Para quem não sabe, cada time tem um blogger (ou bloguista) que é responsável por escrever sobre seu time do coração. A página do nosso ilustre colorado até ano passado era escrito pelo nosso prezado colega Malafa, e atualmente o posto é ocupado pelo Mateus Reck, que pode ser acessado aqui.
Apenas para contextualizar, no jogo entre Vitória e Flamengo, no Barradão, algumas semanas atrás, uma grande parte das arquibancadas foram tomadas pela torcida rubro-negra, que como é de conhecimento de todos, tem muitos seguidores no Norte e Nordeste do país. Como vocês podem verificar na foto abaixo, uma faixa foi estendida ao lado da parte tomada pelos flamenguistas, o que causou revolta e mereceu repúdio pela imprensa carioca. Uma forte crítica foi feita no blog do torcedor do Flamengo gerando grande repercussão na rede.

Reproduzo aqui, na íntegra e sem formatação a réplica elaborada pelo Fábio, texto que eu me referi no início do post. A leitura é bastante extensa, mas coerente e digna de elogios. Repasso também o link para o texto original.
Segue:
"Ao contrário da forma agressiva do blog do Flamengo. Venho por meio desta, rebater, sob o ponto de vista do Marketing, Comércio, Mídia e Políticas Públicas, às críticas e os posicionamentos equivocados da torcida flamenguista naquele espaço como a todo time que tem grande torcida na região nordestina e que viraram uma “arara” com a faixa “Vergonha do Nordeste” exposta no jogo Vitória x Flamengo, na última quarta-feira.
Para o Flamengo e Corinthians, especificamente, será muito ruim que os nordestinos parem de torcer para estes respectivos clubes. Pois perderão receitas com venda de produtos oficiais, expansão de assinaturas de TVs no meio cibernético específicas como a FlaTV e a similar corintiana; perderão força nos estádios nordestinos, já que não haverá tanto torcedores em seu favor e por fim a mídia que os propagam perderão audiência em detrimento dos times locais.
Se no discurso deles reinam a defesa da democracia, do livre arbítrio de torcer para quem quer que seja e que não há manipulação da mídia em escolher o time que o povo tem que torcer. Eu queria saber por que Grêmio e Internacional, ambos campeões mundiais, brasileiros, de Libertadores não possuem uma grande torcida no resto do Brasil?
Por que a maioria das transmissões enfatiza apenas o rubro-negro carioca e o alvinegro paulista? Só existem estes dois clubes no país? Só eles merecem ser “incentivados” a aumentarem o número de torcedor-consumidor? Por que o São Paulo Futebol Clube, o maior time brasileiro da atualidade (em títulos, gestão administrativa e financeira), não tem tanto espaço e valorização na mídia como os outros dois têm?
Por que a transmissão regionalizada encontra tanta resistência nos bastidores das principais emissoras do nosso país? Porque sabem que regionalizando as transmissões futebolísticas aumentará o interesse dos nordestinos em agarrar seus times locais e isso gera receitas, crescem os sócio-torcedores e conquistas de melhores patrocínios aos times daqui em detrimento dos times do eixo RJ-SP. Pois, a empresa que percebe que tal time de tal região tem um grande potencial de consumo e lucro, com certeza irá se interessar em patrocinar e elevar tal time, de tal região.
O interior da Bahia, mesmo em pleno século XXI, só possui transmissão do RJ, ou seja, com todo apoio das emissoras abertas e fechadas de TVs, que optam em incentivar a torcer pelos times cariocas e paulistas, principalmente ao Flamengo e Corinthians. É bastante comum encontrar nordestinos que torcem pelos dois clubes ao mesmo tempo.
A torcida do Flamengo é a maior torcida do Brasil apenas por isso, não por terem boa estrutura, ou ser um Clube competente, afinal, é o que mais deve no Brasil, frutos de seguidas administrações ridículas e amadoras.
A faixa colocada foi neste sentido. De chamar à atenção dos torcedores do Nordeste em abraçar seus times, pois ao valorizarmos nossos times iremos contribuir para o crescimento do mesmo em médio e longo prazo. Pois passaremos a comprar produtos do time e ser consumidor do mesmo – Gerando renda, que gera lucro, que gera investimentos na formação do elenco e infra-estrutura.
Quem é baiano e conhece a região do Barradão sabe como este bairro passou por diversas melhorias pela prefeitura da cidade ao longo dos anos, justamente pelo crescimento do Vitória. Escolas e creches foram construídas, melhorias no asfalto, transporte, saneamento, eletricidade e segurança melhoraram muito no bairro da Canabrava, que hoje se chama Nossa Senhora da Vitória.
Recriminamos sim a alienação que faz um cidadão pegar mais de 500 km de estrada para torcer contra o time de sua terra natal e que ainda hostiliza o recinto esportivo e a cidade-sede do clube baiano. Somos um povo maltratado. Historicamente, sofremos com desenvolvimento econômico pífio e necessidade crescente de buscar o eixo de maior desenvolvimento do nosso país como referência de sucesso, porém somos tratados como seres inferiores, dotados de deficiência mental e outros absurdos verdadeiramente xenófobos e preconceituosos.
A oportunidade que temos de fortalecer nosso povo e nossa região se apresenta em inúmeras esferas, entre elas o esporte. E é histórico a constante transmissão de jogos dos times cariocas e paulistas em todas as semanas; incentivando com comentários tendenciosos quando esses jogos incluem clubes nordestinos; dando praticamente 100% do tempo de seu telejornal esportivo nacional para os clubes do eixo. Isto tudo é o que se pode afirmar dentro da esfera da legalidade.
Não podemos afirmar nada em relação ao obscuro.
A vocês que se julgam defensores da democracia, que democracia é esta que não oferece ao cidadão do interior nordestino a oportunidade de conhecer os clubes de forma igual e decidir por quem quer torcer? Para quem você torceria, meu caro, se assistisse jogos do Palmeiras, por exemplo, todas as quartas e domingos desde sua infância?
A escolha dos nordestinos menos favorecidos pelo Flamengo não é democrática, posto que esta é imposta. É fácil defender a democracia quando se está no topo, não é? Ou você acha que Hitler não se julgava justo?
Aí você cita as “glórias” do Flamengo e de outros clubes do eixo, como argumentos para a escolha do time. Você analisou os títulos do clube antes de escolhê-lo? Se o fez, aconselho a procurar um psicólogo. A escolha do clube de coração está para além de derrotas e vitorias, está ligada a identidade, a elementos que te fazem sentir parte daquela agremiação, daquela forma de encontrar no futebol - características do seu Estado, do seu íntimo, do seu povo e pessoas do seu convívio.
Ser torcedor é muito mais que querer ganhar sempre, é se unir a elementos que o configuram como indivíduo socializado detentor e defensor de uma determinada cultura. Aqui existe torcida sim, e se não atingimos um grau de projeção nacional e internacional é porque existem pessoas que ficam assistindo o “time do coração” pela TV.
Tudo isso é uma colonização nefasta que assola muitas cidades (principalmente) do interior dos estados do norte e do nordeste. Por tudo isso, a torcida nordestina do flamengo e de outros times do eixo é sim, a vergonha do nordeste: não por eles em si, coitados alienados, mas por serem a prova física da manipulação antidemocrática da mídia nacional.
Graças a Deus, isso está mudando e atitudes como esta da torcida do Vitória mostram que em breve os nordestinos darão um basta a esta imposição midiática. Como é de costume, quando revoluções estão em curso, aparecem os reacionários como os de agora: os torcedores dos times, as emissoras de televisão e os presidentes dos referidos clubes.
Saudações Rubro-Negras Baianas!"
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Sinceramente fecho 100% com o texto acima reproduzido. Chega a ser frustrante ver o quão pequeno é o espaço destinado a nosso clube na mídia nacional (seja em programas esportivos, transmissão de jogos ao vivo, contratos publicitários). Falo isso porque residindo em Angola, vejo que a Globo Internacional prefere transmitir Vasco x Náutico do que Inter x São Paulo, isso pra ficar numa breve exemplificação de onde quero chegar.
Não foquem o texto no conceito de que um torcedor não pode torcer para o time que quiser; não é esse o ponto em questão; cada um torce para quem convém, para quem se identifica, não importa a distância. No entanto, com tanta imposição midiática, a escolha passa muito mais por uma coerção dos meios de comunicação do que propriamente uma identidade. E é esse ponto que quero tocar.
A pergunta que faço, e repasso a você, leitor do BV, é como o Inter pode mudar esse quadro? Como o Inter pode projetar sua marca, aumentar sua visibilidade na mídia, seu número de torcedores e sua popularidade? Com a palavra, você, torcedor.