Escrito por Diana Oliveira
Hoje é primeiro de agosto, oitavo mês do calendário gregoriano, nome dado em homenagem ao imperador César Augusto – isso tá na Wikipédia. Há uma explicação científica e outra popular para o termo “mês do cachorro louco”. A primeira é porque nesse mês há uma grande concentração de cadelas no cio, provavelmente por condições climáticas, assim os bichinhos querem muito fazer amor e acabam proliferando o contágio da raiva, doença que os enlouquece. Já a teoria popular crê numa visão mais sensitiva, de que o mês de agosto é carregado de energias negativas. Pobres leoninos, agora entendo o excesso de autoconfiança predominante nos nascidos deste signo; pudera, ninguém gosta desta parte do calendário, então somente os próprios filhos de agosto são capazes de se admirarem.
Opa, ninguém gosta desta parte do calendário? Tem certeza Dona Crença? Hoje, pelas ruas da capital, comemora-se a chegada do mês próspero, que nada tem de cachorro, é do Saci. O que outrora simbolizou insucesso, hoje representa a esperança dos vermelhos, com estréias importantes do plantel de jogadores. Este mês inicia muito bem pra nós, o time e técnico habitualmente questionados conquistaram ascensão na tabela do Brasileirão, deixando a situação bastante confortável para os que integram o grupo oficialmente a partir de agora.
A bem da verdade, já em 2006 a torcida colorada quebrou o paradigma de agosto, mês do desgosto. Com lembranças eternas dos dias 09 e 16.
Nessas horas concluo, como é difícil paras as pessoas abandonarem não apenas mandingas, mas também padrões, tradições, conceitos estabelecidos. Por exemplo, analisando de forma simples e matemática, o 352 é um esquema onde a maior preocupação está em defender-se, já o 442 seria uma formação ofensiva. Então um time menos qualificado no ataque preocupa-se em não levar gol, pra atingir a meta adversária no contra-ataque. Seria um esquema tático dos desfavorecidos, pois quando a bola é tocada com qualidade ofensiva vale a máxima de que a melhor defesa é o ataque. Poderíamos então dizer que o 442 é uma evolução do 352. Certo, concordo. Mas quem inventou essa de chama derrota? Diga isso ao Felipão, que conquistou uma Copa do Mundo assim.
Claro, agora dou margem às avaliações pontuais, a seleção de 2002 era muito bem servida de qualidade, qualquer esquema ali daria suco. Mas me atenho ao Inter, no início do ano eu dizia que deveríamos jogar o Gauchão e a primeira fase da Libertadores no 352, eu achava que tomávamos cada lavada de times que jogam nesse esquema, justamente nos contra-ataques. Pensava eu: os caras tão voltando de férias depois de um ano exaustivo, sem Eller, Rafael Santos um guri, sem um meia de criação consistente, o Pinga em vias de se estabelecer, então vamos de 352, pra não deixar o zagueiro inexperiente no desfalque da defesa, povoar um pouco mais o meio de campo e obter um pouco mais a sobra. Não faríamos belas apresentações, mas garantiríamos os pontos, o que pra mim naquele momento era o importante. Depois sim, no crescimento da equipe, vai pro esquema que qualifica.
Perguntava qual o problema de usar um esquema agora e mudar depois? Ouvi toda a novela destrutiva da tática que nos liquidava, pois bem, os boleiros é que sabem... Fomos desclassificados das duas competições, saiu o Abel e chegou o Gallo, sem esquema definido, sem jogadores firmados e passei a crer que histeria coletiva é um caso de psicologia social profunda quando o assunto é futebol. Também questionei a capacidade do novo técnico, me apavorei mesmo contra o Fluminense, último jogo antes da primeira final da Recopa, acho que foi a partida mais deprimente do ano. Aquela corrida do Roger vencida sobre o Índio acabou comigo. Então comecei a ouvir o Gallo nas entrevistas, na tentativa de entender o que aquele cara tava fazendo com o Inter.
Com “R” carregado ele dizia “no futebol modeRno o time deve adaptar-se à situação de cada jogo, pois quando os jogadores conseguem atuaR de diferentes maneiras táticas, o grupo passa a ser menos previsível e se fortifica”. Puxa vida, pensava eu, era isso que eu queria dizer no início do ano e a cada partida mal sucedida conversava com Gallo em meus pensamentos “tá faiada essa nossa filosofia hein”... Mas o tempo foi passando, as substituições no decorrer das partidas foram melhorando, os jogadores compreendendo as variações e hoje temos a realidade do sexto lugar.
E não falta jornalista e corneteiro que mata o Gallo na segunda e ele, mais que Jesus Cristo, ressuscita na quarta. É consciente a ressalva de que o menino prodígio é meio time, de que a seqüência é vitoriosa, as atuações nem tanto; mas também vale lembrar que os reforços de peso não jogaram ainda, principalmente no meio, onde amargamos problemas sérios desde o começo da temporada. A crítica insiste que não há outra fórmula além de estabelecer um esquema tático e um time titular. O Gallo segue afirmando que banco tá ali pra ser usado, que esquemas foram inventados para serem aplicados quando e como forem necessários. Enfim, agosto chega inovando teorias à moda de Galileu, enterrando crenças populares nos equívocos de Nostradamus e trazendo de volta quem mais anseio retornar: que saudade de ti capitão!