Tenho uma amiga que mora na Rua Duque de Caxias, no centro de Porto Alegre. Do terraço do prédio de onze andares é possível vislumbrar a vista mais magnífica da cidade, cento e oitenta graus de ângulo para o Guaíba, incluindo aí desde antes do Gigante até depois da ponte móvel. Um espetáculo realmente.
Quando se olha pra baixo é quase um tabuleiro de Banco Imobiliário, ou maquete. São inúmeros os telhadinhos de casas antigas em terrenos estreitos, salpicados por elementos verticais e alguns edifícios já nem tão modernos assim. A Igreja Nossa Senhora das Dores pode ser observada de costas, deflagrando que o frontão na fachada que compõe a sua bela escadaria na verdade esconde um telhado bem mais baixo (malandragens arquitetônicas).
É incrível perceber o quanto o Guaíba é sinuoso e majestoso. Contemplando na altura da margem, em projeção acumulada, o horizonte não escancara tamanha beleza destas águas como na vista superior. Em nível zero o destaque fica sempre para o exclusivo pôr do sol – que de cima não perde encanto, apenas divide a cena com aquela superfície de movimento suave, onde os reflexos do astro rei produzem uma pintura indescritível.
Parece também que de cima do décimo primeiro andar podemos alterar tudo o que acontece lá embaixo, como se fossem peças de xadrez. Trata-se de um breve momento eu sou Deus - que dura muito pouco. Do alto de um mirante como esse o que se tem é a certeza de nossa modesta existência individual num contexto chamado meio ambiente.
Há bem pouco tempo estive com amigos neste terraço, admirando esta mesma vista: o sol no horizonte pegando no sono enquanto pintava o céu de vermelho. Foi caindo o dia, as primeiras luzes nas janelas acenderam e a noite veio chegando pianinho. Foi nessa hora que presenciei um dos fenômenos mais impressionantes que já pude testemunhar.
Da sombra que cobria os telhados da cidade foram surgindo em grupos, voando pra cima e na direção do rio, milhares de morcegos. Não estou mentindo, não eram centenas, mas milhares de morcegos. Voavam por cima e pertinho da gente, desviando da fachada do prédio guiados por seus eficientes sonares. Em movimento distinto dos passarinhos devido às asas de batman, morcegos planam charmoso. Giram o eixo do corpo, dançando pelo trajeto.
Fiquei pensando, toda aquela morcegada dorme de cabeça pra baixo durante o dia em cima das cabeças de quem estiver no centro (hã, quem de cabeça pra baixo?). Se alguém perguntar qual a imagem que conota liberdade, a esmagadora maioria das pessoas apontaria um vôo de pássaro. Caros amigos, caras amigas, vocês não imaginam quão livres podem parecer um bando de morcegos, voando pela noite de Porto Alegre. Não sei se pela alcunha de Drácula ou se pela cara de poucos amigos que a estrutura morfológica atribui ao bichinho, mas temos o hábito de rechaçá-los quando na verdade são animais que compõem um equilíbrio natural: dormem de dia e se alimentam de insetos à noite.
O técnico do Santos Muricy Ramalho fez um honesto desabafo quando se referiu ao esquema do Barcelona como “(...) caso de polícia no Brasil”. A imprensa gaúcha simplesmente surtaria diante de um esquema sem atacantes. Aliviou Dorival Junior quando Damião esteve lesionado e foi só por isso que tolerou o Inter em campo nesta formação. Nem estou dizendo que o esquema deva ser adotado ou que seja o caminho das pedras pra se chegar ao patamar catalão. Refiro-me à nossa falta de alcance, à nossa insistente negação de enxergar a vida e as coisas como são, boas e ruins. Sem monstros ou super-heróis. Porque temos tanta dificuldade de construir algo reconhecendo nossas fragilidades na mesma proporção das potencialidades?
O time do Barcelona não é de outro mundo. É bastante real, tão verdadeiro quanto os morcegos que vi surgindo de esconderijos embaixo do meu nariz. Não tem feitiço, é natural: trabalho em formação, filosofia de clube que respeita tempo & resultado e visão coerente de si mesmo. O passeio sobre o Santos de Neymar não surgiu repentinamente, não é mágica. Cresceu ao longo de pelo menos uma década, enquanto os demais dormiam. Também aprendeu a sua lição há cinco anos no gol de Gabiru, como humildemente recordou o zagueiro Pujol.
Certamente se todos os clubes do universo tivessem a mesma conduta, ainda assim Messi, Iniesta e Xavi encantariam o mundo todo com algo que só eles têm, como realmente vêm fazendo. Mas isso é momento (de time ou jogador), a gente reconhece, respeita e eterniza.
No entanto, se queremos honestamente aprender alguma lição da aula de ontem, precisamos entender que um projeto campeão se consolida de dentro pra fora. Nós precisamos parar de ver vampiros onde há morcegos. Vampiros não existem. Morcegos são de verdade.
Quando se olha pra baixo é quase um tabuleiro de Banco Imobiliário, ou maquete. São inúmeros os telhadinhos de casas antigas em terrenos estreitos, salpicados por elementos verticais e alguns edifícios já nem tão modernos assim. A Igreja Nossa Senhora das Dores pode ser observada de costas, deflagrando que o frontão na fachada que compõe a sua bela escadaria na verdade esconde um telhado bem mais baixo (malandragens arquitetônicas).
É incrível perceber o quanto o Guaíba é sinuoso e majestoso. Contemplando na altura da margem, em projeção acumulada, o horizonte não escancara tamanha beleza destas águas como na vista superior. Em nível zero o destaque fica sempre para o exclusivo pôr do sol – que de cima não perde encanto, apenas divide a cena com aquela superfície de movimento suave, onde os reflexos do astro rei produzem uma pintura indescritível.
Parece também que de cima do décimo primeiro andar podemos alterar tudo o que acontece lá embaixo, como se fossem peças de xadrez. Trata-se de um breve momento eu sou Deus - que dura muito pouco. Do alto de um mirante como esse o que se tem é a certeza de nossa modesta existência individual num contexto chamado meio ambiente.
Há bem pouco tempo estive com amigos neste terraço, admirando esta mesma vista: o sol no horizonte pegando no sono enquanto pintava o céu de vermelho. Foi caindo o dia, as primeiras luzes nas janelas acenderam e a noite veio chegando pianinho. Foi nessa hora que presenciei um dos fenômenos mais impressionantes que já pude testemunhar.
Da sombra que cobria os telhados da cidade foram surgindo em grupos, voando pra cima e na direção do rio, milhares de morcegos. Não estou mentindo, não eram centenas, mas milhares de morcegos. Voavam por cima e pertinho da gente, desviando da fachada do prédio guiados por seus eficientes sonares. Em movimento distinto dos passarinhos devido às asas de batman, morcegos planam charmoso. Giram o eixo do corpo, dançando pelo trajeto.
Fiquei pensando, toda aquela morcegada dorme de cabeça pra baixo durante o dia em cima das cabeças de quem estiver no centro (hã, quem de cabeça pra baixo?). Se alguém perguntar qual a imagem que conota liberdade, a esmagadora maioria das pessoas apontaria um vôo de pássaro. Caros amigos, caras amigas, vocês não imaginam quão livres podem parecer um bando de morcegos, voando pela noite de Porto Alegre. Não sei se pela alcunha de Drácula ou se pela cara de poucos amigos que a estrutura morfológica atribui ao bichinho, mas temos o hábito de rechaçá-los quando na verdade são animais que compõem um equilíbrio natural: dormem de dia e se alimentam de insetos à noite.
O técnico do Santos Muricy Ramalho fez um honesto desabafo quando se referiu ao esquema do Barcelona como “(...) caso de polícia no Brasil”. A imprensa gaúcha simplesmente surtaria diante de um esquema sem atacantes. Aliviou Dorival Junior quando Damião esteve lesionado e foi só por isso que tolerou o Inter em campo nesta formação. Nem estou dizendo que o esquema deva ser adotado ou que seja o caminho das pedras pra se chegar ao patamar catalão. Refiro-me à nossa falta de alcance, à nossa insistente negação de enxergar a vida e as coisas como são, boas e ruins. Sem monstros ou super-heróis. Porque temos tanta dificuldade de construir algo reconhecendo nossas fragilidades na mesma proporção das potencialidades?
O time do Barcelona não é de outro mundo. É bastante real, tão verdadeiro quanto os morcegos que vi surgindo de esconderijos embaixo do meu nariz. Não tem feitiço, é natural: trabalho em formação, filosofia de clube que respeita tempo & resultado e visão coerente de si mesmo. O passeio sobre o Santos de Neymar não surgiu repentinamente, não é mágica. Cresceu ao longo de pelo menos uma década, enquanto os demais dormiam. Também aprendeu a sua lição há cinco anos no gol de Gabiru, como humildemente recordou o zagueiro Pujol.
Certamente se todos os clubes do universo tivessem a mesma conduta, ainda assim Messi, Iniesta e Xavi encantariam o mundo todo com algo que só eles têm, como realmente vêm fazendo. Mas isso é momento (de time ou jogador), a gente reconhece, respeita e eterniza.
No entanto, se queremos honestamente aprender alguma lição da aula de ontem, precisamos entender que um projeto campeão se consolida de dentro pra fora. Nós precisamos parar de ver vampiros onde há morcegos. Vampiros não existem. Morcegos são de verdade.
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