Como o Rafael estará de ferias por um tempo estou colocando aqui textos de pessoas que me enviaram por email ou que escreveram no Blog Vermelho versão Orkut. Esse é do Pedro Heberle que a muito tempo havia me escrito querendo colaborar com o Blog Vermelho.
Por Pedro Heberle
Eram 11 guerreiros de branco. Tal qual o Real Madrid de Puskas. Tal qual o Santos de Pelé. Comparação um tanto quanto pretensiosa, claro, especialmente se levarmos em conta que, naquela manhã do dia 17/12/2006, não havia no meu amado Internacional um craque consagrado mundialmente como houvera outrora.
“Sabe”, disse meu pai, na véspera, “eu ficaria mais tranqüilo se o time que entrasse em campo amanhã fosse aquele de Manga, Figueroa, Falcão...”. Pensei um pouco e respondi: “Mas, pai, não foram Manga, Figueroa e Falcão que ganharam a América; foram Clemer, Fabiano Eller, Fernandão e companhia.” A minha resposta, supostamente irrepreensível, agradou mais ao velho colorado do que a mim. Eu lembrava que o time que conquistara a América fora desfalcado de quatro dos nossos principais jogadores. Havia opções para a ausência de Jorge Wagner, Bolívar fora bem substituído por Índio e Iarley assumira a posição de Rafael Sobis com maestria, mas Tinga deixara uma lacuna que, até pouco tempo antes do torneio, eu pensava que não seria preenchida.
Mas houve o jogo contra o Palmeiras. E houve Pato. Um mês antes do Mundial, uma das mais imponentes estréias da história do futebol brasileiro. Contra o Palmeiras, na própria casa do alviverde imponente, onde desfilaram Ademir da Guia e Leivinha, o rapaz de 17 anos tabelou com Fernandão e, a 1 minuto e meio de jogo, marcou um golaço de centroavante. Em meio a dribles, cabeceios e arrancadas, viriam mais três; todos com sua participação, dois praticamente seus. Abel Braga o retirou logo no início do segundo tempo, para evitar que os impotentes zagueiros palmeirenses arrancassem suas pernas, a única solução contra a mágica do mais novo prodígio do Celeiro de Ases. Final: Palmeiras 1, Alexandre Pato 4.
Com ele, resolvia-se o problema da ausência de Tinga. Fernandão era recuado, para tentar repetir com o garoto e Iarley no Japão a mesma fórmula vitoriosa do jogo contra o Palmeiras. E assim foi feito: já no jogo contra o egípcio Al Ahly, o capitão colorado lança Pato entre os zagueiros, que se atrapalham e deixam-no livre para desferir a batida forte, seca e precisa mais uma vez, no canto aberto à esquerda do goleiro inerte. Pato se afirmaria de uma vez por todas como craque ao dominar a bola e correr pela lateral equilibrando-a sobre o ombro, diante de um mundo boquiaberto com o audacioso futebol do rapaz. Minutos depois, ele foi substituído pelo também garoto Luiz Adriano, que confirmaria com um gol de cabeça a vitória e a vaga colorada na final.
O adversário era o temido Barcelona, internacionalmente festejado como o melhor time do mundo – e com muita propriedade. Entre as estrelas, Zambrotta, campeão mundial pela Itália; o espanhol Iniesta; o luso-brasileiro Deco; e, com a camisa 10, duas vezes escolhido melhor do mundo, conhecido como o novo Maradona (segundo o próprio!), o gaúcho Ronaldinho.
Velho adversário colorado, Ronaldo jogara no time da Azenha havia pouco, no início da sua carreira, quando já era possível notar onde seu futebol o levaria. E ele fazia questão de mostrar seu talento contra o meu Internacional, que sofreu alguns anos em suas mãos. Acontece que sua conturbada saída do estádio olímpico o deixou em dívida com os gremistas; e o garoto da Vila Nova estava disposto a pagá-la na mais perfeita das ocasiões: a final de um campeonato mundial, onde poderia levar seu Barcelona ao título inédito e impediria o seu eterno rival porto-alegrense de igualar-se ao tricolor gaúcho.
E os dois entraram no gramado. O time catalão, não bastasse todo o resto, havia goleado espetacularmente o América do México na outra semifinal, em contraposição à vitória apertada do Internacional sobre o time egípcio. Os 11 guerreiros levavam consigo a apreensão de 23 anos da torcida, a ânsia de igualar-se ao rival, mas também duas certezas: a de que futebol não se faz com lógica – o gigante catalão pode ser derrubado, assim como o grande Inter de 80 fora batido pelo Nacional de Montevidéu; e a de que derrotar times listrados é especialidade colorada.
O jogo começa. Os guerreiros de branco se empenham como nunca. O adversário é poderoso – o toque de bola é fluente e os jogadores ocupam cada espaço do campo. Assim como os de branco! E os espaços para a equipe azul e grená começam a se fechar. O Inter começa inclusive a arriscar conclusões. As estrelas Pato e Fernandão não aparecem muito, mas se entregam com firmeza na marcação! O jogo amorna, e as expectativas de goleada por parte da imprensa de todo o planeta começam a se frustrar.
Fim do primeiro tempo.
Os times voltam a campo, e é o Colorado que sai com a bola. Quando o apito soa, percebe-se que está em campo o Internacional mais determinado de todos os tempos. Ronaldinho assiste a cada drible seu ser desarmado por um gigante na lateral direita; Ceará sabe que marca o melhor jogador do mundo, tão logo se vê transformado no maior lateral do mundo. O Barcelona consegue alguns arremates perigosos para o gol, mas o time gaúcho realiza a maior atuação defensiva já vista no Japão. Tudo parece estar se encaminhando, quando Fernandão sente câimbras. Quase simultaneamente, Índio cai ensangüentado, com o nariz quebrado acidentalmente por Edinho. Há uma substituição a se fazer, pois Vargas entrara no lugar de Alex e Alexandre Pato – valente, mas de atuação discreta – cedera lugar a Luiz Adriano. Fernandão resiste em um primeiro momento, mas desaba em seguida. Entra em seu lugar Adriano. O vaiado e malquisto Adriano Gabiru. O Inter, que marcou suas conquistas com gols de ídolos como Figueroa, Falcão e Tinga, via-se no campo de Yokohama sem dois de seus principais jogadores.
Mas o Inter é o clube do Povo, da superação! E Índio, com um curativo no nariz, levanta-se bravamente. Ao parar um ataque, finta Ronaldinho e afasta a bola da defesa. Adriano pula e cabeceia para Luiz Adriano no meio de campo. Este torneia de cabeça e lança Iarley no ataque. O magnífico atacante domina e vê em sua direção o enorme Puyol, zagueiro da seleção espanhola. O capitão do Barça avança sobre o cearense, mas, afoito, toma por baixo o toque. O drible. Pelo meio das pernas do zagueiro, o cometa Iarley deixa para trás a Catalunha inteira. A Espanha inteira. O Mundo inteiro. Ao avançar para o gol, vê Luiz Adriano, à sua direita, puxando para si a marcação. E, à esquerda, Gabiru. O passe é magistral; deixa o zagueiro caído e a bola limpa para Adriano dominar com o lado externo do pé direito. No toque seguinte, a batida no canto. O goleiro chega a espalmar, alterando a trajetória da bola, que sobe. Os segundos entre o chute e seu destino final viram anos. Anos sem títulos. Anos de conquistas do adversário. A imagem da televisão pode ser enganosa, todos sabem disso. Mas ela cai. E estufa as redes.
O grito preso nas gargantas vermelhas por todo o mundo é libertado. É gol!!! Colorados não acreditam. Eu, pelo menos, não acredito. O gol esperado há, pelo menos, 23 anos. O gol que eu esperava desde que comecei a ser colorado. O gol que havia de acontecer, cedo ou tarde, para suprimir uma injustiça futebolística tão grande. Não penso no adversário tricolor, penso nos colorados. Colorados que, como eu, desejavam este momento secretamente, mas nunca exclusivamente. Colorados que iam ao estádio contentes apenas em reverenciar um passado brilhante, apenas em acompanhar vitórias singelas. Torcedores que nunca pensaram que este momento chegaria, mas que mantiveram-se envolvidos no manto vermelho. Torcedores que perderam o emprego, amigos, familiares, mas não a paixão. Torcedores que não almoçavam para levar seus filhos ao Beira-Rio.
Quis o destino que o uniforme vermelho, festejado por todos os grandes títulos anteriores do clube, desse lugar ao branco; quis o destino que um clube que já contou com Tesourinha e Paulo César Carpeggiani alcançasse a glória máxima com um elenco muito mais desacreditado; finalmente, quis o destino que o jogador contestado, vaiado, vilipendiado, entrasse no lugar de um dos maiores ídolos do Internacional de todos os tempos para marcar seu gol e selar nosso compromisso com a história.
O Inter de 2006, sem um elenco galáctico, jogou no limite. E o limite foi o Mundo.
8 Comentários:
o Luis, posta 1x só q tá de bom tamanho....hehehe
Isso me aconteceu esses dias, ao invés de republicar o mesmo post depois de uma alteração, a ferramenta do blogger publicou uma nova versão e meu post saiu duplicado.
Aqui tanto no IE qto no FF esse post do Limite aparece umas 6x na corrida
abs
Gabiru é o Chico Espina moderno!
Mas que bahhh... só li até o terceiro repetido, Louis....heheh
louis,
o blog tá ga-ga-gago!
ou melhor,
trancou o disco... hehehe
KKK...pô Louis assim tu vai fazer o Pedro Herberie ser o cara mais lido do blog desde sua fundação hehehe...
OFF: E o tal distintivo que a FIFA irá criar eque somente os reais Campeões do Mundo poderão ostentar em seus uniformes?...héin?...parece que tô vendo a choradeira das gazelas e de outros clubes do Brasil...
vo para de bebe, to vendo uns 4 posts iguais hehehe.
no dia do mundial, na hora do gol, nao comemorei,alias nao consegui comemorar nem nada, nem sorrir, nao conseguia pensa em nada na hora. q sensaçao esquisita, só lembro q fiquei de pé na frente da tv, na hora dei uma travada geral, acabou o jogo sai correndo q nem loco procura a comemoração huahahauhua q dia foi esse!
meu primeiro pensamento foi "algum gremista fez uma sabotagem" no BV.
Pois é nao sei porque o topico apareceu 7 vezes mas ja arrumei...
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