segunda-feira, março 24, 2014

Rock bottom...

...ou o fundo do poço (não literalmente traduzindo, mas fica mais uma expressão em inglês bem similar com português grátis do BV).

O título é em inglês porque não vou falar do Inter. Vou falar do time de hockey aqui da minha cidade. Algumas similaridades e diferenças, mas estão passando por algo parecido, só que pior que o Inter. Escrevo como um alerta, prá que não chegue neste ponto.



O Edmonton Oilers, ou literalmente, os Petroleiros de Edmonton é um time muito tradicional da NHL (liga norte americana de Hockey). Esta não é só a primeira divisão daqui, como é considerada a primeira divisão mundial do hockey. Há, atualmente, 30 times na liga, se não me engano. E se também não estou enganado, existem 29 cidades nos Estados Unidos e Canadá que possuem um time de hockey. New York é a excessão com dois (Rangers e Islanders). No Canadá, são apenas 7 cidades. Portanto, para uma cidade apaixonada por hockey no Canadá, possuir um time na NHL é algo importantíssimo. Mais ou menos como ter um time na primeira divisão do futebol brasileiro - ou talvez que jogue a libertadores com frequência.


Então vamos voltar a Edmonton, onde moro desde 2006.


O Oilers é um time bem tradicional, como disse, pois nos anos 80 podia se traçar um paralelo entre ele e o Santos dos anos 60, ou o Inter dos anos 70. Ganhou 5 Stanley Cups, com times com craques reverenciados até hoje, mas principalmente foi onde surgiu e brilhou Wayne Gretzky, o Pelé do Hockey.


A cidade de Edmonton é apaixonada pelo time, e muitos fans espalhados pelo país passaram a torcer pelo Oilers por causa dos anos 80.

Após a saída do Gretzky do time, o Oilers ainda ganhou a sua quinta Stanley Cup, mas após isso, nunca mais foi o mesmo. Algumas temporadas boas, outras nem tanto. Até 2006... (olha a coincidência!)

Em 2006, o time desacreditado conseguiu a incrível façanha de se classificar para os playoffs na última posição, e chegar até a finalíssima.

Foi sensacional chegar aqui e testemunhar a loucura que virou a cidade com os jogos eliminatórios, as vitórias fantásticas e o caminho até o jogo 7 da final. Achei demais! Me senti quase que em Porto Alegre!


Aqui uma pequena diferença. No Brasil, geralmente os grandes clubes possuem rivais na própria cidade. Aqui não. Cada cidade possui seu único clube (exceto NY), e as rivalidades são mais regionais. Como disse antes, o apoio que o time recebe dos moradores da cidade é incomensurável. Principalmente no Canadá.

E, por não ter um rival na própria cidade, o grande rival do Oilers é o Flames, da cidade de Calgary.

Um pouquinho de geografia agora.

Embora Edmonton seja a capital da província de Alberta, Calgary é o centro de negócios. A cidade é um pouco maior, mais habitantes, custo de vida mais elevado, e uma certa atitude esnobe de cidade que passa por um crescimento extratosférico.

A rivalidade entre as duas cidades não está restrita ao hockey, mas é neste esporte que ela fica mais evidente. Quando explico do grenal, costumo dizer que é como se o Oilers e o Flames fossem da mesma cidade há 100 anos, com a torcida dividida em 50% para cada lado, com um pouco mais de paixão e fanatismo, e as vezes um exagero que pode levar a violência. Dá prá ter idéia.

Agora, aonde quero chegar.

Depois da final de 2006, o time do Oilers foi desintegrado. Saíram grandes jogadores, e a equipe entrou num processo comum na liga de reconstrução. Sei que outros times já passaram por isso, e todo mundo aqui me dizia que demoraria uns 3 ou 4 anos até que o time fosse forte e competitivo de novo (exemplo: Chicago Blackhawks).

A partir de 2007, os resultados foram esses (de um total de 30 times):
2006-7: 25 lugar
2007-8: 19 lugar
2008-9: 21 lugar
2009-10: último lugar
2010-11: último lugar
2011-12: penúltimo lugar
2012-13: 24 lugar
2013-14: atualmente em penúltimo lugar

A partir de 2010, quando se esperava que o time crescesse de novo, muitas críticas começaram a cair sobre a gerência. Problemas bem comuns aos que vemos no Inter. A desculpa para o último lugar (ou perto disso), caía em parte numa regra da liga que os últimos colocados de um ano tem direito a escolher os melhores rookies (júniores de outras ligas, que estão "subindo pro profissional"). Assim, com mais uns anos, o time teria uma quantidade de talentos novos que garantiria muitos anos de vitórias (se não conquistas).

Isso não está acontecendo. E está piorando.

Este ano, além da frustração que impera há anos, acontece um fenômeno que eu nunca vi no futebol brasileiro, mesmo com todo o fanatismo. Vejam:


Prá quem não entende, após uma goleada em casa de 6 x 0, um torcedor atirou a camisa (sweater) no gelo. Isso eu nunca tinha visto. E pelo visto nem aqui, pois a repercussão foi grande. Está acontecendo mais vezes desde então. Virou um protesto comum.

O time? A direção? As desculpas são as mesmas, e se nota muita indiferença entre jogadores, comissão técnica e direção. Muitas similaridades, embora reconheço que não seja tão ruim em Porto Alegre.

No sábado passado, o que muitos estão considerando aqui o fundo do poço: Oilers perde EM CASA, para o Flames (lembram? o grenal daqui), por 8 x 1.

Imagina isso em Porto Alegre?

Ainda não chegamos ao fundo do poço. Acho que não chegaremos esse ano. Do jeito que estava ano passado, achava que cairíamos certo este ano. Talvez há uma chance de isso não acontecer.

Agora, dependendo do resultado das "eleições" no fim do ano, 2015 pode ser um ano bem similar ao que Edmonton está vendo com seu Oilers.



ps. Se alguém quiser contra-argumentar com a campanha arrasadora no gauchão, ou a fantástica vitória sobre o poderoso Cruzeiro no fim de semana, por favor, não perca seu tempo. Não vou responder. Pense na big picture. Lembre-se do que tu passa com o Inter há QUATRO ANOS.