Escrito por Raul Pons
A década de 1920 não estava sendo boa para o Internacional. O clube havia vencido apenas dois campeonatos municipais, em 1920 e 1922, mas a Federação Riograndense de Desportos, liderada por um gremista, Aurélio Py, preferiu reconhecer a liga dissidente gremista do que a liga oficial da cidade. Assim, o Colorado ficou de fora do campeonato estadual. Logo após a unificação das ligas, em 1923, o Colorado não fez boas temporadas.
Em 1927 a situação precisava mudar, a começar pela equipe: na zaga, Carlito, jogador da seleção gaúcha, foi substituído pelo jovem Gilberto, que veio do 14 de Julho de Santana do Livramento. Ao seu lado atuava o canoense Grant. Na linha média continuavam os experientes Ribeiro e Lampinha, e a revelação Paulo "Manotaço". No ataque, Nenê, Miro e o uruguaio Ross entraram na equipe, ao lado de Veiga e Barros. Mas a grande mudança era no gol: Moëller, grande revelação do Novo Hamburgo. Como o profissionalismo era oficialmente proibido, a imprensa noticiou que Moëller “transferira sua residência” para a capital, e decidira associar-se ao Internacional para continuar a praticar o futebol.
No campeonato municipal, o Internacional empatou logo na 2ª rodada com o Cruzeiro, enquanto o Grêmio vencia seus dois jogos. Mas no Gre-Nal o Colorado mostrou que queria o título. Saiu vencendo a partida por 2x0, sofreu o empate, mas foi buscar o 3º gol. Ainda no 1º turno, porém, o Internacional perderia mais um ponto, ficando igualado ao rival.
Na abertura do returno, novo Gre-Nal, e nova vitória colorada (3x1). Mas logo em seguida o time tropeçou no Americano. A seguir, ganhou todas as outras partidas, enquanto o Grêmio empatava com o Cruzeiro e era goleado pelo Americano (6x3). O Internacional ganhava um título municipal depois de cinco anos e conquistava o direito de disputar seu primeiro campeonato gaúcho.
O campeonato gaúcho, na época, era disputado pelos campeões citadinos, e nas seis edições anteriores, os clubes do interior haviam vencido metade. Pelotas e Bagé eram grandes centros esportivos, e Rio Grande, Alegrete, Uruguaiana, Cruz Alta, Santa Maria e Santana do Livramento também possuíam equipes tradicionais.
A campanha colorada começaria contra o Itapuí, de Guaíba. Mas o adversário descobriu que não poderia utilizar o seu capitão Nona, por estar com sua inscrição junto à FRGD cassada, devido ter atuado no São José, no início do ano. Para utilizar seu craque, o Itapuí propôs entregar os pontos ao Internacional e disputar uma partida amistosa, o que foi aceito pela FRGD. Mesmo assim, deu Colorado (3x0). Na partida seguinte, o Internacional venceu o Nacional de São Leopoldo por 4x1, gols de Veiga (2), Ross e Nenê.
Vencedor da chave metropolitana, o Internacional foi enfrentar na decisão o vencedor da chave do interior, o forte Bagé, campeão estadual em 1925. Para piorar, o bom zagueiro Gilberto estava lesionado, e não jogaria. Às pressas, os dirigentes foram buscar o veterano Meneghetti, que havia encerrado a carreira no ano anterior. O Bagé tinha alguns jogadores conhecidos, entre eles Pasqualito, atacante famoso pelo forte chute. O jogo iniciou parelho, mas logo o Internacional começou a levar uma leve vantagem, apoiado pela torcida. No final do 1º tempo Barros abriu o marcador: 1x0. No início da 2ª etapa, pênalti para o Colorado. O artilheiro Ribeiro prepara-se para bater, e a torcida já comemora o 2º gol, mas infelizmente, Ribeiro chutou para fora. Para piorar, pouco depois Pasqualito empata, também de pênalti. Durante alguns minutos, parecia que o Bagé conquistaria seu segundo título estadual, mas neste momento a liderança de Lampinha fez sentir-se em campo. Auxiliado pelos jogadores mais experientes do grupo, empurrou o Colorado para a frente, e aos 21' Nenê faz 2x1 para o Internacional. Aos 34' (na época as partidas tinham dois tempos de 40') Barros liquidou o adversário, fechando o placar em 3x1.
Após o Internacional conquistar seu primeiro título estadual, em 1927, o Correio do Povo publicou vários telegramas que chegavam, saudando o novo campeão. Eram telegramas da diretoria do Pelotas, da diretoria do Brasil, do “onze” do Brasil, do Guarany de Bagé, do Uruguaiana, do GS Barrense (Barra do Ribeiro), do SC Sudameris, do Grêmio e de torcedores colorados de Porto Alegre, Bagé, Garibaldi, Bento Gonçalves, Lajeado, Encantado, Canela, Passo Fundo, Santana do Livramento, Caxias do Sul, Vacaria, Guaíba e Rio de Janeiro.
Ficha dos campeões:
MOELLER – Luiz Albano Moeller (goleiro)
Foi um dos grandes nomes dos títulos conquistados em 1927, mas no final da temporada abandonou o clube e ingressou no maior rival.
GILBERTO – Gilberto A. Martins (zagueiro)
Iniciou a carreira no 3º quadro do 14 de Julho de Santana do Livramento. Jogou em Porto Alegre em 1922, pelo Pelotense, na posição de médio. Ingressou no Internacional em 1926. Titular em 1927, não disputou a final do campeonato gaúcho, por lesão.
GRANT – Nélson Grant (zagueiro)
Começou a jogar futebol em Canoas, em 1914. Ingressou no 2º quadro colorado em 1924, e no mesmo ano atuou em alguns jogos do grupo principal. Em 1925 tornou-se titular, chegando à seleção gaúcha. Jogador rápido e de saltos acrobáticos, ao recuperar a bola procurava passar para um companheiro, em vez de chutar para longe, e era criticado na imprensa por isso. Em 1929, funcionário do Banco Pelotense, foi transferido da filial de Porto Alegre para a agência matriz, tendo de trocar o Internacional pelo Pelotas.
RIBEIRO – Carlos Ribeiro da Silva (médio)
Iniciou a carreira nos filhotes do Cruzeiro, em 1916. Em 1917 ingressou nos filhotes do Internacional, chegando ao 3º quadro em1919, 2º quadro em 1920 e 1º quadro em 1921. Atuou pelo clube até 1932.
LAMPINHA – Abílio Mello (médio)
Jogou por vários clubes da Fronteira Oeste, tanto no Brasil como no Uruguai. Participou da excursão do Oriental à Porto Alegre, em 1917. Era o jogador mais experiente da equipe colorada.
PAULO – Paulo Annes Gonçalves (médio)
Começou a jogar futebol em 1918, no Colégio Anchieta. Em 1923 jogou no Colégio Santamariense. Em 1924 ingressou no 2º quadro do Internacional.
BARROS - Hélio di Primio Beck (atacante)
Começou a carreira nos filhotes do Internacional, em 1915. Em 1922 jogou no Tamandaré de Santa Maria, como zagueiro. Retornou ao Internacional no ano seguinte. O nome Barros veio de seu apelido original, "João de Barro". Também era conhecido como o "Terror dos goleiros". Marcou dois gols na final do estadual de 1927.
DARCY - Darcy Machado Ozório (atacante)
Começou no Quarahy, indo jogar depois em um ginásio de Santa Maria. Em 1925 ingressou no Internacional.
ROSS – Donaldo Ross (atacante)
Centroavante que não chutava a gol, mas era ágil e distribuía o jogo com inteligência. Chegou ao Internacional em 1927, após passar pelos uruguaios Uruguay, Eharley e Defensor, e clubes do interior como Grêmio Santanense, Cachoeira e 14 de Julho PF.
MIRO – Waldomiro Marques (atacante)
Começou a carreira no Marechal de Ferro, e depois passou pelo Ypiranga, ambos de Porto Alegre, antes de jogar no Internacional.
NENÊ – Bernardo de Souza Netto (atacante)
Iniciou a carreira no Rio Branco, passando a seguir pelo Guarany e Pelotas, todos da mesma cidade. Ingressou no Internacional em 1926. Marcou um gol na final estadual de 1927. Bom driblador e de chute forte. Após a inauguração do Eucaliptos, Nenê decidiu abandonar a carreira de jogador.