Escrito por Raul Pons
No início de 1927 o Internacional amargava um incômodo jejum. Não ganhava um título da cidade desde 1922, e sua última conquista na mesma liga do Grêmio havia sido em 1916.
A APAD (Associação Porto Alegrense de Desportos) estava em reformulação. Além da 1ª divisão, que contava com Internacional, Grêmio, Cruzeiro, Americano, Porto Alegre e São José, a entidade decidiu criar uma 2ª divisão, com Marechal de Ferro, Liége, Concórdia, Ypiranga, Brasil e Teresópolis. O Colorado também precisava se reformular, para voltar a vencer.
As mudanças para retomar o caminho das conquistas começaram no plantel: na zaga, Carlito, jogador da seleção gaúcha, foi substituído pelo jovem Gilberto, que veio do 14 de Julho de Livramento. Ao seu lado atuava Grant. Na linha média continuavam os experientes Ribeiro e Lampinha (veteranos do título de 1922), e a revelação Paulo "Manotaço". No ataque, Nenê, Miro e o uruguaio Ross (que veio do 14 de Julho de Passo Fundo) entraram na equipe, ao lado de Veiga e Barros. Mas a grande mudança ocorreu no gol. Em 1926 vários atletas jogaram na posição: Bard, Orestes e o veterano Job foram alguns. Para 1927 o Internacional apresentava Moëller, grande revelação do Novo Hamburgo.
Outros clubes também se reforçavam: o Americano trouxe Bacalhau (ex-Rio Grande), José Dornelles “Barulho” (ex-Cachoeira) e João Lacave (veio de Pelotas). O Cruzeiro reforçou-se com Luiz Tupy M. Silveira (ex-Guarany de Bagé), que veio estudar em Porto Alegre, e com Franklin Jorgens, vindo de Santa Maria.
No Torneio Início as coisas não foram muito boas para o Colorado, que perdeu a decisão para seu rival por 1x0.
No campeonato, o Internacional começou bem, goleando o Americano, mas empatou na 2ª rodada com o Cruzeiro, enquanto o Grêmio vencia seus dois jogos. Uma curiosidade no jogo contra o Cruzeiro: Miro entrou no lugar de Gatti, na primeira substituição em uma partida oficial do Internacional. No Gre-Nal, o Colorado mostrou que queria o título. Saiu vencendo a partida por 2x0, sofreu o empate, mas foi buscar o 3º gol. A renda do clássico, disputado na Chácara dos Eucaliptos, alcançou o valor recorde de 16:533$000 (16 contos e 533 mil réis), para um público de cerca de sete mil pessoas. Na partida seguinte, contra o São José, o atacante colorado Nenê cobrou uma falta com extrema violência, fazendo com que a bola, após chocar-se com a trave, voltasse ao meio do campo. Ainda no 1º turno o Internacional perderia mais um ponto, ao empatar com o Porto Alegre, ficando igualado ao rival. Foi o único ponto que o Porto Alegre conquistou, no 1º turno.
Na abertura do returno, novo Gre-Nal, e nova vitória colorada (3x1). Mas logo em seguida o time tropeçou no Americano. Nesta altura, Internacional, Grêmio e Americano lideravam o campeonato, com 10 pontos ganhos em sete partidas. Entretanto, na seqüência o Internacional ganhou todas as outras partidas. No jogo contra o Porto Alegre, uma curiosidade: quatro gols foram marcados em lances de carga sobre os goleiros, prática válida, na época. Um dos gols do Porto Alegre sequer teve autor identificado, pois foi resultante de uma carga de todo o ataque do clube contra o goleiro colorado Moeller, que após defender a bola foi sendo empurrado para dentro da meta pelos adversários. Enquanto o Grêmio empatava com o Cruzeiro e era goleado pelo Americano (6x3). A partida entre Grêmio e Cruzeiro teve apenas 45 minutos. O árbitro João Barcellos, após sofrer várias reclamações de parte do jogadores gremistas (principalmente de Eurico Lara), recusou-se a apitar o segundo tempo. Enquanto os dirigentes da APAD procuravam um novo juiz, Barcellos aproximou-se de Lara e Nestor (do Cruzeiro), que comentavam a sua atuação. Logo começou uma discussão e Lara agrediu o juiz com dois socos. Barcellos correu para o meio do campo, sendo perseguido por Lara e outros atletas gremistas. Em consequência, o segundo tempo foi cancelado. A APAD suspendeu Lara por 8 jogos e marcou a disputa do 2º tempo para 31 de julho. Como na data o campeonato já estava decidido, o Cruzeiro entregou os pontos para o Grêmio. Antes disso, com a vitória sobre o São José, o Internacional ganhava um título municipal depois de cinco anos.
Campanha Colorada
1º Turno:6x1 Americano - Barros (2), Veiga (2), Ribeiro e Nenê2x2 Cruzeiro - Ribeiro e Nenê3x2 Grêmio - Ross, Miro e Ribeiro2x0 São José - Nenê e Barros0x0 Porto Alegre2º Turno3x1 Grêmio - Barros (2) e Nenê2x3 Americano (*)3x2 Cruzeiro - Ribeiro (3)5x2 Porto Alegre - Ribeiro (2), Nenê, Darcy e Barros4x1 São José - Ross (2) e Ribeiro (2)
(*) o Correio do Povo estava brigado com o Americano e quase não cobriu o jogo, sequer citando na reportagem o nome do adversário colorado.
Classificação Final:
1º Internacional – 16
2º Americano – 15
3º Grêmio – 14
4º São José – 7
5º Cruzeiro – 5
6º Porto Alegre – 3
Com o título da cidade, pela 1ª vez na história o Internacional disputaria o campeonato gaúcho. Seu primeiro adversário seria o Itapuí, de Guaíba, mas o adversário não poderia utilizar o seu capitão Nona, que estava com sua inscrição junto à FRGD cassada, por já ter atuado no São José, no início do ano. Para utilizar seu principal jogador, o Itapuí propôs entregar os pontos ao Internacional e disputar uma partida amistosa, sendo aceito pela FRGD. Mesmo assim, deu Colorado (3x0). Na partida seguinte, o Internacional venceu o Nacional de São Leopoldo por 4x1 (Veiga (2), Ross e Nenê). Vencedor da chave metropolitana, o Internacional foi enfrentar na decisão o vencedor da chave do interior, o forte Bagé, que contava alguns jogadores conhecidos, entre eles Pasqualito, atacante famoso pelo chute forte.
Além da qualidade do adversário, o Colorado tinha outros problemas para enfrentar: o bom zagueiro Gilberto estava lesionado, e não jogaria. Às pressas, os dirigentes foram buscar o veterano Meneghetti, que havia encerrado a carreira no ano anterior. O jogo começou parelho, mas logo o Internacional estabeleceu uma leve vantagem. No final do 1º tempo, Barros abriu o marcador para o Internacional.
No início da 2ª etapa, pênalti para o Colorado. O artilheiro Ribeiro se prepara para bater. Mas infelizmente, Ribeiro chuta para fora. Para piorar, pouco depois Pasqualito empata, também de pênalti. Mas aos 21' Nenê faz 2x1, e aos 34' (na época as partidas tinham dois tempos de 40') Barros liquida o adversário, marcando 3x1.Após o Internacional conquistar seu primeiro título estadual, o Correio do Povo publicou vários telegramas que chegavam, saudando o novo campeão. Eram telegramas da diretoria do Pelotas, da diretoria e dos atletas do Brasil, do Guarany de Bagé, do Uruguaiana, do Barrense (Barra do Ribeiro), do Sudameris, do Grêmio e de torcedores colorados de Porto Alegre, Bagé, Garibaldi, Bento Gonçalves, Lajeado, Encantado, Canela, Passo Fundo, Santana do Livramento, Caxias do Sul, Vacaria, Guaíba e Rio de Janeiro.