terça-feira, janeiro 20, 2009

27 A Guerra dos Cem Anos

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A incapacidade de encontrar soluções diplomáticas para os mais variados conflitos de interesses (políticos, econômicos, étnicos, religiosos, etc.) é o que, muitas vezes, acaba por dar origem aos indesejáveis confrontos armados mundo afora. Mas são tantos os exemplos de guerras na história da humanidade e tantos os conflitos bélicos que teimam em continuar existindo que chego à conclusão de que as guerras exercem um certo fascínio no ser humano.

O estudo das mais variadas táticas de guerra é algo, de fato, interessante. Contudo, basta cair a primeira gota de sangue para que aquilo que até então parecia fascinante se torne algo horrível, deprimente, injustificável.

Felizmente, quando me envolvo em guerras, é sempre no sentido figurado. Ocorre que ao falar de futebol, usamos muitíssimo um linguajar bélico. Nossos times têm suas formações táticas, estudamos os movimentos dos adversários e treinamos ataque e defesa. Temos artilheiros, pontas de lança e até mesmo arqueiros. O comandante fica na casamata e queremos que os seus comandados sejam aguerridos dentro de campo.

É uma cultura tão arraigada que utilizamos esses termos diariamente com total naturalidade, sem querer fazer qualquer referência à violência. Felizes de nós que podemos guerrear dessa forma, sem derramamento de sangue. Gostaria que todos os torcedores, de todos os times, também pensassem dessa forma.

Nesse contexto, e somente nesse contexto, eu adoro as guerras. E também fico extremamente feliz quando ouço declarações como a do nosso “soldado” D’Alessandro, que disse: “Estamos preparados para a guerra.” Perfeito! É isso que quero e é isso que espero de todo e qualquer jogador que defender as cores do Internacional.

O Inter é um clube com uma história muito bonita, cuja fundação foi inspirada em princípios como o pluralismo e a impessoalidade. Ao longo de sua existência, continuou quebrando paradigmas, consolidando-se como um clube que rejeita preconceitos, afirmando uma identidade bastante popular e contando com a participação dos torcedores no seu crescimento, como na construção do estádio Beira-Rio.

Ouso afirmar que a história de cada torcedor colorado daria um belo livro. A paixão que move os torcedores deste clube vai muito além da mera simpatia por um time de futebol. Há uma identificação com princípios e valores, com história e atualidade, que faz com que seus torcedores sintam-se compatriotas, membros de uma verdadeira nação.

Além disso, jogadores que aqui “nascem”, tornam-se defensores fervorosos do clube. Muitos atletas que para cá vem, acabam se “naturalizando” colorados, firmando residência em Porto Alegre e fazendo do Beira-Rio sua segunda morada.

Dentro de campo, o Inter formou times memoráveis. O Rolo Compressor, na década de 40, consolidou a hegemonia colorada no futebol regional. O grande time da década de 70, desbravou as fronteiras do Rio Grande conquistando os primeiros títulos nacionais do futebol gaúcho. E no início deste milênio, o clube resgatou sua grandeza, conquistando a Libertadores e a Copa do Mundo de Clubes.

Portanto, toda vez que entrarem no gramado, quero mesmo ver os jogadores do Internacional com esse espírito aguerrido pronunciado pelo D’Alessandro. A torcida e a história de um clube de futebol fazem parte do seu patrimônio, mas é também das vitórias dentro de campo que essa coletividade se alimenta. Então, a cada partida, um exército inimigo entra em campo querendo tirar o alimento da minha nação. E para cada uma dessas batalhas, onze escolhidos terão a honra de lutar por um povo quase centenário, que depositam neles sua confiança, sua esperança e seu amor.

Ao vestirem o fardamento colorado, ao ostentarem nossos símbolos e nossas cores, esses guerreiros estarão defendendo toda uma história, todos aqueles princípios, todos aqueles valores que inspiram o clube desde a sua fundação. Estarão representando também a história de vida de cada torcedor, seus sentimentos, seus sofrimentos, suas angústias e suas expectativas

É isso que quero que nossos jogadores tenham em mente e levem em seus corações. Eles são os escolhidos, aqueles que têm a honra de defender não apenas o desejo de meros simpatizantes, mas os sonhos e a felicidade de um povo, de uma nação.

Estaremos nas arquibancadas, torcendo e apoiando com o nosso grito. Sempre em paz, pois essa guerra é simbólica, metafórica. O jogo tem suas regras e estas devem ser seguidas à risca.

Eis a nossa guerra, e que possamos continuar lutando por mais cem anos e depois mais cem, e, assim, eternamente, na mais absoluta paz!