Ocorre que, por razões que quem nunca caiu para a segunda divisão desconhece, a partir de uma determinada época, gremistas começaram a se atribuir uma tal de alma castelhana, como se isso fosse motivo de orgulho. Pasmem, orgulho maior que o de ser gaúcho! Diziam-se fortes, aguerridos e bravos, mas parece que se esqueceram da virtude em algum canto país (do nosso). Como conseqüência lógica, os colorados das glórias, orgulho do Brasil, aumentaram ainda mais a sua rejeição a tudo que vinha da terra de Gardel. Ressalva feita a alguns “hits” da Popular, que por sua vez também se intitula uma Barra Brava (lamentável).
Então como explicar que a grande maioria dos colorados que, como bons gaúchos e brasileiros, nunca foram muito afeiçoados aos argentinos, têm hoje como seu jogador mais admirado em campo, justamente um castelhano?
Se por um lado Guiñazú demonstra uma raça e entrega comoventes nos jogos, personificando bem a imagem de jogador aguerrido que se confere aos castelhanos, fora de campo ele tem um comportamento diferente daquele que estamos acostumados a ver em jogadores argentinos. O Guina tem uma postura sempre humilde e simpática, é falante e sorridente.
Além disso, Guiñazú não representa, fisicamente, o estereótipo clássico do jogador argentino. Mostrem um jogo do Inter a uma pessoa que não conhece minimamente nenhum jogador colorado e lhe peçam para indicar quem é o argentino. Vai apontar algum cabeludo com tiara na cabeça. Guiñazú, não. Note-se que os próprios argentinos o chamam de “Cholo”, expressão usada para designar cidadãos com traços ameríndios, qualquer que seja sua nacionalidade, mas mais freqüentemente para identificar imigrantes peruanos e bolivianos. Guiñazú não é ídolo na Argentina, não na mídia.

Além do mais, no Beira-Rio, Pablo Horacio virou Guina. Este apelido, que pelo que sei lhe foi dado por Abel Braga, não soa como um nome ou “apellido” de castelhano. Tá mais pra integrante de banda de pagode. E a torcida colorada, por sua vez, também lhe concedeu um novo apelido, o de Cachorro Louco, ou “Perro Loco”, inspirado num sucesso do rock gaúcho, evidenciando assim, mais um aspecto da integração cultural provocada pelo fenômeno Guiñazú.
Teríamos nós, colorados, deixado de ser tão avessos a argentinos com ele no time? Talvez, de certo modo. É que o povo colorado, do qual agora o Guina faz parte, é gaúcho, brasileiro e latino-americano também. Uma coisa nunca excluíu a outra. Pelo contrário, como bem nos ensinou o Prof. Raul há algumas semanas, uma sempre se somou à outra. É uma característica do nosso clube que, afinal de contas, é internacional no seu nome e também nos ideais que inspiraram sua fundação.
O fato é que, desde 2006, quando conhecemos o Guiñazú na Libertadores, ainda jogando pelo Libertad, desejamos vê-lo com a camisa colorada, sendo que nossas expectativas com relação a ele foram atendidas e, até mesmo, superadas. É que o Guina, “El Cholo” ou o “Perro Loco” encarnou com perfeição o espírito colorado: guerreiro, humilde, irreverente, aguerrido e, ao mesmo tempo, muito bom de bola! Para nossa sorte e felicidade, e azar de quem não vê.
Então, som na caixa, DJ: www.ataquecolorado.com.br/guina.mp3
Baita abraço a todos!