Escrito por Diana Oliveira
Depois de se conhecerem na fila do cinema, Fernandão e Glória do Desporto Nacional passaram a sair juntos. Foram alguns meses de jantares, outros cineminhas, festas de amigos até que oficializaram o namoro. Como todas as histórias de amor, o primeiro ano foi lindo, o segundo, apaixonante, auge! E no terceiro ano... a crise.
A Glória traiu o Fernandão, assanhou-se com o vizinho.
Ele anda abatido, sem forças, buscando no íntimo de seus pensamentos uma saída.
Ela está confusa, deixou-se levar pelos encantos superficiais do rival, que se diz onipotente, imortal, que nada pode ser maior... quando viu de perto, não era grande coisa. Ao recordar os momentos com o outrora amado, o gigante, Glória tem saudade.
Encontraram-se por acaso, em ocasião de viagem, no saguão do aeroporto, retornando à Porto Alegre. Os dois se olharam nos olhos, deu frio na barriga, a garganta secou.
- Oi Glória.
- Oi.
- Tá tudo bem contigo?
- Não sei, às vezes acho que sim...
- Eu tô mau... abandonado...
- Não fala assim. Me dói te ver abatido.
- Porque o rival Glória, por quê? Onde eu errei?
- Não sei direito porque, aparentemente ele estava mais envolvido comigo, tu andava tão distante, ocupado com as tuas coisas.
- Mas não foi culpa minha, foi do diretor da firma. Ele não contrata novo pessoal e eu acabo acumulando funções. Tô exausto Glorinha, não agüento mais matar um leão por dia, não consigo encontrar meu rumo sem ti. Eu sempre me dediquei. Nós poderíamos ter resolvido essa crise mais cedo, eu sei. No começo achei que era só um mau tempo passageiro, que logo nos acertaríamos, quando vi já tinha te perdido e não sei mais o que fazer pra te reconquistar. Eu luto, luto por ti, mas tá tão difícil.
- Nando, eu me sinto tão deslocada nesse novo ambiente que freqüento. Não me identifico com as pessoas, sinto tanta falta da gente junto. Era tão bom quando andávamos de mãos dadas, pela beira do rio. Ele vive me prometendo coisas, novas viagens, tá falando até em Buenos Aires, mas não parece real, era verdadeiro contigo... Nunca vou me esquecer da nossa aventura no Japão. Ele diz que no fim do ano vai me levar pra lá também, fica te desdenhando, diz que não tens mérito algum. Não gosto disso.
- Pô Glorinha, Yokohama é nossa, pára aí!
- Yokohama é nossa, não irei com mais ninguém, te juro. Mas me conta, como andam as coisas no trabalho?
- Tá uma guerra. O presidente não sabe a que veio e o diretor não consegue contratar um profissional de peso, com tudo o que a firma já conquistou, acredita? E agora, pra piorar, tem uma ala de representantes querendo derrubar o gerente. Pô, o cara acabou de chegar, demitir assim tão rápido é desespero.
- Mas o que eles têm contra o gerente?
- Ah... ele fez umas cagadas, umas trocas infelizes de pessoal e teve muita dificuldade pra definir estratégia de venda, não mostrou resultado ainda, mas acho que ele merece uma chance. O chefe desse teu casinho aí não demitiu o gerente ano passado e olha que ele quase faliu a firma no começo do ano, depois se ajeitou e agora tá bem.
- E não tem outro cara de confiança pra te dar apoio?
- Tem sim, andou perdendo o cargo, acho até que foi merecido, mas na nossa última viagem de trabalho ele fez uns milagres e agora volta pra função. Na hora do aperto ele segura a onda, tem comando.
- É dessa viagem que estás retornando?
- Sim.
- E aí?
- Ah, o concorrente saiu na frente, a nossa equipe ainda apresenta propostas lamentáveis, mas conseguimos uma cláusula que vai ser importante pra ganharmos aqui.
- Aqui?
- Sim.
- Quando?
- Quinta-feira que vem.
- Jantarzinho lá em casa na quarta, pra me desejar sorte?
- ...
- Não vai me dizer que tu vai sair com aquela gazela!
- Não. Não vou. Ele vai viajar e disse que nem precisa de mim, que tá tudo certo. Nem queria estar com ele mesmo, tô de saco cheio desse cara.
- Viu Glória, eu é que te quero de verdade, os outros só enganam.
(ela sorri)
- Olha pra mim.
- ...
- Eu vou te ter de volta.
- Então ouve essa música, é um alerta inspirador. É do Bebeto, não o jogador, o músico do samba rock. Ele fez pro Flamengo, mas eu mudo o nome pra se adequar a nós.
- É mesmo? Canta pra mim.
- He.... hei, Colorado. Não bate nessa bola com desprezo, toca nela com razão...
Tomara que eles façam as pazes.