sexta-feira, setembro 12, 2008

17 O Papel da Imprensa em um Jogo de Futebol

Já lhes relatei aqui nesse espaço o papel fundamental do "dia de jogo", enquanto evento, para a saúde financeira dos clubes. Dentre os diversos atores que atuam no "dia de jogo" a imprensa tem um papel importante. É através dela que milhares, até milhões, de pessoas participarão do evento. As imagens do jogo repercutem em todo o país e, muitas vezes, o mundo, através de jornais, revistas e páginas de Internet.

A organização do evento tem um papel fundamental também nesse quesito. E todas as pessoas dentro do campo, inclusive fora das quatro linhas, são de sua responsabilidade. Reparem na qualidade das fotos que temos da conquista do Mundial de 2006, a entrega da taça, a volta olímpica, a festa dos jogadores. São imagens que guardaremos para a vida toda, que ilustrarão livros, painéis, produtos licenciados, etc. Como isso foi possível? Milagre? Não, ORGANIZAÇÃO. Lembro bem de uma entrevista do Índio logo após a entrega da taça. Foi ele quem foi até os repórteres e não o contrário. Ainda assim, um dos organizadores puxou nosso zagueiro pelo braço e o levou até o grupo que posava para foto.

E a entrevista? Ora, as entrevistas ocorriam em local específico, em frente as marcas dos patrocinadores. E não é em Yokohama que era diferente, é aqui que é bizarro e diferente do resto do mundo civilizado. Antes, durante e depois do jogo, lá estão os microfones. O cara vai substituir alguém em campo e já está cercado por repórteres. Se o jogador faz um gol e vai comemorar perto da torcida (o que é um dos momentos mais belos do futebol), o que acontece? Ele desiste e foge, porque lá vem os de sempre com seus malditos microfones. Pra não falar de quando o jogador vai cobrar escanteio e... lá vem os caras, no meio do jogo, tirar alguma declaração. Foda-se a concentração do atleta para a cobrança, danem-se os torcedores, que do atleta só querem futebol, gols e vitórias.

O fotógrafo do Inter, Daniel Boucinha, fez um relato sobre sua experiência em Yokohama, quando da inauguração da exposição de suas fotos no Shopping Total: não podia sair do lugar, não podia comemorar, deveria permanecer sentado... Ora, isso é organização, faz bem para o espetáculo e para o próprio jornalista que produzirá um material de melhor qualidade. Além de ajudar a promover o jogo e o crescimento do futebol enquanto espetáculo, o que deveria ser interesse de toda a imprensa esportiva.

Outro dia, eu estava assistindo aos gols da Bundesliga, campeonato nacional da Alemanha. No fim dos jogos, os jogadores reúnem-se no centro do campo, caminham para perto da torcida e os saúdam. É um reconhecimento aos torcedores que pagaram para estar ali, que fazem a diferença em qualquer clube do mundo. Em nossas terras, claro, isso é impossível. Após o apito final, o campo é invadido por câmeras, fios e jornalistas, muitos jornalistas e seus assistentes. E o torcedor? Mais uma vez: dane-se o torcedor! Ele que saia correndo para não pegar engarrafamento.

Organizar a atuação da imprensa dentro de campo faz parte do processo de organização e profissionalismo do futebol brasileiro, mas encerro esse texto com algumas dúvidas. Na Europa quem toma a iniciativa da organização é a UEFA, lá em Yokohama tinha a FIFA, e aqui? Se um Clube tomasse a iniciativa de organizar a atuação da imprensa, a CBF apoiaria? A Globo deixaria barato? É uma dificuldade, que um dia, alguém vai ter que enfrentar. Uma máfia não pode querer mandar mais em nosso Clube, do que nós mesmos, os torcedores.

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Festa do Gauchão de 2008, não há limites. A imprensa atrapalha a imprensa e mais um monte de desconhecidos e filhos de dirigentes invadem o campo.


Recepção aos Campeões Mundiais. Alto esquema de segurança para não ter invasão de campo. No anel inferior só sócios, enquanto que a superior era para os não sócios. Policiais, cachorros, seguranças... Quando o time chegou, o fiasco. O campo estava invadido por centenas de filhos, amigos, funcionários... Uma zorra. Alguém ficou com alguma bela imagem desse evento? Só aquela do Fernandão e o Clemer que tiveram que fugir pra cima da casamata. Ridículo. Poderiam até ter feito a foto oficial de toda a delegação, que acabou sendo feita meses depois no Gigantinho...



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Dica: uma dica de filme para o fim de semana é Ainda Orangotangos, do Gustavo Spolidoro, o mesmo produtor do filme "Gigante - Como o Inter conquistou o Mundo". A câmera começa a filmar no Trensurb e segue em tomada única até a Venâncio Aires. Intercalando pequenas histórias cotidianas e engraçadas em nossa cidade. Em um dos diálogos a personagem conta a "Teoria do Papa Gremista": o Papa João Paulo II esteve em Porto Alegre em 1980, quando o Inter era Tri-campeão brasileiro. Após essa visita, na qual ele rezou missa ao lado do Olímpico, o Inter perdeu a final da Libertadores, o Falcão foi ser visinho do Papa... e blá, blá, blá... Até que o Papa morreu e o Inter voltou a ser campeão.

17 Comentários:

Daniel Chiodelli disse...

Excelente abordagem, Mallet. Para chegarmos lá, precisaríamos de medidas firmes no tocante à organização, para ir mudando a cultura também do torcedor. Disciplina é uma palavra ainda muito pouco compreendida no Brasil. Temos também o problema da imprensa e a CBF, então, pff...

Os exemplos da festa do Gauchão e da chegada do Mundial são ótimos. Se bem que no pódio de Dubai também tava cheio de sobrinho de cheique, huahuahua

Baita abraço!

Lúcia Bastos disse...

Mallet, precisariamos ser colonizados de novo pra que a ordem reinasse aqui ...kkkkk


Asiáticos em termos de organização, estão anos luz a frente de muitos povos.
Exceção feita ao incidente da vara da atleta brasileira nas últimas oplimpiadas, eles sempre dão show em tudo que organizam.

Japones sabidamente é "neurotico" por boas imagens...Não poderia ser diferente o que vimos no mundial.

O retorno da equipe a P.Alegre, mudou a "esbórnia" para o BR !!!

Sou pouco otimista quanto a mudanças ...
Somos culturalmente dispostos a desrespeitar regras, dar "jeitinho"...


Entretanto, seria salutar se houvesse um pouco de ordem nos jogos de futebol, facilitaria a vida de todos, principalmente dos profissinais da imprensa.

Celso disse...

"Quando o time chegou, o fiasco. O campo estava invadido por centenas de filhos, amigos, funcionários... Uma zorra. Alguém ficou com alguma bela imagem desse evento?"


Concordo que é foda mesmo o pessoal filho de dirigente estar lá e etc...

mas eu fiquei com uma bela imagem sim ... não foi nenhum fiasco.. só tu ta falando isso depois de quase dois anos .... eu duvido que alguem tenha uma imagem negativa da festa .. duvido.. só tu e quem eta concordando contigo agora

abraços a todos

celso

Celso disse...

porque tu não fala que é um fiasco as pessoas em cima da mureta ? o cert oera estarem todos sentado batendo palma .. né ? de repente ficava de pé um pouco .. brhoter .. tu ta na europa ? tu não acha que a torcida de hoje é mais comportada que a torcida da decada de 90? tu ia no estadio na decada de 90 ? talves o teu comentario seja para começar a concientizar e fazer com que se cria uma outra culktura.. se é essa a intensão... parabens ... aos poucos chegamos lá ... não te esquce que somos a favela do mundo ... enquanto que o MODELO europeu nos sugou durante 500 anos pra ser todo riquinho e bonitinho como são hoje... antes disso eram tão pobres e incivilizados

bah... já estou esperando uma saraivada de bordoadas .. mas é o que penso

novamente.. abraço,

Samuel Ramos disse...

uma coisa que a cbf podia fazer era organizar os uniformes

tem clubes que colocam 10 patrocinadores por fardamento, fica parecendo uniforme de piloto de f1

se fizerem um sistema para conseguir um grande patrocinador, em vez de 4 ou 5 por camisa, o clube ainda pode até ganhar mais pela questão da exclusividade

os europeus, pelo que percebi, usam esse sistema: um patrocinador por camisa, com local e tamanho pré-definido

o Inter, inclusive, teve que adaptar isso para jogar o Mundial de 2006, e aquela camisa ficou uma das mais bonitas feitas pela rbk

ps:
celso,

não confunda EDUCAÇÃO com PODER AQUISITIVO

uma coisa é ser a favela do mundo (e acredito que não somos), outra é agir como favela do mundo

são coisas bem diferentes

Guilherme Mallet disse...

Celso,

Achei a festa um fiasco, sim. Conto nos dedos os jogadores que eu encherguei. Só via quando eles corriam para fugir dos privilegiados. O Edinho e o Eller correram pra cima de um caminhão de bombeiros...

Foi muito frustante. E eu estava na SOMBRA da social, tinha um monte de gente na superior, torrando no sol.

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Gente em cima da mureta? Onde está escrito que não pode? Nem isso, o Inter faz. Há algum orientador na arquibancada para evitar isso? Evitar que parem nos corredores? Isso tudo é descaso dos organizadores.

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É só querer, nós podemos.

Guilherme Mallet disse...

Olha a parte final desse vídeo:

http://www.youtube.com/watch?v=r_yLCQRqEJI

mostra bem os privilegiados, invasores do campo, atrapalhando.

Ah, e faltou dizer: essa é a terceira semana que escrevo aqui. Por isso, demorei "dois anos" para falar sobre isso.

Abraço.

Celso disse...

Entendo o que tu quer dizer cara... só que o povo sulamericano é diferente.. por razões historicas ... e sempre buscamos o outro como modelo ... e muitos dos outros gostam da alegria desse povo ... provavelmente é eu que idealizo demais as coisas

mas me diz uma coisa: ORIENTADOR ??? fala sério ? o que tu acha que aconteceria com ele ? seria execrado... senão espancado... se nem mesmo a brigada consegue tirar o pessoal dali !!! é muita gente .. nem remodelando o estadio ... só se trocar todos os torcedores que vão ao estadio por outros que teriam feito um curso de 120 hs ou mais ....

Eu não fico me cima da mureta... mas fico de pé na frente dela e me preocupo em não atrapalhar a visão quem estiver atras ... velho desde de 88 .. 20 anos que faço isso ... e tem gente bem mais velha que eu no estadio ... como mudar as pessoas ?

falo !!!!!

Celso disse...

Olha o que a Pimentinha disse:


Somos culturalmente dispostos a desrespeitar regras, dar "jeitinho"...

PERFEITO !!!! PERFEITO !! Sergio Buarque de Holanda disse o mesmo em "Raizes do Brasil" década de 40 eu acho... a questão do "homem cordial" seria a nossa herança para a humanidade... mas cordial no sentido de "jeitinho" da "pessoalidade" .. justamente o oposto da impessoalidade e do GRANDE RESPEITO AS REGRAS dos outros povos europeus ... nao digo que concordo com ele.. o cara ja foi criticado... mas ele tem a sua razão

só nã ococordo com a Pimentinha no "teriamos que ser colonizados de novo"

falo galera !

col disse...

Concordo com a Pimentinha quanto `a desorganizacao da festa de 2006: essa dos amigos privilegiados aconteceria em qualquer clube do Brasil. Eh o jeitinho brasileiro mesmo.

Queria ver o Mallet como presidente barrando os filhos dos diretores na entrada do vestiario...heheh

tiago schaeffer -CXS disse...

No INTER devido ao grande número de "amigos dos amigos" que frequ~entam a zona mista de entrevistas para encher o saco os jogadores pediram para apenas um dar entrevista de forma coletiva ou seja!

tiraram o sofá da sala e deixaram o bode!

o mais correto não seria organizar os reporteres e fotógrafos e redes de TV para que fizessem o seu trabalho após o jogo ,que aliás é importante para o torcedor em geral??

em vez de tirar os jogadores ,não deveriam ser proibidos os parentes de dirigentes??/

vejam os jogos da seleção brasileira como funciona a imprensa!

os jogadores passam pela zona mista e são intrevistados ao longo do caminho como foi com o INTER no japão!

é uma falta de iniciativa e de pulso para tomar decisões que muitas vezes desagradam à alguém que se pode precisar tipo em uma eleição...

Guilherme CB disse...

Mallet,

PERFEITO SEU POST.

O que acontece nos estadios brasileiros em dia de comemoração é uma verdadeira lastima.

Essa História de ser terceiro mundo, de ser favela, de ter jeitinho bla bla bla é desculpa esfarrapada. EDUCAÇÃO NÃO CUSTA NADA!! ORGANIZAÇÃO NÃO CUSTA MUITO!! MUITO PELO CONTRARIO, SE TIVESEMOS FOTOS BOAS O CLUBE PODERIA FAZER ALGUM TIPO DE LIVRO COMO O DO LOUIS.


Segundo esses que não gostam de estadios organizados nem adianta reformar o gigante então. Pq não vão sentar nas cadeiras numeradas, pq vão sentar nos corredores..

pq o torcedor quebra a cadeiras?? pq é favelado ou pq é mal educado?


Falta conciência..

Rodrigo - Internet/BV - Conselheiro disse...

Vale lembrar que a Conmebol tb é rígida com a imprensa em suas competições, mas nem tanto. Na final da Libertadores, eles invadem o campo.

Acho que o problema tb é cultural e histórico. Os países latinos costumam ser mais "calorosos" em comemorações, mais apaixonados. Isso relete na imprensa tb.

Dá pra organizar? Sim. Mas não esperem frieza da imprensa...hehehe

Dadinho SCI - Internet/BV - Seja sócio do Inter! disse...

grande texto mallet.

galera o mallet quer organização, não totalitarismo.

temos que tratar os desiguais desigualmente...

na social, organização e conforto, na popular, festa e simplicidade, eu acho que essa é a tendência dos estádios no futuro, pelo menos no certame sulamericano.

separar o estádio em setores, acho que o gigante já está mais ou menos assim.

e harmonizar essas diferenças no todo.

grande texto mallet.

Guilherme Mallet disse...

Ótimo comentário: "na social, organização e conforto, na popular, festa e simplicidade".

As barras atrapalham a visibilidade, mas... e daí? Quem vai naquele setor sabe disso, quer isso.

Abraços.

Schroder-EUA disse...

Mallet bom texto.

Vale notar que o fernando Carvalho não deu bom exemplo no Mundial pois na volta olimpica do Inter com a taça...quem estava entre os jogadores? O Filho do FC o Martin Carvalho que não fazia parte do elenco mas tava ali no gramado com o time.

Guilherme Mallet disse...

Louis,

Isso diz tudo, cara. Nas fotos da final do Gauchão estão os filhos, os sobrinhos, os netos... do Carvalho, do Píffero, do Luigi, do Affatato, do Mário Sérgio, do Avancini, do Hartmann... todos eles...

Isso explica a zona. E "foda-se" para o torcedor.

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