Escrito por Diana Oliveira
Futebol é um movimento popular, acaba sendo uma referência cultural, assim como a música, que apresenta características peculiares de folclore ou costumes de uma nação. É claro que existem as composições atemporais e universais, tal como Pelé, mas via de regra as melodias incorporam cânticos de torcidas, entoando a magia do futebol que nos invade com sentimento e faz o tórax reverberar como amplificador, abrindo o caminho do momento máximo da acústica, o grito de gol.
Esse grito voltado pro campo dá seqüência à invasão, que agora atinge o jogador, autor da proeza, que mira a arquibancada e recebe a onda sonora como se fosse um ralo. Em sua direção escoa a alegria em explosão.
E ele volta a correr, abastecido de energia, até retomar o ciclo.
Assim consegue ser tão envolvente o futebol.
Em tudo na vida quando dedicamos paixão há o impulso incontrolável, o sangue fervente. Há quem diga que o futebol é o ópio do povo, desculpem-me estes, mas hipnose o que causa é novela. Nada contra, eu adorava a Jô, que amava o professor Fábio, na Gata Comeu. Novela gravada na Urca, anos oitenta, só Fiat 147. A diferença é que futebol é real, verdadeiro, não é ficção. E se todos somos alienados, ilustres entre nós estão Chico Buarque, que escreveu as melhores letras de protesto à ditadura televisionada pela rede Globo e maquiada através de que? Novela. E o melhor escritor latino-americano, Eduardo Galeano, escreveu além de “Futebol ao Sol e a Sombra”, o clássico “Veias Abertas da América Latina”, onde denuncia a exploração agressiva que castiga nosso amado e sofrido, porém alegre e belo continente.
A copa de 70 foi conquistada em meio ao regime militar, entre os presos e seus algozes havia sempre uma trégua para assistir a seleção jogar. Vi o depoimento emocionado de um ex prisioneiro, contando a angústia do cativeiro em meio a torturas e que eles torciam por uma derrota da seleção, pois sabiam o quanto a vitória impulsionaria a popularidade do governo. No entanto, diante da final, renderam-se à devoção que está acima de uma causa tão nobre que é a liberdade e o grito que jurou segurar na garganta veio como um desabafo, um choro de dor.
Essas loucuras não se explicam. Futebol é visceral.
Diante da sua imensidão há espaço para o interesse pessoal, o lucro ostensivo, o patrocínio desenfreado e, conseqüentemente, as transferências de jogadores. Temos que aprender a ponderar o aspecto racional, pra não dizer capitalista, com a questão emotiva do gol, que leva ao objetivo maior e este sim, está embasado em questões de idolatria sem abrir mão do pragmático, o título de campeão.
O Pato pra mim não tem preço, mas pro futuro dele mesmo, do Inter e pra Europa, tem...
O que não muda é minha paixão incondicional, droga de chuva no domingo passado que se estendeu por toda semana. Acho que tenho clorofila na pele, preciso de fotossíntese, fico deprimida quando se passam dias sem sol. Jamais moraria em Londres. Como eu queria o jogo de hoje aqui. Sábado ensolarado e frio de inverno bem gaúcho. Ah, que bom seria ver meu time jogar hoje, neste dia que começou alegrando minha alma com céu limpo e azul. Sim, o céu é azul, o universo permite essa cor predominar no transcorrer das horas, para que no fim do dia venha o momento sublime, único. O horizonte se rende à cor mais intensa, vermelha. O sol se põe, o gigante se impõe e o colorado vence.
Hoje me dediquei ao amor que tenho pelo futebol, pelo Inter e pelas palavras. Nos últimos dias esta casa abrigou discussões ofensivas, relatou em tópicos juras perigosas e eu me pergunto, que valor é dado às letras?
A palavra proferida não volta, tenho muito apreço pelas minhas. Tento fazer delas uma virtude, não o tendão de Aquiles. Meu amado colorado infelizmente não joga aqui, mas quero gol, quero vitória, quero alegria e hei de matar minha saudade no próximo domingo, na esperança de um clássico e de torcidas com respeito por si, pelos outros e pelas palavras...
PAZ