sexta-feira, março 14, 2008

40 Maverick Totalflex

40
ESCRITO POR RAFAEL SEVERO
Há alguns anos a Wolkswagen lançou por aqui o Gol Totalflex. O grande barato do carro está em seu motor bicombustível, que, como sugere o termo, funciona tanto com álcool quanto gasolina. E há muitos anos eu tenho um amigo, aliás, grande amigo e grande colorado, que em função de nossas incontáveis andanças etílicas nas noites portoalegrenses da década de 90, ganhou o indefectível apelido de "Maverick Totalflex". Criamos um slogan e tudo! Era mais ou menos assim: “Maverick Totalflex – Ele bebe de tudo, e bebe muito!” Enfim, quem não lembra da fama de “beberrão” do antigo Maverick, o carrão que consumia combustível “pá carai”?
Pois é, ainda que meu amigo tivesse a aparência de um Gordini, visto que é um cara pequenino e “gordito”, o nome Maverick caiu-lhe bem. Pra ser justo, todos nós éramos meio Mavericks Totalflex´s na época. Acontece que “rodávamos” com quatro cilindros, enquanto ele, com seis. E pra ser mais justo ainda, uma vez ele foi superado pelo Irlandês Maluco da Cidade Baixa...
...Mais precisamente numa noite de setembro de 1995, no saudoso boteco Coquetel – que na verdade era tão "lado B" que apenas nós cultuávamos e freqüentávamos. Falávamos basicamente sobre mulheres, sobre os times de merda do Colorado da época (éramos infelizes e não sabíamos), sobre o chute na bunda que eu acabara de levar da namoradinha e, claro, de mulheres, de novo...
Estávamos lá, animadamente conversando e empilhando “cascos” de ceva sobre a mesa quando, sem pedir licença, sentou-se ao nosso lado o Irlandês Maluco da Cidade Baixa a que me referia. E ele era a cara do Serginho Groismann! Porém meio mendigo, “bicho-grilo” e meio louco; e vivia perambulando pelos bares da Cidade Baixa e arredores. Ele mendigava bebida, cigarro e companhia e, em verdade, anunciava-se como filho de irlandeses, tendo inclusive participado da Guerra do Vietnã. Outra verdade a respeito do cara é que ele possuía boa cultura e capacidade intelectual. Contou-nos que iria revolucionar o mundo com suas idéias de energia alternativa e que transava homens e mulheres na década de 70, mas que não nos preocupássemos, pois sua única preocupação no momento era salvar o mundo...
Enquanto nos enrolava, o infeliz bebia da nossa cerveja – ele mesmo tomou a iniciativa de pedir mais um copo pro garçom. Pra piorar, o filho da puta era gremista! No entanto, os pequenos olhos do irlandês maluco brilharam mesmo quando falamos em Rolling´s Stones. Palavras mágicas: o cara se cuspiu todo e simplesmente disse que Mick Jaeger seria o único homem com quem faria “amor” no momento. ROUUUULINSSSTOOOONESSSS!!!! MICKdiaeeegerrrrr!!!! Bradava o irlandês maluco, forçando um sotaque inglês bem ordinário.
Mas seu ídolo maior era o David Bowie. Então, eu e o meu amigo, o "Maverick Totalflex", não resistimos e provocamos o cara, em tom de brincadeira. E só pra sacanear dissemos o seguinte: “Vem cá, lembra daquele lance da década de 70, quando o Mick Jaegger comeu o David Bowie?” As feições do irlandês maluco se transfiguraram e o cara ficou ainda mais enlouquecido. Transtornado, ele nos indagava: “O quê, vocês tão me dizendo que o DEIVIDIBAAAAUE (sotaque irlandês) é barrão? É isso que vocês tão me dizendo? O DEIVIDIBAAAAUE nunca deu o rabo, fiquem sabendo! Como é que vocês têm coragem de falar assim do mestre BAAAAUE, hein? Vocês querem brigar comigo...” E nós, às gargalhadas: “bem, é o que dizem... mas que o Bowie tem a maior cara de quem já deu o rabo, ah tem! AHUAHAUHUAHUA” Foi o que bastou pro irlandês maluco nos abandonar. Levantou da nossa mesa e migrou cambaleante pra mesa ao lado, pra azar do casal que trocava “arretinhos” nela.
O Irlandês Maluco da Cidade Baixa, com certeza um Maverick Totalflex, só que de oito cilindros...

E esse Inter 2008? Digo que tem sido um totalflex empedernido conosco, como um carro bicombustível. Ora álcool, ora gasolina... A gente nunca sabe o que vai ter que engolir depois de cada partida, se a euforia por mais uma goleada num esquálido time do interior ou se a amarga decepção por conta de algum fiasco acachapante contra um Juventude (timéco de segunda divisão) da vida. Esse é o incompreensível Inter nosso de cada dia, capaz de nos transformar em beata num dia e corneta no outro. “Inter Totalflex 2008: vem com a bíblia e a corneta. É só escolher!” E isso ta causando uma confusão danada nos corações e mentes do pessoal por aqui...
E eu? Bom, eu só quero que o Colorado seja o time do futuro, movido a hidrogênio, de preferência...