terça-feira, maio 01, 2007

9 História do Internacional - O maior campeão gaúcho: 1974


Escrito por Raul Pons


Em várias temporadas o campeão gaúcho terminou a competição invicto. Até mesmo o Juventude, em 1998. Vencer todas as partidas também foi algo que aconteceu mais de uma vez, principalmente durante os primeiros campeonatos, em que apenas os campeões citadinos jogavam, e a competição tinha poucos jogos.

Mas vencer todas as partidas, disputando mais do que meia dúzia de jogos, só uma equipe conseguiu: o Internacional, em 1974. O Colorado venceu todas as 18 partidas, sofrendo apenas 2 gols. Uma campanha perfeita, mas que correu riscos devido ao formulismo.

O campeonato gaúcho de 1974 começou com uma Fase Classificatória, disputada em turno único por 14 equipes: os 12 primeiros da Copa Governador de 1973 (Armour, Associação Caxias, Associação Santa Cruz, Atlético, Esportivo, Encantado, Novo Hamburgo, Internacional SM, São José, São Luiz, Gaúcho e Ypiranga) e os 2 primeiros da Copa Cícero Soares de 1973 (Riograndense RG e Pratense). Classificaram-se para o Decagonal final os 8 melhores times.

Na fase final do Gauchão, Internacional e Grêmio uniram-se a Associação Caxias[1], Associação Santa Cruz[2], Atlético, Esportivo, Encantado, Internacional SM, Gaúcho e Ypiranga. O regulamento do Decagonal previa Fórmula Fraga. Os campeões dos turnos decidiriam o turno. Caso um mesmo clube vencesse os dois turnos, seria campeão direto. O Internacional vinha de uma disputa acirrada de campeonato brasileiro, onde disputou o Quadrangular Final e ficou em 4º lugar. O Grêmio havia sido eliminado na fase semifinal, ficando em 5º lugar.

1º Turno
Na 1ª rodada o Internacional já deixa seu rival para trás. Durante toda a campanha, jamais o Grêmio ficaria ao lado do Internacional, em pontos ganhos. Enquanto o Internacional batia o Atlético em Carazinho (1x0), o Grêmio empatava em casa contra o surpreendente Encantado (3x3). Começaram liderando ao lado do Colorado o Internacional SM e Esportivo.
Na 2ª rodada, o Colorado goleia no Beira-Rio: 5x1 no Santa Cruz. Os outros líderes são derrotados, e o Internacional torna-se a única equipe com 100% de aproveitamento. O rival venceu o Coloradinho, em Santa Maria, por 3x1.
No intervalo entre duas rodadas, o Internacional foi ao Chile e derrotou o Palestino por 2x0, em um amistoso. A seguir, o Colorado vai a Erechim e bate o Ypiranga por 2x0. No Olímpico, o Grêmio bateu o Gaúcho (2x0).
Pela 4ª rodada, mais uma goleada, 4x0 no Esportivo, em casa. O Grêmio se mantém vivo, ao vencer o Caxias, fora (2x0). Na rodada seguinte, o Encantado, que complicou o Grêmio no Olímpico, não conseguiu fazer frente ao Internacional, mesmo jogando em casa (Colorado 2x0). O rival bateu o Atlético, no Olímpico (2x0).
Na metade do 1º turno, mais um tropeço gremista: empata em 0x0 com Esportivo, em Bento. No Beira-Rio, o Internacional bateu o Caxias (1x0). Nesta rodada, o Encantado, que até então só havia somado um pontinho (o empate no Olímpico), consegue mais um empate fora, contra o Santa Cruz.
Nas duas rodadas seguintes a diferença se mantém: o Internacional bateu o Gaúcho, fora (1x0) e Internacional SM no Beira-Rio (4x0). O Grêmio venceu em casa (1x0 Ypiranga) e fora (4x0 Santa Cruz).
No Gre-Nal, o Grêmio precisaria vencer para provocar um jogo-extra.
Em 29.09.1974, um bom público comparecia ao estádio Olímpico, para o clássico que seria comandado por Agomar Martins.
O Internacional entrou em campo com: Manga; Cláudio, Figueroa, Pontes e Vacaria; Falcão, Paulo César Carpegiani e Escurinho; Valdomiro, Sérgio Lima e Lula
O Grêmio começou a partida com: Picasso; Cláudio, Ancheta, Beto Fuscão e Tabajara; Carbone, Torino e Iúra; Zequinha, Tarciso e Loivo
A partida corre tensa. O Colorado joga pelo empate, e não se arrisca. O Grêmio precisa vencer, mas não se expõe, com medo do mortal contra-ataque colorado. Na 2ª etapa, os técnicos mudam suas equipes: Tovar entra no lugar de Carpegiani, para proteger o meio-campo, enquanto o Grêmio muda no ataque, entrando Dionísio no lugar do Zequinha. O tempo passa, o Grêmio se arrisca mais. Mas a partir dos 30 minutos, o Colorado passa a mandar no jogo. Aos 43 minutos do 2º tempo, quando tudo indicava um empate, Vacaria cruza da ponta-esquerda, para Escurinho mandar para as redes, de cabeça: Internacional 1x0! Na comemoração, em frente à torcida, Escurinho dançou, imitando Cassius Clay, quando nocauteou Joe Frazer. Com esse resultado, o Internacional ganhou o turno, ficando o Grêmio em 2º e o Caxias em 3º.

2º turno
O returno começa com uma curiosidade. O Internacional vencia o Gaúcho por 3x0, no Beira-Rio, quando o juiz marcou pênalti para o Colorado, aos 40 minutos do 2º tempo. A torcida começa a gritar “Manga, Manga”. Minelli autoriza o goleiro e ele parte para a cobrança. O goleiro do Gaúcho, Carlos Alberto, tentou, junto com seus colegas, impedir que Manga cobrasse o pênalti. Chorando e considerando a atitude uma grande humilhação, Carlos Alberto nem tentou defender a cobrança, que foi fraca, no meio do gol. No mesmo dia, o Grêmio bateu o Encantado por 2x0. Internacional, Grêmio, Santa Cruz e Atlético começam liderando o returno, mas o Colorado mantém 4 pontos de vantagem sobre o rival, na classificação geral.
No returno, a disputa fica mais acirrada. Os dois clubes batem seus adversários rodada após rodada. Na 2ª rodada, o Internacional derrota o Esportivo, em Bento (1x0), enquanto o Grêmio vence o Santa Cruz, no Olímpico (1x0). O Atlético, que vence o Caxias, também lidera o returno. Mas na 3ª rodada o Grêmio vence o Atlético, em Carazinho (1x0), enquanto o Colorado goleia o Ypiranga (3x0).
Da 4ª à 8ª rodada, estes foram os resultados do Internacional:
2x1 Internacional SM – F (o clube sofre seu segundo e último gol no campeonato)
3x0 Encantado – C
1x0 Santa Cruz – F
4x0 Atlético – C
3x0 Caxias – F
O Grêmio, por sua vez, teve estes resultados:
1x0 Caxias – C
1x0 Ypiranga – F
3x2 Esportivo – C
2x1 Gaúcho – F
3x1 Internacional SM – C
Aí vem o Gre-Nal decisivo. Apesar de estar 4 pontos na frente, na soma geral, se perdesse o turno, o Internacional teria de disputar uma decisão com o Grêmio.
No dia 01.12.1974, 63.425 torcedores se fazem presentes no Beira-Rio, para assistirem ao clássico decisivo do 2º turno (e do campeonato, caso o Internacional vencesse). O árbitro é novamente Agomar Martins.
Os times entram em campo assim escalados:
IN: Manga; Cláudio, Figueroa, Pontes e Vacaria; Falcão, Paulo César Carpegiani e Escurinho; Valdomiro, Sérgio Lima e Lula.
GR: Picasso; Cláudio, Ancheta, Beto Fuscão e Tabajara; Carbone, Carlos Alberto e Luís Carlos; Iúra, Tarciso e Loivo.
A grande surpresa era o lateral-direito Cláudio Duarte, que havia sofrido uma séria lesão no tornozelo, na partida contra o Caxias, e estava engessado. Ao meio-dia, o jogador ainda andava de muletas, na concentração. Para poder jogar, envolveu o pé em várias ataduras, tanto que precisou calçar uma chuteira um número maior que o seu. O Grêmio entrou em campo com uma retranca inimaginável para a época: dois volantes (Carlos Alberto e Carbone) e dois meias (Iúra e Luís Carlos).
Chovia muito, e o gramado estava pesado. Cláudio sente o tornozelo logo no início, ao cortar um cruzamento forte de Loivo. Chega a cair no chão, gemendo de dor, mas se recupera. A partida vira uma batalha. O Grêmio, desesperado pela vitória, ataca o tempo todo. O Internacional se defende, com técnica, mas também com raça. Falcão acerta um soco em Iúra, Figueroa um cotovelaço em Tarciso. Cláudio volta a sentir o tornozelo, em uma dividida com Tabajara, e vai para o intervalo como dúvida.
No 2º tempo a guerra recomeça. No Internacional, Claudiomiro, o herói da torcida, entrou no time, no lugar de Sérgio Lima. O grande centroavante colorado já enfrentava o sério problema de peso que causaria o fim precoce de sua carreira. No Grêmio, Dionísio entrou no lugar de Iúra, que apesar dos seus discursos fortes e provocativos, amarelou diante da raça colorada.
O Grêmio tenta pressionar como no 1º tempo, mas o Internacional estava mais calmo, em campo. Tocando a bola, espera o momento certo do bote. E esse momento ocorre aos 25 minutos do 2º tempo. Carpegiani lança Lula pela esquerda. O ponteiro cruza procurando Claudiomiro, na área, mas Ancheta se antecipa e corta, cabeceando a bola para o outro lado da área. Valdomiro vinha na corrida, e sem deixar a bola tocar no chão, emenda de primeira. Golaço! O Beira-Rio explode: Internacional 1x0.
A partir daí o Grêmio se jogou ao ataque de forma desordenada. Além disso, ficou mais violento. Tabajara acertou Valdomiro, provocando o desejo de vingança em Cláudio Duarte. Assim que teve chance, Claudião acertou Tabajara no meio. No final do jogo, Tabajara acertou o tornozelo machucado de Cláudio, que partiu para cima do adversário. Apesar de trocarem tapas na frente de todos, o juiz não os expulsou. Cláudio Duarte caiu em campo, com o tornozelo explodindo. Minelli mandou Valdir aquecer, mas o lateral colorado levantou-se e disse que iria até o fim da partida.
Dois minutos depois o jogo encerrou-se. Os gremistas demonstravam seu desespero. Tarciso acusava o juiz de tê-lo agredido com um soco, e Ancheta saiu de campo chorando, considerando-se o responsável pela derrota. Do lado colorado, Cláudio Duarte, um dos heróis da partida, não conseguiu retirar a chuteira, devido ao inchaço do tornozelo. Os médicos tiveram de cortar a chuteira e ataduras.
E a torcida colorada comemorava feliz o hexacampeonato, como que adivinhando as grandes conquistas que viriam nos dois anos seguintes.
[1] A Associação Caxias havia surgido em 1971, resultado da fusão do Flamengo e do Juventude. Logo o Juventude abandonou a fusão, mas o Flamengo manteve o nome. Mais tarde, mudou o nome para SER Caxias e adotou as antigas cores do Flamengo.
[2] A Associação Santa Cruz nasceu da fusão do FC Santa Cruz e do Avenida. Mais tarde a fusão foi desmanchada e os dois clubes voltaram à atividade.


9 Comentários:

COLLE ROUPAS TRADICIONALISTAS disse...

cara, seria bem legal se você colocasse todas essas histórias em um livro, seria muito bom.....

Guilherme Mallet disse...

Tenho um vinil com a narração desses gols, chamado INTER OCTA.

Tem os gols das finais dos 8 campeonatos, só não sei onde está. Vou procurar e tentar digitalizar.

Um abraço. E parabéns.

Reintero meu pedido. Louis, coloca um marcador com todos os textos do Raul!

Abraço.

diana oliveira disse...

sensacional os posts do raul! vou dar uma sugestão, em algum momento ali ele escreveu "retranca inimaginável pra época", gostaria de saber a evolução tática do futebol, quais os esquemas q se usava em tal época no inter e pq.
mais uma vez, parabéns raul

Schroder-EUA disse...

Bah nao sabia dessa invencibilidade do Inter! Valeu raul!

Schroder-EUA disse...

Raul porque tu acha que a diferença era tao grande naquela epoca com os times do Interior.

diana oliveira disse...

o raul não responde os comentários... vou fazer como os fãs de seu xará em toda casa de espetáculo musical: toca raul!!!!
adaptando:
fala rauuuul!!!!

Raul Pons disse...

Diana:

He, he, he

Realmente, ainda estou me acostumando à realidade dos "blogs", e demoro a responder comentários.

Mas sua sugestão foi anotada e já estou preparando um artigo sobre a evolução dos esquemas táticos, que pretendo postar no dia 15/05.

Raul Pons disse...

Louis:

Acho que pesava principalmente o poder econômico. Nenhuma cidade do interior tinha um setor econômico forte que conseguisse sustentar uma equipe competitiva por muito tempo.

A Lei do Passe exigia grandes recursos para contratar jogadores já aprovados. Por exemplo, jamais um Juventude teria contado com Christian e André, na época da Lei do Passe.

A diferença tecnológica também era muito maior que hoje. A capacidade de recuperação de atletas pelos Departamentos Médicos dos clubes do interior era muito inferior aos da capital.

Por fim, a fórmula de disputa. Uma competição de tiro mais longo, sem mata-mata, tornava impossível aos clubes menores sonharem com o título (ou mesmo o vice).

BELEZA E QUALIDADE DE VIDA disse...

Sem sombra de dúvidas o colorado é o maior campeão do mundo e o unico campeão de tudo,se dúvidar até de bolinha de gude,rsrsr!

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