terça-feira, abril 03, 2007

9 História do Internacional - Torneio do Povo

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Escrito por Raul Pons

Início dos anos 1970. A euforia causada pela conquista do tricampeonato mundial no México contagiava o país. A ditadura militar, que vivia seu período mais violento, no governo Médici[1], utilizava o que podia para aumentar seu prestígio junto ao povo. E o futebol era perfeito para distrair a população em relação aos problemas que o país atravessava.

Em 1971 a CBD criou o campeonato nacional, mas o governo queria mais. Juntar os clubes de maior torcida dos principais estados brasileiros deixaria milhões de brasileiros contentes. Assim, nasceu o Torneio do Povo.

Na sua primeira edição, em 1971, participaram os clubes mais populares do Rio de Janeiro (Flamengo), São Paulo (Corinthians), Minas Gerais (Atlético) e Rio Grande do Sul (Internacional), e foi disputado em turno e returno. Os campeões de turno se enfrentariam na decisão.

O Internacional começou bem. Enquanto Atlético, Flamengo e Corinthians empatavam entre si, o Colorado vencia o Flamengo (1x0) e o Atlético (3x0), no Beira-Rio. No último jogo do turno, em São Paulo, o Internacional jogava pelo empate, mas perdeu por 3x0 para o Corinthians, que levou o turno. No 2º turno, nova sucessão de empates. O Internacional venceu o Flamengo, no Rio (1x0) e empatou com o Galo em Minas (0x0). Na última rodada, novamente enfrentava o Corinthians, no Mineirão. Como Atlético e Flamengo empataram em 3x3, na preliminar, um simples empate daria o título do turno ao Internacional, mas novamente foi derrotado pelo Corinthians: 1x0. O Timão levou o título com apenas duas vitórias (ambas contra o Colorado), contra três do Internacional.

Em 1972 entrou no torneio o Bahia. Com cinco participantes, o campeonato passou a ter um turno único. O Internacional não começou bem: empatou com o Corinthians (0x0, em casa) e Flamengo (0x0, no Rio). A seguir, perdeu para o Atlético, em Minas (1x2). No último jogo do torneio, com o Flamengo já tendo levado a taça, o Internacional venceu o Bahia por 4x0, na maior goleada da história da competição.

Em 1973, mais um clube: o Coritiba. As seis equipes se enfrentaram em turno único, mas para efeito de classificação foram divididas em dois grupos de três. As duas melhores equipes de cada grupo disputariam o Quadrangular Final. Mas o regulamento tinha um absurdo: se o Flamengo não ficasse entre os quatro melhores, entraria na vaga do pior 2º colocado. O Internacional começou muito mal, perdendo duas partidas fora de casa: Bahia (0x1) e Corinthians (0x1). Mas a seguir recuperou-se: ainda sem jogar no Beira-Rio, goleou o Atlético (3x0), e frente a torcida, bateu o Flamengo (1x0). Assim, na última rodada, vencendo o Coritiba no Beira-Rio, ficaria em 1º lugar no Grupo B. Em caso de empate, dependeria do resultado do dia seguinte, quando jogariam Corinthians e Atlético. O jogo começou movimentado. Aos 8 minutos do 1º tempo, Negreiros fez 1x0 para o Coritiba, mas aos 11 minutos, o lateral coxa-branca Nilo cortou com a mão uma bola que estava entrando no gol: pênalti. Tovar cobrou e empatou. Mas foi só, o Coritiba retrancou-se e segurou o empate que lhe classificaria. No dia seguinte, o Internacional torcia por dois resultados de três: vitória do Atlético ou empate. Mas o Corinthians venceu por 1x0. Com este resultado, o Internacional ficou em 2º lugar no Grupo B, mas como o Flamengo não classificou-se, e o Colorado era o pior 2º colocado, perdemos a vaga para o time da Gávea. No Quadrangular final, disputado por Corinthians, Flamengo, Coritiba e Bahia, a equipe paranaense surpreendeu, batendo o Corinthians em casa e o Flamengo fora, ambos por 1x0. Com mais um empate na Fonte Nova (2x2), o Coritiba levantou a taça.

O Torneio do Povo não foi mais disputado, após a temporada de 1973. A popularização do campeonato brasileiro e o calendário cada vez mais apertado decretaram o seu fim. Além disso, contrariando a tese de que o futebol alienaria o povo, nas eleições de 1974 a ditadura sofreu sua primeira grande derrota. Em 1982, quando a ditadura militar já estava agonizante, a revista Placar realizou uma pesquisa sobre a preferência eleitoral dos torcedores que freqüentavam estádios de futebol: o índice de eleitores da oposição era superior à média do total da população. Torcedor de futebol não era sinônimo de alienado político.

[1] Por curiosidade: Médici era gremista.