixonante clube de futebol do planeta: o Internacional! E o pior de tudo é que o que ele sente pelo Inter é verdade! Mas é uma verdade que ele fala só por malandragem! O Abel, Campeão do Mundo pelo Inter, era pra mim tão querido como um ente de família! Era um irmão, com quem eu gostaria de passar a noite bebendo e relembrando nossos momentos de glória! Mas agora ele não é mais, agora ele é tricolor, e tricolor eu não aturo!
Vestindo a camisa do adversário, não tenho irmãos! Meus ídolos eu só reconheço quando vestem a camisa do Inter! Por isso, amanhã à noite, quero ver o Beira-Rio mostrar pro Abel, pro Sóbis, pro Edinho, pra todo Fluminense, uma vaia ensurdecedora, tal qual aquela que atordoou o Fernandão quando veio jogar pelo Goiás (créditos ao Felipe Avelino). Quero que eles saiam do Beira-Rio cabisbaixos, derrotados, desolados, com a certeza inequívoca de que estão do lado errado!
Se o Abel tá do outro lado e vem pra me matar, meu nome é Caim!