Inspirado nas crônicas de Rafael Severo.
Luana tinha 1,60m e 50 Kg. Um rosto de traços delicados, cabelos lisos loiros e uma pele macia sempre bronzeada. Seu sorriso era de menina, mas seu olhar, de mulher. Seios perfeitos, nem tão grandes, nem tão pequenos, mas devidamente empinados. A barriguinha, uuuhhh, que barriguinha sarada! E a cinturinha, então, meu Deus do céu! No prolongamento dessas curvas, quadris fartos e um bumbum inexplicavelmente arrebitado. Coxas firmes, panturrilhas definidas e os pezinhos delicados e bem formados, como de resto cada parte do seu corpo. Mas Luana não tinha apenas uma beleza estática. Era em movimento que seu corpo se destacava ainda mais, revelando todo o potencial daquele desaforo em forma de mulher.
Luana era prostituta. Seu talento estava, portanto, sendo explorado em todos os sentidos e ela, assim, ganhava muito dinheiro. Mas como quase todas as chinas, ao final das noites Luana se sentia solitária. Faltava-lhe um colo carinhoso, de um homem que a aceitasse do jeito que ela era, que lhe desse afago mesmo após uma extenuante noite de trabalho no cabaré. Pois para não fugir ao clichê, Luana também era casada. Cláudio, seu marido, a conheceu na noite e sabia da sua profissão. Mas foi ele quem a cobriu de mimos e afagos, foi ele quem lhe deu uma boa casa e seus braços para descansar seu corpo exausto da lida. E foi Cláudio, enfim, quem conquistou o direito de tê-la como companheira e não apenas como acompanhante.
Luana tinha vários clientes fixos que lhe tratavam e, principalmente, lhe pagavam muito bem. Não lhe faltavam propostas para viajar ou mesmo para se tornar amante fixa de alguns figurões, mas Luana não cedia. Luana era muito fiel a Cláudio. Mas o interessante é que ela não se sentia mal por trabalhar na noite e nem ele se sentia traído por ela. Uma relação diferente, de companheirismo, de respeito, de amizade, de confiança.
Até que Luana conheceu Alberto, um cara mais novo que Cláudio, mais bonito, mais inteligente, mais divertido e, também, muito melhor na cama. O que mais posso dizer, o Alberto era colorado, o Cláudio, não. Ainda assim, Luana só queria mais um programa com um cara novinho. E o Alberto, na verdade, só queria mesmo uma noite de sexo com uma linda garota. Mas as coisas, digamos assim, saíram do controle. Ao transar com Alberto, Luana sentiu, pela primeira vez, que estava traindo Cláudio. Sim, as putas também gozam e, acreditem, se apaixonam.
Alberto ficou com o telefone de Luana e eles começaram a se falar. Luana às vezes atendia, mas, quase sempre, evitava responder às chamadas de Alberto. Trabalhar no chinaredo, transar com dois, três homens diferentes numa mesma noite, não era traição. Mas Alberto não havia sido um cliente para Luana, nem mesmo na primeira vez e ela se sentia mal por isso. Porque com Alberto ela tinha algo que não tinha por Cláudio: amor! Luana e Alberto gostaram de verdade um do outro. Seus olhos, suas bocas, suas línguas, suas peles, seus cheiros e seus líquidos, uma combinação realmente muito forte, muito intensa!
Luana resistiu quase um mês sem rever Alberto. Ela hesitava, tentava fugir, mas, aos poucos, não conseguia mais agüentar todo seu desejo. Então, após uma noite qualquer de trabalho, em plena madrugada, Luana ligou para Alberto. Ele acordou surpreso e até mesmo um pouco assustado, sem entender direito o que se passava. Luana queria vê-lo, pediu para ir até o seu apartamento. Alberto, sem saber direito o que estava fazendo, concordou.
Eram 4 horas quando o porteiro do condomínio ligou para o interfone de Alberto anunciando a chegada daquela inusitada visita em horário atípico. Alberto foi para a porta e quase não acreditou quando viu aquele monumento de mulher saindo do elevador em meio à madrugada. Luana, ao vê-lo com os cabelos desarrumados de quem a pouco havia saído da cama, sorriu como uma menina, o olhou profundamente como uma mulher que sabia o que queria (e como queria!) e, em poucos minutos, estava completamente nua sobre o sofá da sala de Alberto, onde fizeram amor por um incomparável par de horas.
Novos encontros insólitos voltaram a acontecer. Era algo novo para ambos, diferente de tudo que já haviam vivido. Luana era a meretriz casada, traindo seu marido fora do serviço. Alberto havia se tornado o amante de uma mulher que conhecera num puteiro. Uma relação estranha, esquisita, improvável, mas, ao mesmo tempo, uma relação que dava certo, que funcionava, que os deixava felizes nos raros momentos em que ficavam juntos.
Amores assim são raros, escassos e, na verdade, não sei quanto tempo podem resistir. Acredito que pouco, muito pouco. Mas são possíveis. Porque mesmo as profissionais do sexo podem um dia encontrar um homem que as façam amar do modo mais sincero que pode haver, ainda que de maneira efêmera.
Não é muito diferente com os profissionais da bola. Jogam pelo dinheiro, pelo futuro, sabendo que a aposentadoria chegará antes da maioria das profissões. De tempos em tempos, procuram melhores salários, melhores contratos, sempre amparados por um empresário que lhes dê segurança.
Mas assim como Luana encontrou o amor nos braços de Alberto, acredito que também os jogadores, algumas vezes, encontram a felicidade nos braços de uma torcida. Vi isso acontecer no Inter, não faz muito tempo. É difícil, incomum, improvável até, mas não é impossível.
Quando acontece essa sintonia, essa química, tenho certeza de que os boleiros reencontram o prazer de jogar futebol, o amor pelo esporte. E quando se faz alguma coisa com amor, com gosto, com vontade, com desejo, tudo fica mais bonito. A vida tem mais cores, mais sabores, mais amores. E daí, as vitórias, os títulos e, enfim, a felicidade, são mera conseqüência.
Gostaria que os nossos jogadores de hoje pensassem nisso. O dinheiro é bom, mas não paga o grito da torcida consagrando um ídolo dentro de campo numa grande conquista. O dinheiro é bom, mas não compra os urros de prazer de Luana ao entregar-se por completo para Alberto. Os vizinhos de Alberto que o digam!
Baita abraço a todos!