terça-feira, dezembro 15, 2009

14 Olho Neles!

Por ser uma competição de clubes, realizada anualmente e não apenas de quatro em quatro anos, a FIFA Club World Cup tem um menor número de participantes que a Copa do Mundo de seleções. Talvez em virtude disso, bem como pela disparidade do futebol semiprofissional da Oceania em comparação com os demais continentes, a mídia brasileira venha tendo verdadeiros ataques histéricos com a baixa qualidade técnica de algumas equipes. Ocorre que essas críticas também se dão com relação aos times da África, Ásia e Américas Central e do Norte. Diante disso, me pergunto: não estamos sendo tão arrogantes com essas equipes quanto os europeus são em relação às nossas? Penso que sim.

Desde à época da extinta Copa Intercontinental, quer em seu formato original, quer com a sua transformação em Copa Toyota, com jogo único em solo nipônico, sempre os europeus desdenharam da competição. Ao perderem, nos casos em que levaram times titulares e banco de reservas completo, botavam a culpa na violência dos sul-americanos, pouco ou nada coibida por arbitragens condescendentes. Ao vencerem, embolsaram a grana do patrocinador e voltaram para casa em silêncio. Alguns clubes, como o Real Madrid, sequer exibem o referido troféu em seu belíssimo museu, no estádio Santiago Bernabeu.

Com o advento do mundial organizado pela FIFA, nota-se uma nítida mudança no comportamento dos clubes europeus. O Barcelona, em 2006, não escondeu as lágrimas nos rostos de alguns de seus jogadores. Ainda assim, mantêm sua arrogância e sua empáfia. Chegam ao oriente com pinta de celebridade, fazem de seus treinos verdadeiras exibições públicas e desfrutam de amplo favoritismo. Ah, sim, e principalmente, não se dão ao trabalho de estudarem seus possíveis adversários.

Por outro lado, o mesmíssimo comportamento vem sendo adotado pelos sul-americanos com relação aos demais participantes da competição, excetuados os europeus. A imprensa desdenha e apenas um ou outro jornalista mais interessado se informa sobre essas equipes. Via de regra, são tratadas como “cachorro-morto”. Da mesma maneira, nossas equipes não as estudam à exaustão. No discurso, às respeitam, mas na verdade, apenas temem pelo fiasco de não chegarem à final.

Enquanto cronistas brasileiros desenham fórmulas ideais, colocando mais times europeus e sul-americanos na competição, times dos outros continentes vêm incomodando os favoritos. Já fora assim com o Al Ithaad contra o São Paulo em 2005, bem como com o Al Ahly contra o Inter em 2006. Em 2007, o Etoile Sportive du Sahel repetiu a dose contra o tão festejado Boca Juniors e, em 2008, a LDU não teve moleza contra o Pachuca, do México.

O que coloco em questão, por ocasião da Copa do Mundo de Clubes é o fato de sermos tão arrogantes com relação aos demais continentes quanto os europeus são em relação ao nosso. Enquanto questionamos o mesmo número de participantes por continente, africanos e asiáticos vem complicando a nossa vida naa semifinais.

Esta tarde, terei a oportunidade de assistir à Estudiantes x Pohang Steelers. Talvez seja a primeira vez em que um sul-americano passe com facilidade por um adversário não europeu. Talvez seja a primeira vez em que um não sul-americano chegue à final do Mundial. Só que se isso ocorrer, o que lamentarei é a certeza de que não encontrarei uma linha sequer escrita pela imprensa brasileira, na qual se dirá que num jogo parelho entre dois campeões continentais, venceu o asiático. Lerei apenas que o Estudiantes jogou mal, decepcionou e protagonizou um grande fiasco.

Diante desse contexto, pressinto que estarei torcendo pelos coreanos logo mais. Sei que o favoritismo é todo castelhano, mas acho que uma surpresinha asiática faria bem ao futebol e faria bem, também, a nós brasileiros, pentacampeões! Talvez seja uma bela oportunidade para exercitarmos um pouco mais a nossa humildade. E quem sabe, no ano que vem, o Inter esteja em Abu Dahbi, mas chegue lá já tendo dissecado seus possíveis adversários numa semifinal. Porque eu não quero passar de novo por aquele sufoco que foi contra o Al Ahly, em 2006, e, muito menos, chegar ao Mundial e sair antes da final. Olho neles!


14 Comentários:

Francisco disse...

Post perfeito! Esse é um tema que tenho abordado várias vezes e em que me incomoda muito ver a soberba e arrogância tanto européia quanto sul-americana. O futebol é cada vez mais um esporte global, com um nível crescentemente nivelado. Claro que ainda há fortes diferenças, mas basta recuar 20 anos para ver como tem evoluído o esporte em continentes como o africano ou o asiático. Ou mesmo como dentro da Europa ou América do Sul, países anteriormente tidos como fracos e sem tradição cada vez mais conseguem causar problema às ditas potências tradicionais.

Fabiano- POA-Germany disse...

Grande Dani, tá pelada a coruja. 2x0 pro Estudiantes.

Gonçalves disse...

Nem precisamos ir tão longe, há um certo time aqui do sul que até competições sul americanas tem desdenhado, mas isso é fácil de se fazer pra quem não ganha nada mesmo hehehe

Alberto - Porto Xavier - RS disse...

Post Perfeito (2).
Há dias o blog não apresenta um artigo tão bom. Matou à pau, Daniel.
Nós reclamamos, reclamamos, mas fazemos igual. Reclamamos do tratamento diferenciado da mídia do "Centrão" para com Flamengo/Corinthians/São Paulo e não percebemos que aqui na aldeia nós e a imprensa fazemos o mesmo.

Gonçalves disse...

Bah mas os caras também são juvenil que acabam endossando esse meio que menosprezo...3 expulsos e com um jogador de linha remanejado pro gol é pra acabar com o cheque do leite.

Unknown disse...

Na boa, não é questão de arrogância, mas de ser realista. Olha o que foi o amadorismo desses coreanos hoje. Tirando o sul-americanos e europeus, os únicos que pdoem fazer frente são os mexicanos. Talvez um zebra ali, outra aqui, mas todas as finais tem sido América do Sul x Europa. E não por acaso. Esse mundial na verdade é uma maneira da Fifa conseguir apoio de outros continentes. Jogada política, assim como foi o aumento de participantes na Copa do Mundo, de 24 para 32.

João Gabriel disse...

Estou trabalhando, então não ví o jogo.

2 a 1, com três a menos dos coreanos. Me parece que foi um jogo apertado.

Agora, o post tá perfeito.
Para ser mundial devem estar presentes todos os campeões.

E logo logo africanos e norte-americanos (US. e México) estarão disputando finais de mundiais (de clubes e seleções).

A participação no mundial é um incentivo para os times de outros continentes se esforçarem ao máximo para atingir o nivel dos europeus e sulamericanos.

Ramon Dongo disse...

Concordo e muito com o post.
Futebol não é só ganhar, não é só glória. O esporte mais admirado do planeta tem que contemplar os times de todo o globo, independente do nível técnico de cada clube.
Espírito esportivo, coisa que não conta muito para alguns órgãos do futebol nacional, que apadrinham sempre os mesmos.

col disse...

Muito bem observado, Abelao!

Marimas disse...

Permita-me discordar Daniel, e faço isso enquanto o Atlante vai batendo o Barça por 1x0.

Acredito que tanto este jogo do Barça, quanto o Inter em 2006 ou o SPFW em 2005 eram anos luz superiores em relação aos seus adversários. O que ocorre, na minha opinião, é muito mais um jogo de nervos, do que uma suposta paridade técnica.

Vejo agora, com 20 e poucos do primeiro tempo um barça extremamente nervoso e afobado, pois sabe que se cair agora será uma fisqueira, assim como seria com o Inter ou SPFW em anos anteriores.

Penso que esse equilíbrio e a grande probalidade de um "pequeno" fazer o crime se dá muito mais pelo estado de nervos dos times, frente à 90 minutos onde tudo pode acontecer do que à crescente qualidade do adversário.

Queria ver um Mundial com os "pequenos" de hoje em dia, mas disputando contra os realmente grande da Europa e América do Sul. Talvez duas vagas para cada um desses continentes e mais 4 ou 6 vagas distribuídas para o "resto" do mundo futebolístico. Apesar de o meu ideal de um torneio que se chama MUNDIAL abarca muito mais equipes.

Braço!

ps.: E gol do Barcelona. 1x1...

Unknown disse...

Se fosse semifinal da Liga dos Campeões nunca que iriam poupar o Messi. Ele e o Eto'o tb teriam jogado contra o Inter em 2006 se fosse final da Liga dos Campeões. Para os clubes europeus o Mundial ainda não é o torneio mais impotante do ano. Como disse o Marimon, o que mais vale é não perder pra fazer fiasco.

Daniel Chiodelli disse...

Messi e Eto'o não foram poupados em 2006, eles sequer tinham as mínimas condições de jogo. E o Messi nem era titular em 2006.

Daniel Chiodelli disse...

Paulo e Marimom,

não estou dizendo que há paridade técnica. O que afirmo é que não se deve subestimar os adversários. Não devemos ter para com africanos e asiáticos a mesma postura que europeus tem em relação aos sul-americanos.

O futebol é um dos poucos esportes no qual uma equipe em tese inferior pode superar a superior. Para evitar isso, dentre outras coisas, não se deve subestimar o adversário. Esse é o ponto. No futebol a transpiração pode vencer a inspiração. Sabemos bem disso.

Baita abraço!

Schroder-EUA disse...

Pois é Daniel é isso mesmo.

Criticam os Europeus mas fazem a mesma coisa com outros. É como quando gozamos com outras culturas e paises fazendo piadimhas mas quando gozam com nossa cara ficamos maguadinhos.

Todos gostam de falar em direitos individuais, igualdade etc...mas basta um cara como o Richarlyson fazer um corte de cabelo que 99.9% dos comentarios é comentando a sexualidade do cara.

Infelizemente o ser humano tem hipocresia na veia. E no futebol é a mesma coisa.

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