quarta-feira, novembro 05, 2008

38 Vergonha na cara

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Não lembro como e quando surgiu o interesse pelo futebol, muito menos quando foram os primeiros chutes, apenas tenho a certeza que o esporte bretão sempre foi uma constante na minha vida. Aos 6 anos o ingresso em uma escolinha de futebol de salão foi a alternativa encontrada para acalmar e acomodar um menino irriquieto, traquina e com energia de sobra pra colocar a vizinhança de pernas pro ar.

Desde cedo queria ser atacante; a proximidade com o gol e com o momento máximo do futebol sempre atrai e deslumbra mais os olhos infantis. Pergunte a qualquer moleque que jogador gostaria de ser e a resposta vai ser sempre algo como Kaká, Ronaldinho Gaúcho, Robinho, Ronaldo Fenômeno, Romário, Rivaldo e assim por diante. Bom, comigo não ia ser diferente, eu que não ia querer ser um Aldair, Taffarel, Cafu ou Dunga.

Dizem que a maneira que praticamos e encaramos o esporte é apenas uma extensão de nossa personalidade, de nossa índole. Resumindo, um reflexo do que somos, como reagimos, como avaliamos os fatos que se projetam em nossas vidas.

Dito isso, desde que eu me conheça por gente, sempre encarei o esporte como uma diversão. Uma diversão que deveria ser levada a sério, muito a sério. Quando pequeno, minha inconformidade com a adversidade era expressada através de um rio de lágrimas. Sim! Aos prantos! Acredite, eu chorava quando perdia um jogo. E não falo jogo de campeonato, nem nada. Qualquer peladinha. Eu não aceitava perder. Me sentia diminuído, um sentimento de vazio.

Claro que hoje eu não choro mais quando eu perco uma partida. Hehe, até porque ia ficar “feio” para mim né? Mas uma coisa posso garantir que, 19 anos depois, não mudou nem um pouco: não gosto de perder nem par ou ímpar. Claro, tudo dentro do limite da normalidade e do bom senso. Hoje sou adepto do mantra de que esporte é vida e saúde, e perder uma partida não vai me fazer sentir menos ou mais prazer por bater uma bolinha. Mas dentro das 4 linhas, entre o início do jogo e o fim, luto por cada bola com a minha vida, dou esporro geral quando vejo que alguém não se empenha, exijo esforço coletivo, e se vejo alguém fazendo corpo mole ou não encarando o jogo com seriedade, “BAH”, logo enquadro o vivente.

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Posso estar redondamente enganado, mas o grupo do Inter como um todo hoje me parece um grupo que aceita a derrota com muita resignação. Vou reproduzir trechos de entrevistas (sem citar nomes) de profissionais colorados:
- “Estamos pagando o preço da reformulação tardia”
- “O time vinha bem até tomar o gol”
- “Os resultados não estão vindo, mas o trabalho está sendo bem feito, e é questão de tempo para as vitórias voltarem a acontecer”
- “A equipe vem apresentando maturidade e as vitórias fora de casa acontecerão naturalmente”
- “…sabemos que para aspirar alguma coisa nesse tipo de competição há a necessidade de vencer fora. Isso é fruto de uma equipe que precisa amadurecer e ter um padrão de jogo semelhante ao que tem no Beira-Rio”
- “Só o futebol por vezes explica que a equipe que não produz mais acaba tendo a oportunidade de sair com um resultado positivo”

Como é que a mesma equipe que goleia Palmeiras e Grêmio, bate o São Paulo em casa com flagrante superioridade e tem um elenco de boa qualidade consegue perder pro Ipatinga, Paraná, Juventude (entre outros menos cotados), além da façanha de ser goleado pelo Vasco?

Sinceramente, o Inter muitas vezes parece um time sem alma. Um time sem personalidade, que não sabe se impor. Só isso explica que ao longo de um ano só temos 2 vitórias contra times de expressão fora de casa: Fluminense e Botafogo.

Talvez isso explica um time, diretoria e comissão técnica que põe a culpa em mil e um fatores, mas que ao mesmo tempo não mostra capacidade de indignação e inconformidade com uma campanha muito, mas muito aquém em relação a estrutura e aos investimentos realizados.

Me perdoem todos se o que estou falando é uma grande bobagem, mas é a impressão que tenho. Salvo Guinazu e Magrão, falta alma, falta cobrança, falta vergonha na cara.

Os motivos que consigo elencar são vários, mas centralizo em 3 fatores: uma diretoria omissa, falta de liderança na equipe (alguém que fale grosso, e não um Clemer/Edinho da vida) e um treinador insosso, com discursos enfadonhos e sem capacidade de cobrar um mínimo de organização e ambição.

Fico simplesmente perplexo ao ver a naturalidade que nosso Inter de hoje aceita a derrota. Uma coisa lhes digo. Se as origens desse mal não forem diagnosticados e combatidos, teremos mais um ano de altos e baixos.

Afinal, num futebol tão nivelado como de hoje em dia, ganha aquele que faz por merecer, não se entrega e não se aceita a derrota. Ganha aquele que não tem vergonha de chorar nas derrotas. Só qualidade técnica não resolve mais.

Se quisermos chegar a algum lugar, a solução é simples: ou muda-se as pessoas ou muda-se a mentalidade. Se essa mudança puder ser vista já na Bombonera, os colorados agradecem.