terça-feira, maio 13, 2008

90 Copa do Brasil: a Pré-Libertadores com Grife

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Sempre achei um equívoco a Copa do Brasil conferir vaga na Libertadores. Desde a sua primeira edição, a competição ficou conhecida mais como um atalho para a principal competição sul-americana que como um título de real expressão. A meu ver, a Copa do Brasil não passa de uma Pré-Libertadores com grife.

No início, participavam apenas os campeões estaduais e os vices dos estados de maior expressão no futebol nacional. Aos poucos, a competição foi inchando, com o aumento do número de participantes. Atualmente, todos os grandes times brasileiros podem ir mal nos estaduais que o ranking da CBF lhes garante vaga direta na Copa do Brasil, o “jeitinho brasileiro” de chegar à Libertadores. Com isso, além de atender aos interesses dos clubes mais populares do país, a CBF também agrada às federações menos expressivas, pois ao menos um time grande por ano visitará seus estados, nas primeiras fases da Copa do Brasil.

Na Europa, as copas nacionais têm por finalidade possibilitar que os clubes menores joguem contra os grandes e que, eventualmente, conquistem um título nesse âmbito. Se buscarmos o rol de campeões da Copa da Itália e da Copa do Rei da Espanha, por exemplo, encontraremos times como Vicenza (97) e Mallorca (03), respectivamente. Contudo, esses clubes não disputaram a UEFA Champions League na temporada seguinte.

Em contrapartida, o Brasil já teve como representantes na Libertadores o Santo André e o Paulista, times da segunda divisão. Em países onde o futebol profissional é sério, a vaga à principal competição continental deve obedecer a uma espécie de hierarquia técnica. Primeiro, um clube deve pertencer à elite nacional para, depois, conquistar sua vaga na competição continental. A vaga na Libertadores via Copa do Brasil é a subversão dessa hierarquia.

O Campeonato Brasileiro é o verdadeiro e único título nacional de expressão. Porém, iniciamos a competição deste ano com um time mais do que reserva. Não estou aqui criticando a escolha da direção colorada, estou, isso sim, criticando o calendário esdrúxulo do futebol brasileiro, que inflacionou os estaduais (principal fonte de renda dos clubes no início do ano) e deixa o Brasileirão ser disputado simultaneamente a outra competição de âmbito nacional que também confere vaga na Libertadores.

Nesse contexto, o clube tem mesmo que optar, pesar prós e contras, calcular os riscos e definir sua prioridade. Se chegarmos à final da Copa do Brasil, teremos jogado meia-dúzia de rodadas do Brasileirão com time reserva ou misto. Em caso de conquista da vaga na Libertadores via Copa do Brasil, ainda poderemos buscar uma classificação honrosa no nacional e, de quebra, priorizar a Sul-americana no segundo semestre. Todavia, sem o título da Copa do Brasil, a vaga na Libertadores no ano do centenário estará ameaçada e o título do Brasileirão ainda mais.

De qualquer modo, confio plenamente no Inter nesta Copa do Brasil. Só espero que, em caso de conquista, o clube não acabe perdendo a ambição de ser também campeão brasileiro. Ainda bem que já tem gente falando em Tríplice Coroa Nacional (Gauchão, Copa do Brasil e Brasileirão), pois, se tem uma coisa pela qual o nosso presidente tem verdadeira adoração, é por uma coroa. Ah, se tem!
Baita abraço a todos!