Escrito por Raul Pons
A temporada de 1936 iniciou-se com duas polêmicas agitando os meios esportivos. Uma delas era apenas mais um caso pitoresco, mas a outra viria a impulsionar profundas mudanças no futebol porto-alegrense e gaúcho. A polícia gaúcha resolvera punir o jogo violento com autuação em flagrante por agressão. Instantes antes da partida entre Cruzeiro e Internacional (01.05), o delegado responsável pelo policiamento do jogo, Amantino Fagundes, ingressou no gramado e advertiu os jogadores, em frente ao juiz, do risco de prisão em caso de faltas violentas. O presidente da AMGEA reagiu, declarando através da imprensa que a polícia não tinha o direito de estender sua jurisdição para dentro do gramado. Somente após um acordo entre a AMGEA e o chefe da Polícia do Estado, Poty Medeiros, a situação foi resolvida e os árbitros mantiveram a autoridade durante as partidas. A outra polêmica diz respeito à visita ao Rio Grande do Sul, no mês de abril, de uma delegação das entidades esportivas “especializadas” (profissionais), buscando estender suas ramificações até o estado. A imprensa divulgou boatos de que a Federação Rio Grandense de Desportos (FRGD) e a Liga Atlética do Rio Grande do Sul (LARGS) poderiam aderir às “especializadas”, porém as mesmas ignoraram os visitantes. Contudo, no ano seguinte os grandes clubes de Porto Alegre criariam a AMGEA “Especializada”, rompendo com a FRGD. Durante três anos a dupla Gre-Nal ficaria afastada das competições estaduais, até a profissionalização completa do futebol gaúcho.
No começo da temporada, o São José venceu o Torneio Início. No campeonato, a AMGEA resolveu, após iniciado o torneio, adotar a Fórmula Fraga para apontar o campeão. O vencedor do 1º turno enfrentaria, em uma final, o vencedor do 2º turno.
O Internacional tinha o melhor time da cidade desde 1934. A perda da taça, em 1935, ocorreu de forma inesperada, ao sofrer dois gols no final de um clássico em que havia dominado o tempo todo, perdendo vários gols, e podia até empatar para ser campeão. Em 1936, o time-base era mais forte que o de 1936: Penha; Alfeu e Natal; Garnizé, Risada e Levi; Artigas, Salvador, Sylvio Pirillo, Castillo e Tom Mix. O clube revelava um bom lateral esquerdo (Levi), contava com dois reforços vindos do Grêmio (Artigas e Castillo), o ponteiro-esquerdo da seleção gaúcha (Tom Mix) e uma revelação vinda do Americano (Sylvio Pirillo). Pirillo é considerado por muitos o maior centroavante da história do Internacional, além de ter sido ídolo no Flamengo, Botafogo e Peñarol. A principal baixa do Colorado foi o craque Tupan, que transferiu-se para o Santos.
No 1º turno o Internacional bateu todos os adversários, conquistando a vaga na final. No Gre-Nal, uma outra polêmica: o Grêmio pediu o adiamento da partida, devido à morte de seu atleta Sardinha I. Como o Internacional não aceitou, o rival publicou nota de protesto na imprensa. A direção colorada considerou a atitude uma "manobra de sórdida malícia e perfídia". Mas em campo, vitória colorada por 3x2. Os gols gremistas foram marcados por Russinho, que mais tarde trocaria de lado e seria um dos ídolos do Rolo Compressor. No 2º turno, novamente 100% de aproveitamento. O Internacional levou o título da cidade sem precisar jogar uma final, pois ganhou os dois turnos.
Campanha colorada:
1º Turno:
3x0 Cruzeiro
4x1 Americano
3x2 Grêmio
3x0 São José
1x0 Força e Luz
6x1 Porto Alegre
2º Turno:
3x0 Cruzeiro
5x3 Americano
2x0 Grêmio
3x1 São José
6x2 Força e Luz
5x0 Porto Alegre
Depois do título municipal, o Internacional participou do campeonato estadual, e pela primeira (e única) vez o clube perdeu o título para uma equipe do interior, na fórmula de decisão por regiões, que marcou o Gauchão de 1919 a 1960. Após bater o Juventude por 9x0, o Colorado enfrentou o Riograndense de Santa Maria. O tempo normal terminou 4x4, mas na prorrogação o Internacional fez mais três gols. O adversário da final, em duas partidas, foi o Rio Grande. E perdemos as duas, por 2x3 e 0x2.
PS1: Após uma semana de polêmicas, voltamos à nossa série. Este era o artigo que eu postaria na terça passada, mas que na última hora resolvi substituir pelo "Origem do nome".
PS2: Na foto, Sylvio Pirillo.
1 Comentários:
Se a moda de prender os caras por atos violentos nos estadios e dentro de campo ainda permanecesse até hoje ia faltá cadeia.
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