quarta-feira, julho 11, 2007

21 Time & Seleção

21
Escrito por Diana Oliveira

A primeira lembrança que tenho sobre futebol foi com a seleção, na copa de 86. Eu torcia pro Inter, gritava colorado, mas aos 8 anos de idade nem sabia quando tinha ou não jogo do meu time, já durante a copa, como sempre, tudo pára em função do canarinho. É engraçado, estranho e magnífico o fator sensitivo. Eu não entendia de futebol, nem sei se até hoje entendo, mas certamente reúno, aos 29 anos, mais conhecimento que quando criança. Então o único fator determinante em mim, na época, era a sensação. Eu era fã do Sócrates e não gostava do Zico. Hoje, quando vejo os dois falando na tv, percebo que nada tem a ver com o futebol, o Sócrates tem semblante ameno, desperta empatia, é inteligente e articulado. O Zico... foi um grande jogador de futebol.

O que somos, na essência, vem conosco a partir do nascimento. Desde muito pequena eu me envolvo mais pelo que me desperta algo de forte, em tudo. Não consigo analisar friamente o desempenho das pessoas, desde o esporte até a profissão. Isso explica muito da minha torcida pelo Edinho. Eu perdôo suas agressões à bola pelo tanto que ele promove de empenho ao time. Ou seja, para ter meu apreço não precisa necessariamente ser impecável, o que não pode é ser omisso. Estou tão ansiosa quanto qualquer outro colorado pela atuação do Magrão, mas espero dele mais que o seu qualificado futebol, quero e isso sempre quero, entrega. Se não, perde a graça.

Eu chorei em 86, no ombro do meu irmão. Em 90, uma solitária lágrima, pelo Taffarel e o Dunga. E, finalmente, em 94, de alegria, por toda a seleção, que mais parecia um time, de tão desacreditada que chegou à Copa.
Taffarel, Jorginho, Aldair, Márcio Santos, Leonardo, Dunga, Mauro Silva, Raí, Zinho, Romário e Bebeto.
Como foi bom torcer pelos subestimados, jogo após jogo, até o momento em que senti o título, contra a Holanda, no gol do Branco, Romário ainda se esquiva e a bola passa, direto pra rede.

Depois dessa Copa não mais tive envolvimento com a seleção, não me abalei com 98, não vibrei tanto assim em 2002, exceto pelo Ronaldo Nazário, após o retorno do pesadelo chamado joelho. E em 2006 eu nem queria saber de porcaria de Copa do Mundo, contei os dias pra voltar a Libertadores. Só prestava atenção na seleção do Equador, queria vê-los exaustos no retorno à LDU. Aos poucos fui me dando conta que não era apenas pelo Inter, o que já seria suficiente, meu desinteresse pela seleção. É porque eu gosto mais de time que seleção, na raiz conotativa das palavras. Qual é a graça de torcer pelos consagrados? Nenhuma.

O Romário é craque, o Pato nem se fala, mas o grupo todo não. O conjunto é que faz a obra, com todas as fragilidades e nestas, o grito vem pra ajudar. Ponderando... não acompanhei a seleção de 82, devia ser muito empolgante, mas o destino acaba sacaneando os astros, toda seleção predestinada ao título, cai.

É tão evidente isso em mim que elegi o melhor jogo da Copa de 2006 entre Argentina e Costa do Marfim, ainda na primeira rodada. Todas as demais equipes fizeram estréias burocráticas, jogos sonolentos, seleções habilidosas, porém contidas, até o certame de africanos e latinos. Sem bola perdida, sem medo de atirar-se ao ataque – no caso dos marfinenses tal valentia é ingênua, já nos hermanos, maliciosa. Placar final 2x1 pra Argentina e uma bela apresentação de quem joga jogado, às favas com experiência, cautela e nome na chuteira.

Não posso negar o que sou, admiro, paraliso e me encanto com o belo futebol, mas vibro mesmo é com empenho. Ontem torci pela turma do Dunga, a simbologia do recomeço. Já vinha acompanhando esta seleção que se apresenta resgatando, o que seria um demérito, a cara de time. Aliás, diria que parece até o Inter, não sai um cruzamento decente desses laterais! Robinho é o Pato, Diego é o Pinga, Julio Batista é um Edinho que sabe chutar. O Alex começou mau, contra o México falhou bastante, mas ontem foi bem, lembrou o Eller. E o Doni é um filhote do Clemer, sai todo errado do gol. Contra o Chile, tomou aquele de cobertura do Suazo porque tava pedindo, passa adiantado. Tal o pai, na hora decisiva vingou, pegou o pênalti do Lugano. Tudo bem que o Oscar Ruiz deu uma força, mas se o Rogério Ceni avança antes das cobranças, por que o Doni não pode?

Parabéns meninos do Brasil, vocês me trouxeram de volta o coração batendo na garganta. Assim fiquei durante a decisão por tiro livre direto. A regra é clara e o Galvão continua vedete. Contem comigo na final, sendo o México é uma pedreira, sendo a Argentina, foda-se, quando se torce pro time não interessa a dificuldade do adversário.
E toda lembrança ajuda, há pouco tempo, meu Colorado bateu o Barcelona.