Os anos podem não estar corretos, mas foi mais ou menos nessa época. Acho que no fim de 2003.
A última rodada recém tinha terminado, com aquela apresentação indigna do nosso uniforme, frente ao São Caetano, tentando a vaga prá Libertadores. Fomos com o craque Jeferson Feijão, já que uma seleção sub-
imunda dessas nos tinha tirado o Daniel Carvalho e o Nilmar, que estavam voando naquela época, junto com o Diego.
É… acho que o ano foi esse, mas a declaração do FK mais abaixo vai determinar exatamente, e conto com os amigos do BV prá confirmar ou corrigir isso.
Voltando a história, recém tinha terminado o jogo (em outras palavras, recém tínhamos tomado o
quinto), e eu escrevi um email prá ouvidoria.
Naquela época eu era menos corneta que agora, então apesar dos 5 no lombo, eu falei sobre o campeonato de 2004 - o que vinha a seguir.
Eu escrevi com a seguinte sugestão: dizia que ganhar o brasileiro de pontos corridos era mamata. Tínhamos que focar nos jogos em casa, pois apesar de não termos ido tão bem historicamente, em casa o Inter sempre foi muito forte (lembrem-se, estou repetindo o que escrevi no fim de 2003, e não de 2013!!!).
Resumidamente o que escrevi foi que tomando por base a campanha nos jogos
em casa, tínhamos que nos concentrar em vencer TODOS os jogos.
TODOS! Eu dizia que com 23 jogos em casa, poderíamos atingir 69 pontos. Isso era campanha quase prá Libertadores.
Nos jogos fora, três cenários:
- precisávamos jogar fechado quando não tínhamos condições favoráveis (campo ruim, desfalques, chuva);
- precisávamos jogar com cautela contra os times de mesmo quilate - comemorando empates;
- e tentar vencer os menores.
Mas o segredo era em casa. Tinha que dar todo o gás! Tinha que jogar final de copa do mundo. Tinha que sair com tudo prá fazer placar no primeiro tempo já. Cair matando em cima.
Com uma campanha dessas, atingiríamos os 69 pontos em casa, e suponhamos mais 40% de aproveitamento fora, teríamos 6 vitórias, 9 empates, 8 derrotas fora: 27 pontos. Total: 96 pontos.
O Cruzeiro foi campeão naquele ano com um timaço, e chegou a 100 pontos. Irreal. Não conseguiríamos aquilo. Já o segundo colocado, o Santos, terminou com 87. Um empurrava o outro, pois até ¾ do campeonato a disputa ainda estava apertada.
Portanto, descontando aberrações como o Cruzeiro naquele ano, uma campanha dessas era título na certa em 9 a cada 10 campeonatos.
OK, botando um pouco de realismo na história, digamos que não conseguíssemos os 100% em casa. Digamos que houveram 2 empates e 2 derrotas. 59 pontos em casa, mais 27 fora: 86. Ali ali, né? Então no finalzão, com o título a vista, e contando com um outro time tão forte quanto, a gente ia pro pau.
Repetindo, tudo era baseado no que?
Em uma campanha arrasadora no Beira-Rio!
Time + Torcida + PLANEJAMENTO
E era nisso que tínhamos que focar. Desde os treinamentos, desde a preparação, concentração, trabalho junto com a torcida, PREÇO DOS INGRESSOS.... tudo isso tinha que ser feito visando a vitória a todo custo
dentro de casa. Era praticamente como se tivéssemos jogando dois campeonatos diferentes ao mesmo tempo. Dizia inclusive que se houvesse um jogo difícil em casa, deveríamos poupar jogadores no jogo fora.
Era um email extenso, e achei que tinha uma boa dose de imaturidade, já que era recém o primeiro campeonato de pontos corridos.
Mesmo assim, qual não foi minha surpresa quando um mês depois, em janeiro, na palestra de apresentação dos jogadores pro ano de 2004, Fernando Carvalho dizia em voz firme "Temos que ganhar TODOS os jogos no Beira-Rio! TODOS!" Lógico que a imprensa repercutiu muito isso. Eu fiquei imaginando se era uma baita coincidência ou meu email realmente tinha chegado até a direção...
Resultado?
Nos primeiros dois jogos do gauchão em casa.... empates em 0 x 0.
A imprensa caiu em cima, muita repercussão, e logo aquilo foi por água abaixo.
Onde estava o erro?
Na minha opinião, a idéia não foi adiante após a palestra no vestiário. Ficou só na conversa. Só no discurso de incentivo! Ele falou aquilo, o pessoal gostou do que ouviu, mas aí não se fez mais nada. Duvido que tenham feito um planejamento, DUVIDO que tenham trabalhado isso com os jogadores, e DUVIDO que mesmo tendo feito isso, os jogadores tenham acreditado. O que aconteceu foi que jogaram jogo a jogo, como sempre se fez.
Vieram os dois primeiros empates em casa, no GAUCHÃO, e a idéia morreu por ali.
Mas porra, era o GAUCHÃO!!!! Eram recém os primeiros jogos do ano!! Aquele time de 2004 era bom, e foi a base do time de 2006!! E gauchão, é pré-temporada!
Se a idéia de um torcedor qualquer foi levada tão a sério assim, por que foi abandonada com tanta facilidade?
Eu ainda acho que isso é possível. Lógico que vão dizer... ah, mas se joga pontos corridos há décadas no mundo todo, alguém já deve ter tentado isso… e comprovado que não dá certo.
Bom, fica o desafio prá ver se realmente isso pode acontecer.
Falando em números, olha aí:
Em 2004, o ano da historinha acima, atingimos 71% no Bêra: 15 – 4 – 4. Porra, com um pouco mais de esforço, planejamento, preparação, dava prá ter transformado em 17 – 4 – 2. Isso dava 55 pontos. Com os meus 40% de aproveitamento fora, dava um total de 82 pontos. Dava Libertadores.
Se eu calculei certo (o Futpédia só mostra de 5 em cinco – as colagens na figura foram na mão), nossa média nesses últimos campeonatos é de 64% de aproveitamento em casa. Eu falei em aumentar esse número prá 85%. Dá prá fazer isso.
Transformando isso tudo pros pontos corridos de hoje em dia, com menos jogos (são 20 times, ao invés de 24), a campanha seria a seguinte:
Em casa: 15 – 3 – 1: 48 pontos (ou 84%)
Fora: 6 – 5 – 8: 23 pontos (ou 40%)
71 pontos (ou 62%)
E olha, time que faz 85% em casa, com certeza faz mais que 40% fora.
ps. No momento em que esse texto é publicado, vou estar sobrevoando os EUA em direção ao Brasil. Chego na segunda de tarde só, e do aeroporto direto prá praia. Por isso, podem me xingar a vontade. Não vou ver os comentários durante o dia todo!