sábado, novembro 22, 2008

7 Ele sabia do que estava falando

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Do ano de 2006 ainda trago muitas lembranças. São incontáveis os momentos que recordo daquela temporada mágica. Entre eles, um me veio à tona nos últimos dias. Foi uma frase proferida por um dos maiores símbolos da conquista da América. Fazia poucos minutos que o Horácio Elizondo tinha encerrado o jogo contra o São Paulo, naquela noite fria de agosto, quando o motorzinho Tinga proferiu: “cinqüenta por cento desta conquista é deles”. Ele carregava um guarda-chuva vermelho e branco, pulava feito criança e apontava emocionado pra Popular do Inter. O guri da Restinga não tinha dúvida: aquela torcida era tão impressionante quanto decisiva. E ele tinha razão.

A Guarda Popular Colorada surgiu em 2005. Não conheço muito bem a história, mas lembro que no começo existia a Popular do Gigantinho e a Popular do Placar Eletrônico. Com o tempo todos foram migrando pra trás do goleira iluminada do Beira-Rio. E esta torcida começou a fazer a diferença. Em 2006 a cada partida no Gigante, mais e mais torcedores se deslocavam até aquele local do estádio, onde não se pode sentar e nem parar de cantar. E aos poucos os cânticos da Guarda eram cantados por todos, não só no estádio. Não só por colorados. Quem pensa na Libertadores e não lembra do “Vamo, vamo Inter”? Quem não associa o título da América com o “Colorado, Colorado. Nada vai nos separar...”? A Popular tem sim, a sua parcela de contribuição naquela conquista. E depois dela a torcida tornou-se uma referência. Hoje, o Gigante é inimaginável sem aqueles “loucos” que cantam os 90 minutos haja o que houver, passe o que passar.

Claro que eu sei que nem todos são “santos”. Não gosto, por exemplo, quando o canto que vem daquele canto do estádio é do tipo: “vou matar um puto tricolor..” (inclusive, acho que a Popular faz referência demais ao Co-irmão). Também sei que tem muito interesse envolvido e sempre tem alguém que desvirtua o sentido da coisa. Tem gente ganhando dinheiro, tem gente que fuma, que bebe, que cheira. Tem sim, não sou cego, mas não acho que a maneira de evitar que estes poucos contraventores façam seus delitos seja eliminando o que há de mais bonito nas arquibancadas dos estádios.

Pois foi exatamente isso que a Brigada Militar oficialmente sugeriu ao Ministério Público, através do Coronel Mendes. Ele quer o fim das organizadas nos estádios gaúchos. No seu discurso, o Coronel disse que “não vê a contribuição destas ditas organizadas ao espetáculo”.

Não vou falar da Geral do Grêmio (aquela mesma que incendiou os banheiros no Beira-Rio, tentou quebrar o relógio do centenário, já jogou carrinho de pipoca dentro do gramado do Olímpico, já matou torcedores do Inter e agora quase se mataram entre eles). Pra mim, a Geral pouco importa. Agora, não podemos pagar pelos seus crimes. E digo não podemos, porque a “torcida que não usa armas” tem dado uma contribuição fundamental ao Inter nos últimos anos e, se ela for extinta, o Gigante vai perder muito da sua beleza. Pra quem vai ao Beira-Rio e vê o espetáculo produzido por aquela torcida existe uma certeza: o Tinga sabia do que estava falando. E se o Coronel Mendes não sabe é porque ele nem imagina quem o Gigante espera para começar a Festa.