
Escrito por Raul Pons
Em várias temporadas o campeão gaúcho terminou a competição invicto. Até mesmo o Juventude, em 1998. Vencer todas as partidas também foi algo que aconteceu mais de uma vez, principalmente durante os primeiros campeonatos, em que apenas os campeões citadinos jogavam, e a competição tinha poucos jogos.
Mas vencer todas as partidas, disputando mais do que meia dúzia de jogos, só uma equipe conseguiu: o Internacional, em 1974. O Colorado venceu todas as 18 partidas, sofrendo apenas 2 gols. Uma campanha perfeita, mas que correu riscos devido ao formulismo.
O campeonato gaúcho de 1974 começou com uma Fase Classificatória, disputada em turno único por 14 equipes: os 12 primeiros da Copa Governador de 1973 (Armour, Associação Caxias, Associação Santa Cruz, Atlético, Esportivo, Encantado, Novo Hamburgo, Internacional SM, São José, São Luiz, Gaúcho e Ypiranga) e os 2 primeiros da Copa Cícero Soares de 1973 (Riograndense RG e Pratense). Classificaram-se para o Decagonal final os 8 melhores times.
Na fase final do Gauchão, Internacional e Grêmio uniram-se a Associação Caxias[1], Associação Santa Cruz[2], Atlético, Esportivo, Encantado, Internacional SM, Gaúcho e Ypiranga. O regulamento do Decagonal previa Fórmula Fraga. Os campeões dos turnos decidiriam o turno. Caso um mesmo clube vencesse os dois turnos, seria campeão direto. O Internacional vinha de uma disputa acirrada de campeonato brasileiro, onde disputou o Quadrangular Final e ficou em 4º lugar. O Grêmio havia sido eliminado na fase semifinal, ficando em 5º lugar.
1º Turno
Na 1ª rodada o Internacional já deixa seu rival para trás. Durante toda a campanha, jamais o Grêmio ficaria ao lado do Internacional, em pontos ganhos. Enquanto o Internacional batia o Atlético em Carazinho (1x0), o Grêmio empatava em casa contra o surpreendente Encantado (3x3). Começaram liderando ao lado do Colorado o Internacional SM e Esportivo.
Na 2ª rodada, o Colorado goleia no Beira-Rio: 5x1 no Santa Cruz. Os outros líderes são derrotados, e o Internacional torna-se a única equipe com 100% de aproveitamento. O rival venceu o Coloradinho, em Santa Maria, por 3x1.
No intervalo entre duas rodadas, o Internacional foi ao Chile e derrotou o Palestino por 2x0, em um amistoso. A seguir, o Colorado vai a Erechim e bate o Ypiranga por 2x0. No Olímpico, o Grêmio bateu o Gaúcho (2x0).
Pela 4ª rodada, mais uma goleada, 4x0 no Esportivo, em casa. O Grêmio se mantém vivo, ao vencer o Caxias, fora (2x0). Na rodada seguinte, o Encantado, que complicou o Grêmio no Olímpico, não conseguiu fazer frente ao Internacional, mesmo jogando em casa (Colorado 2x0). O rival bateu o Atlético, no Olímpico (2x0).
Na metade do 1º turno, mais um tropeço gremista: empata em 0x0 com Esportivo, em Bento. No Beira-Rio, o Internacional bateu o Caxias (1x0). Nesta rodada, o Encantado, que até então só havia somado um pontinho (o empate no Olímpico), consegue mais um empate fora, contra o Santa Cruz.
Nas duas rodadas seguintes a diferença se mantém: o Internacional bateu o Gaúcho, fora (1x0) e Internacional SM no Beira-Rio (4x0). O Grêmio venceu em casa (1x0 Ypiranga) e fora (4x0 Santa Cruz).
No Gre-Nal, o Grêmio precisaria vencer para provocar um jogo-extra.
Em 29.09.1974, um bom público comparecia ao estádio Olímpico, para o clássico que seria comandado por Agomar Martins.
O Internacional entrou em campo com: Manga; Cláudio, Figueroa, Pontes e Vacaria; Falcão, Paulo César Carpegiani e Escurinho; Valdomiro, Sérgio Lima e Lula
O Grêmio começou a partida com: Picasso; Cláudio, Ancheta, Beto Fuscão e Tabajara; Carbone, Torino e Iúra; Zequinha, Tarciso e Loivo
A partida corre tensa. O Colorado joga pelo empate, e não se arrisca. O Grêmio precisa vencer, mas não se expõe, com medo do mortal contra-ataque colorado. Na 2ª etapa, os técnicos mudam suas equipes: Tovar entra no lugar de Carpegiani, para proteger o meio-campo, enquanto o Grêmio muda no ataque, entrando Dionísio no lugar do Zequinha. O tempo passa, o Grêmio se arrisca mais. Mas a partir dos 30 minutos, o Colorado passa a mandar no jogo. Aos 43 minutos do 2º tempo, quando tudo indicava um empate, Vacaria cruza da ponta-esquerda, para Escurinho mandar para as redes, de cabeça: Internacional 1x0! Na comemoração, em frente à torcida, Escurinho dançou, imitando Cassius Clay, quando nocauteou Joe Frazer. Com esse resultado, o Internacional ganhou o turno, ficando o Grêmio em 2º e o Caxias em 3º.
2º turno
O returno começa com uma curiosidade. O Internacional vencia o Gaúcho por 3x0, no Beira-Rio, quando o juiz marcou pênalti para o Colorado, aos 40 minutos do 2º tempo. A torcida começa a gritar “Manga, Manga”. Minelli autoriza o goleiro e ele parte para a cobrança. O goleiro do Gaúcho, Carlos Alberto, tentou, junto com seus colegas, impedir que Manga cobrasse o pênalti. Chorando e considerando a atitude uma grande humilhação, Carlos Alberto nem tentou defender a cobrança, que foi fraca, no meio do gol. No mesmo dia, o Grêmio bateu o Encantado por 2x0. Internacional, Grêmio, Santa Cruz e Atlético começam liderando o returno, mas o Colorado mantém 4 pontos de vantagem sobre o rival, na classificação geral.
No returno, a disputa fica mais acirrada. Os dois clubes batem seus adversários rodada após rodada. Na 2ª rodada, o Internacional derrota o Esportivo, em Bento (1x0), enquanto o Grêmio vence o Santa Cruz, no Olímpico (1x0). O Atlético, que vence o Caxias, também lidera o returno. Mas na 3ª rodada o Grêmio vence o Atlético, em Carazinho (1x0), enquanto o Colorado goleia o Ypiranga (3x0).
Da 4ª à 8ª rodada, estes foram os resultados do Internacional:
2x1 Internacional SM – F (o clube sofre seu segundo e último gol no campeonato)
3x0 Encantado – C
1x0 Santa Cruz – F
4x0 Atlético – C
3x0 Caxias – F
O Grêmio, por sua vez, teve estes resultados:
1x0 Caxias – C
1x0 Ypiranga – F
3x2 Esportivo – C
2x1 Gaúcho – F
3x1 Internacional SM – C
Aí vem o Gre-Nal decisivo. Apesar de estar 4 pontos na frente, na soma geral, se perdesse o turno, o Internacional teria de disputar uma decisão com o Grêmio.
No dia 01.12.1974, 63.425 torcedores se fazem presentes no Beira-Rio, para assistirem ao clássico decisivo do 2º turno (e do campeonato, caso o Internacional vencesse). O árbitro é novamente Agomar Martins.
Os times entram em campo assim escalados:
IN: Manga; Cláudio, Figueroa, Pontes e Vacaria; Falcão, Paulo César Carpegiani e Escurinho; Valdomiro, Sérgio Lima e Lula.
GR: Picasso; Cláudio, Ancheta, Beto Fuscão e Tabajara; Carbone, Carlos Alberto e Luís Carlos; Iúra, Tarciso e Loivo.
A grande surpresa era o lateral-direito Cláudio Duarte, que havia sofrido uma séria lesão no tornozelo, na partida contra o Caxias, e estava engessado. Ao meio-dia, o jogador ainda andava de muletas, na concentração. Para poder jogar, envolveu o pé em várias ataduras, tanto que precisou calçar uma chuteira um número maior que o seu. O Grêmio entrou em campo com uma retranca inimaginável para a época: dois volantes (Carlos Alberto e Carbone) e dois meias (Iúra e Luís Carlos).
Chovia muito, e o gramado estava pesado. Cláudio sente o tornozelo logo no início, ao cortar um cruzamento forte de Loivo. Chega a cair no chão, gemendo de dor, mas se recupera. A partida vira uma batalha. O Grêmio, desesperado pela vitória, ataca o tempo todo. O Internacional se defende, com técnica, mas também com raça. Falcão acerta um soco em Iúra, Figueroa um cotovelaço em Tarciso. Cláudio volta a sentir o tornozelo, em uma dividida com Tabajara, e vai para o intervalo como dúvida.
No 2º tempo a guerra recomeça. No Internacional, Claudiomiro, o herói da torcida, entrou no time, no lugar de Sérgio Lima. O grande centroavante colorado já enfrentava o sério problema de peso que causaria o fim precoce de sua carreira. No Grêmio, Dionísio entrou no lugar de Iúra, que apesar dos seus discursos fortes e provocativos, amarelou diante da raça colorada.
O Grêmio tenta pressionar como no 1º tempo, mas o Internacional estava mais calmo, em campo. Tocando a bola, espera o momento certo do bote. E esse momento ocorre aos 25 minutos do 2º tempo. Carpegiani lança Lula pela esquerda. O ponteiro cruza procurando Claudiomiro, na área, mas Ancheta se antecipa e corta, cabeceando a bola para o outro lado da área. Valdomiro vinha na corrida, e sem deixar a bola tocar no chão, emenda de primeira. Golaço! O Beira-Rio explode: Internacional 1x0.
A partir daí o Grêmio se jogou ao ataque de forma desordenada. Além disso, ficou mais violento. Tabajara acertou Valdomiro, provocando o desejo de vingança em Cláudio Duarte. Assim que teve chance, Claudião acertou Tabajara no meio. No final do jogo, Tabajara acertou o tornozelo machucado de Cláudio, que partiu para cima do adversário. Apesar de trocarem tapas na frente de todos, o juiz não os expulsou. Cláudio Duarte caiu em campo, com o tornozelo explodindo. Minelli mandou Valdir aquecer, mas o lateral colorado levantou-se e disse que iria até o fim da partida.
Dois minutos depois o jogo encerrou-se. Os gremistas demonstravam seu desespero. Tarciso acusava o juiz de tê-lo agredido com um soco, e Ancheta saiu de campo chorando, considerando-se o responsável pela derrota. Do lado colorado, Cláudio Duarte, um dos heróis da partida, não conseguiu retirar a chuteira, devido ao inchaço do tornozelo. Os médicos tiveram de cortar a chuteira e ataduras.
E a torcida colorada comemorava feliz o hexacampeonato, como que adivinhando as grandes conquistas que viriam nos dois anos seguintes.
[1] A Associação Caxias havia surgido em 1971, resultado da fusão do Flamengo e do Juventude. Logo o Juventude abandonou a fusão, mas o Flamengo manteve o nome. Mais tarde, mudou o nome para SER Caxias e adotou as antigas cores do Flamengo.
[2] A Associação Santa Cruz nasceu da fusão do FC Santa Cruz e do Avenida. Mais tarde a fusão foi desmanchada e os dois clubes voltaram à atividade.
Mas vencer todas as partidas, disputando mais do que meia dúzia de jogos, só uma equipe conseguiu: o Internacional, em 1974. O Colorado venceu todas as 18 partidas, sofrendo apenas 2 gols. Uma campanha perfeita, mas que correu riscos devido ao formulismo.
O campeonato gaúcho de 1974 começou com uma Fase Classificatória, disputada em turno único por 14 equipes: os 12 primeiros da Copa Governador de 1973 (Armour, Associação Caxias, Associação Santa Cruz, Atlético, Esportivo, Encantado, Novo Hamburgo, Internacional SM, São José, São Luiz, Gaúcho e Ypiranga) e os 2 primeiros da Copa Cícero Soares de 1973 (Riograndense RG e Pratense). Classificaram-se para o Decagonal final os 8 melhores times.
Na fase final do Gauchão, Internacional e Grêmio uniram-se a Associação Caxias[1], Associação Santa Cruz[2], Atlético, Esportivo, Encantado, Internacional SM, Gaúcho e Ypiranga. O regulamento do Decagonal previa Fórmula Fraga. Os campeões dos turnos decidiriam o turno. Caso um mesmo clube vencesse os dois turnos, seria campeão direto. O Internacional vinha de uma disputa acirrada de campeonato brasileiro, onde disputou o Quadrangular Final e ficou em 4º lugar. O Grêmio havia sido eliminado na fase semifinal, ficando em 5º lugar.
1º Turno
Na 1ª rodada o Internacional já deixa seu rival para trás. Durante toda a campanha, jamais o Grêmio ficaria ao lado do Internacional, em pontos ganhos. Enquanto o Internacional batia o Atlético em Carazinho (1x0), o Grêmio empatava em casa contra o surpreendente Encantado (3x3). Começaram liderando ao lado do Colorado o Internacional SM e Esportivo.
Na 2ª rodada, o Colorado goleia no Beira-Rio: 5x1 no Santa Cruz. Os outros líderes são derrotados, e o Internacional torna-se a única equipe com 100% de aproveitamento. O rival venceu o Coloradinho, em Santa Maria, por 3x1.
No intervalo entre duas rodadas, o Internacional foi ao Chile e derrotou o Palestino por 2x0, em um amistoso. A seguir, o Colorado vai a Erechim e bate o Ypiranga por 2x0. No Olímpico, o Grêmio bateu o Gaúcho (2x0).
Pela 4ª rodada, mais uma goleada, 4x0 no Esportivo, em casa. O Grêmio se mantém vivo, ao vencer o Caxias, fora (2x0). Na rodada seguinte, o Encantado, que complicou o Grêmio no Olímpico, não conseguiu fazer frente ao Internacional, mesmo jogando em casa (Colorado 2x0). O rival bateu o Atlético, no Olímpico (2x0).
Na metade do 1º turno, mais um tropeço gremista: empata em 0x0 com Esportivo, em Bento. No Beira-Rio, o Internacional bateu o Caxias (1x0). Nesta rodada, o Encantado, que até então só havia somado um pontinho (o empate no Olímpico), consegue mais um empate fora, contra o Santa Cruz.
Nas duas rodadas seguintes a diferença se mantém: o Internacional bateu o Gaúcho, fora (1x0) e Internacional SM no Beira-Rio (4x0). O Grêmio venceu em casa (1x0 Ypiranga) e fora (4x0 Santa Cruz).
No Gre-Nal, o Grêmio precisaria vencer para provocar um jogo-extra.
Em 29.09.1974, um bom público comparecia ao estádio Olímpico, para o clássico que seria comandado por Agomar Martins.
O Internacional entrou em campo com: Manga; Cláudio, Figueroa, Pontes e Vacaria; Falcão, Paulo César Carpegiani e Escurinho; Valdomiro, Sérgio Lima e Lula
O Grêmio começou a partida com: Picasso; Cláudio, Ancheta, Beto Fuscão e Tabajara; Carbone, Torino e Iúra; Zequinha, Tarciso e Loivo
A partida corre tensa. O Colorado joga pelo empate, e não se arrisca. O Grêmio precisa vencer, mas não se expõe, com medo do mortal contra-ataque colorado. Na 2ª etapa, os técnicos mudam suas equipes: Tovar entra no lugar de Carpegiani, para proteger o meio-campo, enquanto o Grêmio muda no ataque, entrando Dionísio no lugar do Zequinha. O tempo passa, o Grêmio se arrisca mais. Mas a partir dos 30 minutos, o Colorado passa a mandar no jogo. Aos 43 minutos do 2º tempo, quando tudo indicava um empate, Vacaria cruza da ponta-esquerda, para Escurinho mandar para as redes, de cabeça: Internacional 1x0! Na comemoração, em frente à torcida, Escurinho dançou, imitando Cassius Clay, quando nocauteou Joe Frazer. Com esse resultado, o Internacional ganhou o turno, ficando o Grêmio em 2º e o Caxias em 3º.
2º turno
O returno começa com uma curiosidade. O Internacional vencia o Gaúcho por 3x0, no Beira-Rio, quando o juiz marcou pênalti para o Colorado, aos 40 minutos do 2º tempo. A torcida começa a gritar “Manga, Manga”. Minelli autoriza o goleiro e ele parte para a cobrança. O goleiro do Gaúcho, Carlos Alberto, tentou, junto com seus colegas, impedir que Manga cobrasse o pênalti. Chorando e considerando a atitude uma grande humilhação, Carlos Alberto nem tentou defender a cobrança, que foi fraca, no meio do gol. No mesmo dia, o Grêmio bateu o Encantado por 2x0. Internacional, Grêmio, Santa Cruz e Atlético começam liderando o returno, mas o Colorado mantém 4 pontos de vantagem sobre o rival, na classificação geral.
No returno, a disputa fica mais acirrada. Os dois clubes batem seus adversários rodada após rodada. Na 2ª rodada, o Internacional derrota o Esportivo, em Bento (1x0), enquanto o Grêmio vence o Santa Cruz, no Olímpico (1x0). O Atlético, que vence o Caxias, também lidera o returno. Mas na 3ª rodada o Grêmio vence o Atlético, em Carazinho (1x0), enquanto o Colorado goleia o Ypiranga (3x0).
Da 4ª à 8ª rodada, estes foram os resultados do Internacional:
2x1 Internacional SM – F (o clube sofre seu segundo e último gol no campeonato)
3x0 Encantado – C
1x0 Santa Cruz – F
4x0 Atlético – C
3x0 Caxias – F
O Grêmio, por sua vez, teve estes resultados:
1x0 Caxias – C
1x0 Ypiranga – F
3x2 Esportivo – C
2x1 Gaúcho – F
3x1 Internacional SM – C
Aí vem o Gre-Nal decisivo. Apesar de estar 4 pontos na frente, na soma geral, se perdesse o turno, o Internacional teria de disputar uma decisão com o Grêmio.
No dia 01.12.1974, 63.425 torcedores se fazem presentes no Beira-Rio, para assistirem ao clássico decisivo do 2º turno (e do campeonato, caso o Internacional vencesse). O árbitro é novamente Agomar Martins.
Os times entram em campo assim escalados:
IN: Manga; Cláudio, Figueroa, Pontes e Vacaria; Falcão, Paulo César Carpegiani e Escurinho; Valdomiro, Sérgio Lima e Lula.
GR: Picasso; Cláudio, Ancheta, Beto Fuscão e Tabajara; Carbone, Carlos Alberto e Luís Carlos; Iúra, Tarciso e Loivo.
A grande surpresa era o lateral-direito Cláudio Duarte, que havia sofrido uma séria lesão no tornozelo, na partida contra o Caxias, e estava engessado. Ao meio-dia, o jogador ainda andava de muletas, na concentração. Para poder jogar, envolveu o pé em várias ataduras, tanto que precisou calçar uma chuteira um número maior que o seu. O Grêmio entrou em campo com uma retranca inimaginável para a época: dois volantes (Carlos Alberto e Carbone) e dois meias (Iúra e Luís Carlos).
Chovia muito, e o gramado estava pesado. Cláudio sente o tornozelo logo no início, ao cortar um cruzamento forte de Loivo. Chega a cair no chão, gemendo de dor, mas se recupera. A partida vira uma batalha. O Grêmio, desesperado pela vitória, ataca o tempo todo. O Internacional se defende, com técnica, mas também com raça. Falcão acerta um soco em Iúra, Figueroa um cotovelaço em Tarciso. Cláudio volta a sentir o tornozelo, em uma dividida com Tabajara, e vai para o intervalo como dúvida.
No 2º tempo a guerra recomeça. No Internacional, Claudiomiro, o herói da torcida, entrou no time, no lugar de Sérgio Lima. O grande centroavante colorado já enfrentava o sério problema de peso que causaria o fim precoce de sua carreira. No Grêmio, Dionísio entrou no lugar de Iúra, que apesar dos seus discursos fortes e provocativos, amarelou diante da raça colorada.
O Grêmio tenta pressionar como no 1º tempo, mas o Internacional estava mais calmo, em campo. Tocando a bola, espera o momento certo do bote. E esse momento ocorre aos 25 minutos do 2º tempo. Carpegiani lança Lula pela esquerda. O ponteiro cruza procurando Claudiomiro, na área, mas Ancheta se antecipa e corta, cabeceando a bola para o outro lado da área. Valdomiro vinha na corrida, e sem deixar a bola tocar no chão, emenda de primeira. Golaço! O Beira-Rio explode: Internacional 1x0.
A partir daí o Grêmio se jogou ao ataque de forma desordenada. Além disso, ficou mais violento. Tabajara acertou Valdomiro, provocando o desejo de vingança em Cláudio Duarte. Assim que teve chance, Claudião acertou Tabajara no meio. No final do jogo, Tabajara acertou o tornozelo machucado de Cláudio, que partiu para cima do adversário. Apesar de trocarem tapas na frente de todos, o juiz não os expulsou. Cláudio Duarte caiu em campo, com o tornozelo explodindo. Minelli mandou Valdir aquecer, mas o lateral colorado levantou-se e disse que iria até o fim da partida.
Dois minutos depois o jogo encerrou-se. Os gremistas demonstravam seu desespero. Tarciso acusava o juiz de tê-lo agredido com um soco, e Ancheta saiu de campo chorando, considerando-se o responsável pela derrota. Do lado colorado, Cláudio Duarte, um dos heróis da partida, não conseguiu retirar a chuteira, devido ao inchaço do tornozelo. Os médicos tiveram de cortar a chuteira e ataduras.
E a torcida colorada comemorava feliz o hexacampeonato, como que adivinhando as grandes conquistas que viriam nos dois anos seguintes.
[1] A Associação Caxias havia surgido em 1971, resultado da fusão do Flamengo e do Juventude. Logo o Juventude abandonou a fusão, mas o Flamengo manteve o nome. Mais tarde, mudou o nome para SER Caxias e adotou as antigas cores do Flamengo.
[2] A Associação Santa Cruz nasceu da fusão do FC Santa Cruz e do Avenida. Mais tarde a fusão foi desmanchada e os dois clubes voltaram à atividade.