Escrito por Diana Oliveira
- Feliz aniversário meu amor! – Disse Glória a Fernandão com um bolo em suas mãos, confeitado por trinta velinhas.
- Obrigado meu bem. – Respondeu um tanto cabisbaixo o homenzarrão.
- Que foi?
- Ah é que minha fase não tá das melhores.
- Olha... Não entendo porque tu não vais a público e te pronuncias a respeito do teu desempenho...
- Já fiz isso. Disse que acho que tô bem, mas eles não entendem.
- Porque não foi da maneira mais coerente a tua explicação.
- Como assim?
- A verdade é que eles te vêem algumas vezes caminhando em campo e pensam que estás desmotivado. O que ninguém percebe é que te sacrificas em função do time.
- Por isso fico chateado.
- Te entendo.
- Pô, não tem como eu jogar dentro da área sem cruzamento. Eu não posso me mandar correndo lá pra dentro se a bola não chega, depois de ir até a defesa conter bola alta de escanteio...
- Mas porque precisa ir até a cobrança de escanteio? Deixa pra zaga...
- Não posso, somos eu e Marcão os caras grandes.
- Sim...
- Daí ajudo ali, saio correndo pro contra-ataque, tenho quase dois metros de altura, os caras não podem achar que vou sair feito o Nilmar na correria. Prefiro que os atacantes rápidos tentem a jogada na velocidade, como fazia o Sóbis. E eu chego de trás, pra concluir um possível rebote. E com ausência de cruzamentos na área, daí mesmo é que vou me postar na entrada da área. Só que eu tenho sido muito marcado e acabo ficando sem função no ataque.
- Mas então tu tens que reclamar dos teus companheiros!
- Que isso Glorinha?! Nunca! Como eu vou queimar os caras que jogam comigo? A situação tática do meu time é essa, eu tenho que me adaptar. Só que a crítica me condena por parecer caminhar em campo... Eu corro muito, o jogo todo, mas quando acho que devo esperar no rebote não vou ficar me mexendo pra parecer que tô ativo. Não sou burro, nem macaco de circo pra rebolar pra platéia.
- Eu acho que o time devia jogar mais pra ti.
- Mas não é bem assim. A zaga é frágil na bola aérea, eu tenho que voltar toda extensão do campo pra defender um escanteio. Eu tenho que ir, não posso ficar esperando no ataque.
- Não é apenas disso que eu falo. Já que tu tá sempre muito bem marcado, quanto mais na área estiveres, mais atenção da defesa tu terás e assim vai sobrar pra outro marcar.
- Exatamente isso. Mas aí o pessoal reclama que não tô fazendo gol...
- Ah... então nem tenta te justificar mesmo.
- Viu, há poucos minutos me disseste que eu deveria me explicar em público.
- Ai desculpa meu amor!
...
Glória acendeu as velas, aproximando-se de sua alma gêmea:
- Então vamos esquecer um pouco desses problemas.
- Difícil...
- Mas não impossível. Lembra-te que somos partes de um todo indivisível. E que Fernandão foi feito pra Glória. E que Glória é o destino de Fernandão. Vivemos agora um, entre tantos momentos em que parecemos não estar juntos. Mas deixa quieto... Aguarde-nos quem duvida.
- É verdade. E o Adriano hein? Que golaço!
- Aham... Pra tu veres vida minha, há uma semana a Diana escreveu que o Adriano deixou de ser um jogador decisivo. Hoje ela tá tranqüila com a vitória e de boca fechadinha. Se falar sangra, mordeu a língua. Torcedor é assim, trava uma disputa com os jogadores. E tudo que mais querem é perder a aposta.
- Sei não hein Glorinha... Tem uns e outros aí que apostam sair pelado na rua... Daí complica...
- Ah, então só pode ser algo envolvendo o Alex.
- Sim. E não é que agora o cidadão de Cornélio Procópio faz até gol de cabeça?!
- Hahaha... Vida louca essa do futebol.
- Hehe... Vida longa a nós.
- A nós.