Escrito por Raul Pons
Início dos anos 1970. A euforia causada pela conquista do tricampeonato mundial no México contagiava o país. A ditadura militar, que vivia seu período mais violento, no governo Médici[1], utilizava o que podia para aumentar seu prestígio junto ao povo. E o futebol era perfeito para distrair a população em relação aos problemas que o país atravessava.
Em 1971 a CBD criou o campeonato nacional, mas o governo queria mais. Juntar os clubes de maior torcida dos principais estados brasileiros deixaria milhões de brasileiros contentes. Assim, nasceu o Torneio do Povo.
Na sua primeira edição, em 1971, participaram os clubes mais populares do Rio de Janeiro (Flamengo), São Paulo (Corinthians), Minas Gerais (Atlético) e Rio Grande do Sul (Internacional), e foi disputado em turno e returno. Os campeões de turno se enfrentariam na decisão.
O Internacional começou bem. Enquanto Atlético, Flamengo e Corinthians empatavam entre si, o Colorado vencia o Flamengo (1x0) e o Atlético (3x0), no Beira-Rio. No último jogo do turno, em São Paulo, o Internacional jogava pelo empate, mas perdeu por 3x0 para o Corinthians, que levou o turno. No 2º turno, nova sucessão de empates. O Internacional venceu o Flamengo, no Rio (1x0) e empatou com o Galo em Minas (0x0). Na última rodada, novamente enfrentava o Corinthians, no Mineirão. Como Atlético e Flamengo empataram em 3x3, na preliminar, um simples empate daria o título do turno ao Internacional, mas novamente foi derrotado pelo Corinthians: 1x0. O Timão levou o título com apenas duas vitórias (ambas contra o Colorado), contra três do Internacional.
Em 1972 entrou no torneio o Bahia. Com cinco participantes, o campeonato passou a ter um turno único. O Internacional não começou bem: empatou com o Corinthians (0x0, em casa) e Flamengo (0x0, no Rio). A seguir, perdeu para o Atlético, em Minas (1x2). No último jogo do torneio, com o Flamengo já tendo levado a taça, o Internacional venceu o Bahia por 4x0, na maior goleada da história da competição.
Em 1973, mais um clube: o Coritiba. As seis equipes se enfrentaram em turno único, mas para efeito de classificação foram divididas em dois grupos de três. As duas melhores equipes de cada grupo disputariam o Quadrangular Final. Mas o regulamento tinha um absurdo: se o Flamengo não ficasse entre os quatro melhores, entraria na vaga do pior 2º colocado. O Internacional começou muito mal, perdendo duas partidas fora de casa: Bahia (0x1) e Corinthians (0x1). Mas a seguir recuperou-se: ainda sem jogar no Beira-Rio, goleou o Atlético (3x0), e frente a torcida, bateu o Flamengo (1x0). Assim, na última rodada, vencendo o Coritiba no Beira-Rio, ficaria em 1º lugar no Grupo B. Em caso de empate, dependeria do resultado do dia seguinte, quando jogariam Corinthians e Atlético. O jogo começou movimentado. Aos 8 minutos do 1º tempo, Negreiros fez 1x0 para o Coritiba, mas aos 11 minutos, o lateral coxa-branca Nilo cortou com a mão uma bola que estava entrando no gol: pênalti. Tovar cobrou e empatou. Mas foi só, o Coritiba retrancou-se e segurou o empate que lhe classificaria. No dia seguinte, o Internacional torcia por dois resultados de três: vitória do Atlético ou empate. Mas o Corinthians venceu por 1x0. Com este resultado, o Internacional ficou em 2º lugar no Grupo B, mas como o Flamengo não classificou-se, e o Colorado era o pior 2º colocado, perdemos a vaga para o time da Gávea. No Quadrangular final, disputado por Corinthians, Flamengo, Coritiba e Bahia, a equipe paranaense surpreendeu, batendo o Corinthians em casa e o Flamengo fora, ambos por 1x0. Com mais um empate na Fonte Nova (2x2), o Coritiba levantou a taça.
O Torneio do Povo não foi mais disputado, após a temporada de 1973. A popularização do campeonato brasileiro e o calendário cada vez mais apertado decretaram o seu fim. Além disso, contrariando a tese de que o futebol alienaria o povo, nas eleições de 1974 a ditadura sofreu sua primeira grande derrota. Em 1982, quando a ditadura militar já estava agonizante, a revista Placar realizou uma pesquisa sobre a preferência eleitoral dos torcedores que freqüentavam estádios de futebol: o índice de eleitores da oposição era superior à média do total da população. Torcedor de futebol não era sinônimo de alienado político.
[1] Por curiosidade: Médici era gremista.
9 Comentários:
Que Tri, Raul! E o Corinthians sempre nos aprontando, hehe.
Interessente, essa do Médici eu não sabia. Sempre gosto de lembrar os gremistas sobre a origem do preconceito que eles alardeiam contra os colorados (macacada, favelados, etc.).
O campo do porto-alegrense era ao lado do antigo Jockey Club, em pleno Moinhos de Vento (era o time da elite), por isso o Inter carrega orgulhosamente o subtítulo de CLUBE DO POVO.
Agora, saber que o ditador facista era gremista, é uma informação que ilustra muito bem tudo isso.
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Mudando de assunto:
PARABÉNS INTEEERRR! Obrigado irmãoes Poppe e a todos os fundadores. Parabéns a todos os colorados, dirigentes, funcionários, jogadores, técnicos, gandulas... "DO PRESENTE E PRINCIPALMENTE OS DO PASSADO".
98 anos e OLHOS ONDE SURGE O AMANHÃ!!!
Nesta manhã tão especial quero render homenagens:
1 - Parabéns Raul pela excelente compilação destas inesquecíveis histórias coloradas que tanto nos enchem de orgulho e afloram nosso amor por este clube.
2 - Parabéns Louis por este espaço coloradaço que une os apaixonados por este clube que é mais do que um time de futebol, é um sentimento que não vai acabar jamais!!!
3 - PARABÉNS SPORT CLUB INTERNACIONAL PELOS SEUS 98 ANOS BEM VIVIDOS, NO AUGE DA SUA FORÇA, GARRA E LUTA!!! MUITAS OUTRAS CONQUISTAS VIRÃO E NOS FARÃO UM CLUBE CADA VEZ MAIS FORTE E RESPEITADO!!!
4 - Parabéns à todos nós colorados que jamais desistimos ou desistiremos!!! Todos sabem pelo que já passamos e nossas glórias só fortalecem este sentimento!!!
Por fimk, quero agradecer meu pai por ter feito de mim mais um colorado!!! GRAÇAS A DEUS!!!!!!!
PARABEEEEEEENSSSS COLORADOS 98 ANOS DE HISTORIA!!!!!!!!! lolololol
MEU CORAÇÃO É VERMELHO E DE VERMELHO VIVE O CORAÇAO
Guilherme:
Até pouco tempo atrás, havia uma foto do Médici na Sala da Presidência do Grêmio.
Geisel, outro general presidente, tb era gremista.
Raul,
E não há uma foto que registre isso? Ainda hoje recebi uma foto um ursinhos de pelucia que era uma pato rodeado de macaquinhos. Todo bem que para alguns é só uma piadinha, mas é um sentimento repugnante.
É sempre legal deixá-los com vergonha da sua história.
Um abraço.
Raul
Muito interesante...eu nem sabia desse Torneio do povo!!
Narracao muito interssante Raul, eu ja sabia do Medici, ele era tao legal pena que tinha dois defeitos, era gremista e gostava de mandar torturar as pessoas, mas de resto ele era um barato, volta e meia era visto em estadios de futebol.
Uma coisa que eu gostaria de saber e porque o Bahia se considera Bi-campeao brasileiro, se so ganhou uma vez o Brasileirao e pelo que tu narrastes ele nao chegou a ganhar o Torneio do Povo assim como o Inter?
Antonio EUA
Antônio:
O outro título que o Bahia conta é o da Taça Brasil, em 1959.
Com a criação da Taça Libertadores, que seria disputada pelos campeões nacionais, a partir de 1960, o Brasil precisava de uma competição nacional para indicar seu representante. E surgiu a Taça Brasil, nos moldes da atual Copa do Brasil. O primeiro campeão foi o surpreendente Bahia, que derrotou o poderoso Santos de Pelé, na final.
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