Escrito por Diana Oliveira
Eles são de universos opostos, mas acabam ficando juntos. Cada um com seus dilemas. O bebê tinha uma vida tranqüila sob os cuidados da mana, já há algum tempo. A babá transitava pelos lares sutilmente desapegada, até que o destino os uniu.
Os primeiros contatos foram carinhosamente bem sucedidos, havia entre eles uma sintonia especial, quase como junção de moléculas de carbono: química. Mesmo assim, era complicado administrar tantas diferenças, na vida de um bebê um livro de Garcia Marques é coisa de gente deprimida e haja compreensão da babá diante dos remelexos animados em auto e péssimo som de pagode Boka Loka, protagonizados pelo bebê.
Mas enfim, ela estava ali em função dele. Ele, precisando dela. Por vezes mediam forças, o bebê, como bom guri de apartamento, fingia não ligar para o cansaço da babá no fim do dia, ou suas preocupações quando a noite, antes de dormir, suspirava angustiada – “quero mamá e foda-se”. O troco vinha mais pesado que fralda cheia, sem hesitar, em meio a festas infantis, a babá dedicava atenção a outros bebês, de maneira que o aconchegante colinho passava tardes sob domínio de outras freguesias.
Com quase nenhuma compatibilidade a relação foi indo num ritmo:
“Quero doce... Preparei salgado”;
“Papai me disse que o Lula come criancinhas... Eu votei no PT... Paiêeeee!!”;
“Onde tu vai?... Passear com a mana... Uhmm... Dois”;
“Fecha a janela... Não... Sim... Não”;
“Ai que frio... Ai que calor”;
“Detesto ar condicionado... Não vou dormir sem ar condicionado!”;
“Esse bebê é um projeto de play boy mimado”;
“Essa babá é louca”...
Até que um dia a tv ficou ligada. Atenção para o toque de cinco segundos e na mesma hora desceu as escadas correndo uma; atropelou estabanado a mesa de jantar o outro. Era jogo do Inter. Sentaram lado a lado e por noventa minutos não poderia existir em toda Via Láctea dois seres com maior afinidade. Não discutiram, não se contrariaram, não competiram, por uma hora e meia. Aos quarenta e dois do segundo tempo Fernandão marcou de cabeça o gol da vitória em partida emocionante, com muita vibração no pulsar dos corações antagônicos e no calor da hora a babá olhou ternamente para o lindo bebê e disse: meu amor. Ele respondeu: minha amora.
Fim de jogo, tv desligada e...
“Vou fumar um cigarro.”
“Tá louca! Manhêee!!!!”
Só o colorado é capaz de unir pessoas tão diferentes... Salve o Clube do Povo do Rio Grande do Sul.