terça-feira, abril 06, 2010

27 Assessor de Futebol

27
Em 2006, todo mundo sabe, Fernando Carvalho era Presidente e Vitório Píffero Vice de Futebol. Ainda no final daquele ano, com o time no Japão, Píffero foi aclamado no Conselho Deliberativo como o Presidente para o biênio 2007/2008, enquanto Giovanni Luigi, anterior Vice de Administração assumiria o Futebol. E Fernando Carvalho (oficialmente) deixou o Inter.

As coisas não andaram bem. Abel saiu (oficialmente), veio Gallo. Foi-se o Gallo, voltou Abel. Então Abel saiu de novo. Mais ou menos na mesma época, também se foram Iarley e Fernandão. À deriva, sem saber que comandaria o vestiário colorado, um cargo no Inter passou a ganhar mais destaque que de costume na mídia esportiva: o Assessor de Futebol. Isso porque foi naquele momento que Fernando Carvalho retornou ao clube, justamente na condição de Assessor de Futebol.

Eis que ao final de 2008, às vésperas da Eleição Presidencial, Fernando Carvalho é anunciado como o “novo” Vice Presidente de Futebol, na chapa de Vitório Píffero, passando Giovanni Luigi ao cargo de Assessor de Futebol.

O ano do centenário passou sem alterações nesse organograma, mas já no início de 2010, um novo (esse novo mesmo) Assessor de Futebol aparece no Inter: Roberto Teixeira Siegmann, Vice Presidente de Serviços Especializados. Se você for no site do clube e clicar em Diretoria, vai ver esse nome lá, mas não dá pra saber exatamente que área de atuação é essa. Enfim...

Mas o que quero salientar é a dificuldade de se encontrar uma definição clara de quais sejam as atribuições desses Assessores de Futebol, em especial esses que logo que são anunciados na imprensa, passam a dar entrevistas no final das partidas. No site do clube, arrolados nessa função, também constam Silvio Silveira e de José Cláudio Oliveira de Lima, mas esses são nomes de bem menor visibilidade, ao menos na mídia esportiva.

Fernando Carvalho, quando retornou ao clube como Assessor, obviamente não veio como subordinado de ninguém. Giovanni Luigi, quando passou de Vice de Futebol em 2008, para Assessor em 2009, deixou a impressão de ter feito uma retirada estratégica eleitoral, tanto para a reeleição de Píffero quanto para uma possível futura candidatura sua. Mas e agora, Siegmann, por que veio? Por que o Vice Presidente de Serviços Especializados, Desembargador da Justiça do Trabalho, foi nomeado Assessor de Futebol?

Seu maior destaque sempre foi o de bater de frente com a imprensa, em especial com o grupo RBS, em artigos publicados no site do Inter. Isso faz com que ele tenha uma grande visibilidade junto à torcida. Basta ver seu texto rebatendo os deboches do ex-Presidente Gremista, Cacalo, que, no programa Sala de Redação, da Rádio Gaúcha, disse que o Inter estava usando calções de treino na cor azul.

De qualquer modo, continuo sem saber quais as efetivas atribuições desses Assessores de Futebol. Ao menos do senhor Roberto Siegmann, eu posso saber o que pensa. Algumas pistas a gente consegue ao ler seu mais recente artigo, publicado no site do clube, do qual transcrevo alguns trechos:

“É a magia da bola, como em “O Mistério de Kaspar Hauser” de Werner Herzog. Nos primeiros contatos com o mundo, Kaspar se surpreende com a queda de uma fruta redonda, que rola sobre o terreno em declive. Quem esquece o sorriso maroto de uma criança que tenta dominar a bola?

Claro, talvez esteja aí o segredo de tudo! Domínio, dominar, determinar, etc.

Nós, animais racionais, temos a pretensão de dominar tudo. Lembro do professor de Ciências Naturais que afirmava, em discutível e sintética definição, que o homem, por racional, se diferenciava dos demais seres vivos por dominar a natureza.

Com tanta onipotência, dominar a bola e atingir o resultado querido parece tarefa irrisória. Surgem as teorias, aos milhares, futebol-arte, futebol-resultado, futebol- espetáculo, futebol-força, etc. Esquemas táticos, para todos os gostos, levando o propósito de Miller quase a um tabuleiro de xadrez.

(...)

Sou daqueles que prefere não as teorias enigmáticas sobre o futebol, mas o texto solto do Nelson Rodrigues e as já saudosas definições do Armando Nogueira. Gosto da poesia sem regras, das habilidades surpreendendo as equações, da camiseta suada, do exaurimento físico e das arquibancadas em alvoroço pelo gol marcado.

(...)

Fosse um jogo de xadrez, prevalecesse o pragmatismo do velho, poderíamos estar diante do novel futebol-acéptico.

Que prevaleçam as paixões e os rituais sobre todos os amaldiçoados esquemas. (...)

Afinal, nem o homem domina a natureza, nem a bola possui lados e nem todo o espaço é reservado apenas à razão.”


São profundas as reflexões do nosso Assessor de Futebol! Até difíceis de compreender. Claro, é preciso ler todo o texto, não só os trechos que pincei aqui. Menos mal (?) que nesse artigo, o autor se dirige ao torcedor. Claro, porque, se pra nós já ficou meio prolixo, imaginem pro Walter!