quinta-feira, setembro 13, 2007

67 Pára tudo!!!!

67
Escrito por Diana Oliveira

O dicionário define,

Democracia:
sistema político fundamentado no princípio de que a autoridade emana do povo (conjunto de cidadãos) e é exercida por ele ao investir o poder soberano através de eleições periódicas livres, e no princípio da distribuição equitativa do poder;país em que existe um governo democrático;governo da maioria;sociedade que garante a liberdade de associação e de expressão e na qual não existem distinções ou privilégios de classe hereditários ou arbitrários.

A primeira lição que aprendi na faculdade de arquitetura é que o papel aceita tudo. Excelente aprendizado, por sinal, desde que entendi o significado disso tornei-me aluna destaque em geometria descritiva e nunca mais consegui deixar de visualizar desenhos em três dimensões. Digo e repito pra minha estagiária, tenha sempre a certeza de que não estás apenas desenhando, estás projetando, ou seja, representando no papel a realidade, do contrário, é inútil o teu trabalho. É obsoleto um projeto arquitetônico que não passa de riscos graficamente apresentáveis, sem qualquer correspondência lógica com a construção.

Muitas pessoas me perguntam o que tem de belo nos rabiscos do Niemeyer, eu sempre respondo: perfeição, apenas isso. Não há naqueles traços um milímetro se quer sem proporção, tudo que aparece através daqueles riscos, gestos sinuosos, é perfeitamente proporcional e factível. Parece uma alucinação, mas é o mais sóbrio exercício da arquitetura. Faz uns meses, assisti uma palestra do Paulo Mendes da Rocha, arquiteto remanescente da mesma escola modernista do Niemeyer. No auditório a maioria de estudantes de arquitetura e me dei o trabalho de observar as reações da nova geração diante do projeto apresentado ao estilo old school... entendiam porcaria nenhuma. Acho que ali dentro devia ter uns dez, no máximo, capazes de fazer um croqui! É tudo em computador e restam poucos moicanos que ainda projetam com um lápis e papel na mão.

No fim da palestra eu quase chorando de emoção e os alunos saindo decepcionados... Arquitetura é uma profissão clássica, nasceu antes da Engenharia e em 2007 os alunos formados não sabem projetar, as incorporadoras definem os “estilos” neo... alguma porcaria de clássico, barroco e o escambáu. Erguem-se imensos caixões com apartamentos cada vez menores e mais caros. Em Porto Alegre a Goldztein consegue ser um câncer, espalhou-se por tudo, os projetos são todos iguais, na cara dura, só muda (um pouco) a fachada. Os quartos são ridículos, sem abrir uma parede e juntar dois dormitórios, não cabe um móvel em frente à cama.

O Plano Diretor da Cidade é votado em Câmara, onde existe a maior concentração de construtor/investidor por metro quadrado, logo, bairros como Menino Deus e Petrópolis, com imenso potencial construtivo e localização privilegiada, possuem limites pra lá de generosos de altura e taxa de ocupação do solo. Resultado disso? Toda semana um casarão antigo é vendido pra virar prédio. Ao longo dos anos, a cidade verticaliza freneticamente e o solo impermeabiliza, devido à predominância do concreto sobre a terra ou grama. Agora todos entendem o porquê de enchentes devastadoras em São Paulo. Não tem como escoar tanta água porque solo não consegue absorver a parte que deveria. Qual parcela da população é mais penalizada por isso? Adivinhem? Um doce pra quem souber...

As associações de bairro se juntaram para exigir uma revisão do Plano Diretor de Porto Alegre, aplicando limites mais conscientes nos termos em questão. A prefeitura acatou o pedido e fez uma votação “democrática”, no Salão de Atos da UFRGS, pra decidir o bem da maioria pela própria... O SINDUSCON, Sindicato da Construção, comandado pela mesma grande concentração de investidores, juntamente com outros não menos mal intencionados sindicatos, lotou dezenas de ônibus, com gente que lá estava pra ganhar o lanche oferecido como moeda de compra do voto, sem saber até que a Usina do Gasômetro tem chaminé...

Por que estou dizendo tudo isso?

Porque o papel aceita uma definição tão bela, romântica até, de democracia, onde o governo seria de todos, se não, da maioria.

Porque é indiferente o cenário político, humano ou social, os interesses são sempre individuais e nada tem sentido mais distorcido que democracia no Brasil.

Porque o senador mais ladrão do país foi absolvido de cassação ontem, assim, com a mesma cara de pau da manipulação de votos que acabo de mencionar ter ocorrido aqui na capital.

Porque de norte à sul, das pequenas às grandes causas, tá tudo errado.

Porque domingo tem GRENAL e o Rio Grande se divide nesta específica ocasião, mas bem que podia entoar num coro uníssono, das arquibancadas do Olímpico, o que transcrevo aqui ipsis litteris, pois de hipocrisia o país já fede à podre de tão cheio:

Hei, Calheiros, vai tomar no cú!