quinta-feira, setembro 06, 2007

16 ele e Eu (a réplica da Bola)

16
Escrito por Diana Oliveira

Perna-de-pau, designação que carregas como penitência, mal sabes que meu fardo igualmente pesa. Sobre mim estão todos os olhares e anseios de posse, conquista, domínio. É raro, no entanto, quem me deseja ter por amor e não vaidade. Enjaulada estou, num círculo vicioso onde o único objetivo dos que me tocam é afirmar-se através de mim. Puseram-me à venda, a troco de notoriedade. Tenho peso do sucesso e medida do egoísmo, que se não me fere com caneladas, também não dorme sonhando comigo.

Não sou perfeita, cultivo meus caprichos. Teimo às vezes em não corresponder o mais sutil e inspirado toque, por revolta ao pseudo-carinho, sabendo que a magistral técnica deixou de ser devoção, para consagrar falsos donos de mim. Não me engano com estes que aí estão, pois deles terei nada mais que o efêmero. Tantos pérfidos, distraídos com seus egos fracos, deixo-os acreditarem que tudo sabem a meu respeito, para quando na apoteose, os castigue com malícia desobediente. Tiro fininho, projeto-me em curva, delicio-me com o desespero daquele que julga pretensiosamente superar-me.

Tu não. Tímido, contido e incrédulo de tua capacidade, não percebes que não te condeno, apenas reajo à dureza com que me tratas? Se és incorrigível, sou confusa, nunca tenho certeza pra que lado vou. Portanto, engana-te ao pensar que viemos de dimensões opostas. Não te vês como eu vejo. Há os gramados, palcos reluzentes, onde astros me fazem estrela, porém, com especial charme existe a calçada ou chão batido, por onde não lamento a ausência do desconcertante e sim, deleito-me na presença do desconstruído.

Não te quero por merecimento, é no sincero que eu, Bola, direciono minha verdadeira arte. Por isso não te constranja em desejar-me. Se a vocação não fez de ti o craque realizado, a vida fez de mim, no centro de todas as atenções, uma diva solitária. Contudo, não serei menos eu pra ser tua. Não abrirei mão de minha forma curva sedutora pra que te sintas digno de mim. Guardo apenas o momento único de nós dois e consciente da remota chance de outra vez por ti ser acariciada, posto-me entregue, imóvel e portanto indefesa, a esperar-te.