A atividade política tem me tomado bastante tempo. Já perdi a conta de quantas reuniões participei este ano para tratar de temas que vão da tecnicidade da contratação de um parceiro comercial para as reformas do estádio, passando pela política de composição da Presidência do Conselho até a apreciação das contas do exercício anterior. Escrevo este post antes da reunião de segunda-feira à noite, na qual ocorrerá a apreciação das contas.
Peço desculpas para aqueles que se decepcionaram por acharem que teriam, aqui, mais informações sobre os bastidores do clube. Não tenho publicado com a mesma frequência do ano passado por uma série de razões, inclusive de ordem pessoal. Mas também confesso que tive receio de tornar este espaço enfadonho com ida e vindas políticas que pouca relação guardam com o desempenho do time em campo que, creio eu, é o que mais nos interessa. Mas como disse antes, também por isso foi salutar a cobrança feita. É preciso falar das coisas da instituição.
A atividade política do clube exige que se atenda a muitos interesses e demanda muita energia para, a meu juízo personalíssimo, pouco resultado prático. Mas até que se consegue avançar um pouco. Digo isso quando me refiro especificamente à questão das obras. Foram algumas boas reuniões discutindo questões técnicas acerca da melhor maneira para financiar as reformas do Beira-Rio. E após uma série de plenárias e reuniões com dirigentes do clube, inclusive algumas nas quais tive a oportunidade de conversar com o então funcionário Aod Cunha e também com o Presidente, Giovanni Luigi, presenciei uma proposta nascida num encontro do Convergência Colorada ser praticamente adotada na íntegra pela gestão.
Ninguém pode afirmar como teria sido se não houvesse a abertura de concorrência e uma Comissão Executiva instituída para acompanhar as negociações. O fato é que houve essa movimentação e quem está trabalhando nesse processo está tendo a oportunidade de defender os interesses do clube mais de perto. Eu diria que houve uma descentralização na sistemática decisória nessa questão. E assistir à apresentação da consultora Ernst & Young, no Conselho, há duas semanas, sobre as propostas concretas apresentadas para as reformas, mostram que se concretizaram propostas no sentido de tornar tudo mais transparente no âmbito do clube, ao menos nesse assuntou. Pouco a pouco, se consolidam algumas conquistas.
Nessa mesma linha, reputo como positiva a passagem de Aod Cunha pelo clube. Na prática, ele não chegou a ser um CEO. O clube ainda precisa passar por uma série de reformulações em seus procedimentos internos mais básicos para se adaptar a um estrutura que comporte, efetivamente, uma gestão profissional. Mas um primeiro ensaio foi feito. E as ideias parece que não se perderam. A racionalização dos procedimentos administrativos, a adoção de gerenciamento de processos, um maior controle dos gastos do clube, maior atenção para contratação de prestadores de serviços (desde os serviços de limpeza até o patrocinador master do clube), são temas que passaram a ser vistos sob novos prismas. E não se pode perder de vista tais metas.
Por que Aod saiu? Não tenho conhecimento específico, mas basta dizer que ele não aguentou a desorganização institucional. Não estou aqui dizendo que o Inter é uma bagunça e que nada lá se faz direito. Pelo contrário! Se considerarmos a média dos grandes clubes do futebol brasileiro, estamos bem acima, provavelmente, no topo. Mas pra quem vem de fora, pra quem atua no setor privado e vê o clube como uma empresa (ainda que formalmente não seja essa a sua constituição), é chocante sua realidade administrativa. E Aod não a suportou. Particularmente, eu esperava que ele fosse aguentar um pouco mais. Afora isso, o que posso dizer é que me impressionaram positivamente suas explanações no Conselho. É um homem de negócios, não é um mero político, sem nenhum tom depreciativo, aqui.
Mas o fato é que nem tudo são flores e, aliás, nesse jardim o que mais tem são espinhos. Que o clube não é superavitário eu sempre soube. Aliás, o futebol profissional, no mundo todo é, em regra, deficitário. Mesmo os grandes clubes europeus têm que rebolar e mostrar muita criatividade para transformar o jogo num espetáculo efetivamente lucrativo. Convenhamos, os artistas da bola são muito caros e, quem quer taça no armário, precisa pagar o preço. Mas nem por isso, se vai aceitar alguns abusos.
Chegamos aos 100 mil sócios. Vendemos mais que um jogador por ano (só em 2010, de expressão, foram-se Taison, Walter e Sandro) e, pra completar, vendeu-se também o velho estádio dos Eucaliptos. E, pasmem, ainda assim fechamos o ano com déficit cujos valores, conforme o critério contábil adotado, pode variar de R$ 2 a R$ 21 milhões.
Como? Pormenorizadamente, eu não sei. Afinal, como se diz no clube, o futebol é hermeticamente fechado. Mas imagino, como tantos outros torcedores o fazem, ao lembrar de Edu, Ilan, Kléber Pereira... paro por aqui.
Não é fácil se dedicar ao Inter. Por muitas vezes, pelos mais variados motivos, dá vontade de largar. Como diz um grande amigo meu “é melhor ficar do lado de cá do balcão”. Mas como recém entrei no Conselho, vou teimar mais um pouco e tentar fazer jus aos votos que a Chapa na qual eu estava inscrito recebeu.
O mais difícil ao prestar contas ao eleitor, é trazer a informação que a todo sócio e torcedor é devida, sem atentar contra o Código de Ética do Conselho, que nos impõe algum sigilo em relação a determinadas matérias. Claro que, até nisso, muitas vezes a decepção nos consome, pois enquanto evito comentar determinados assuntos, vejo o Parecer do Conselho Fiscal impresso nas páginas do Correio do Povo.
Quando este post estiver no ar, as contas do exercício 2010 já terão sido votadas no Conselho. Antes da reunião, o que se fala é que o clima vai esquentar. Independentemente da temperatura da reunião, espero representar bem os sócios que confiaram seus votos na minha Chapa e creio que as explicações técnicas e políticas sobre o tema já estarão publicadas no site do Convergência Colorada.