Antes que me interpretem mal, quero deixar bem claro que o título em questão não sugere que sigamos as tradicionais gazelices fanfarrônicas dos nossos rivais, seus pruridos chiliquentos acerca do conceito de imortalidade, seus modos encoxantes de torcer ou suas constantes recaídas bancarrotas para o limbo da segunda divisão. Subverti as palavras da famosa música do Chico Buarque não em vão. Tão somente peço que a gente reflita e tenha noção do quão barbada está esse campeonato.
O nosso rival das três cores está provando isso a cada rodada que passa. Com um grupo mediano de jogadores, o mediano treinador Sexy Hot está fazendo chover. E não à toa eles são líderes, incrivelmente líderes, por mais que essa verdade nos magoe e soe como calúnia e difamação nesse fundo tão vermelho. Vermelho que nos lembra o escárnio que estamos sofrendo nos últimos dias.
Enfim, não nos deixemos enganar por ufanismos forçados. Joguemos o orgulho vermelho de lado por instantes. Sugiro, no momento, a abstração. Sim, eles estão com pinta de campeões. Estão "insecáveis", pra dizer a verdade. É cedo pra afimar? Pode ser, mas vamos admitir, eles são líderes com justiça. Eles não têm nenhum grande destaque individual, têm um coletivo sabedor de suas limitações, mas praticamente homogêneo e bem treinado, sem nabas e a partir disso estão fazendo o feijão-com-arroz que funciona como relógio nesse tipo de certame.
O segredo do Recreativo reside na quase ausência de nabas. E é preciso diferenciar claramente a naba do jogador mediano. O jogador mediano dificilmente compromete num time ajeitadinho. Já a naba compromete, ah se compromete! Não tem jeito, mais cedo ou mais tarde a naba vai entregar. Estou dizendo que o Danny Moraes é naba por causa daquela entregada constrangedora contra o Santos? Claro que não, o Danny é um bom jogador que teve seu momento de naba, talvez tragado pelas limitações do conjunto disposto em campo nesta quarta-negra que passou.
Vejamos o time que entrou em campo: Clemer, Ângelo, Índio, Danny Moraes, Marcão, Edinho, Guiñazú, Andrezinho, Taison, Walter e Guto. Convenhamos, não preciso nem dizer o quão comum é esse time, não é verdade? E estou sendo condescendente, pois nem vou citar as nabas dessa equipe. Já sabemos claramente quem são. E o são em número suficiente pra desafiar a sorte - e a paciência - de qualquer cristão. Num time assim, o ótimo jogador vira comum, o comum vira naba e a naba vira Marcão.
E, óbvio, tanta ruindade potencializada acaba por prejudicar a gurizada de talento, como Walter e Taison. Aliás, que coisa covarde aqueles murmurinhos e princípios de vaias para com os garotos no jogo de quarta. Ô pessoal que sofre de ejaculação precoce esse, tchê! O estádio quis culpar a garotada.
A verdade de momento todos nós estamos carecas de saber, ou seja, o Inter possui dois times diferentes. Essa coisa esquálida que vagueia moribunda no campeonato e o ótimo time do papel.
Este, o do papel, provavelmente tenha essa formatação: Renan, Wellignton Monteiro, Bolívar, Sorondo, Gustavo Nery, Magrão, Guinãzú, D´Alessandro, Alex, Daniel Carvalho e Nilmar. Quantos do time anterior? Apenas um, o Guiñazú. Dá uma tremenda diferença. Algumas considerações: entre Bolívar e Índio, tanto faz. Escolhi Bolívar por causa da sua tranquilidade em campo, ainda que o Índio seja mais goleador. Já que não teremos a chegada de um novo lateral direito, coloquei o WM mesmo, pois, apesar dos pesares, é o cara mais confiável que temos pra colocar por ali. Pelo menos tem experiência, razoável passe e boa marcação, enfim... é o que temos. Vejam também que estou positivamente considerando que o Edinho será vendido, obrigando o treinador a deslocar Magrão pra primeira "volância".
Se Edinho ficar, não terá jeito, será escalado pelo Tite e por qualquer outro treinador que venha comandar o Colorado. A titularidade eterna do Edinho é a terrível cláusula pétrea do Internacional. Apostei também que Guiñazú fica, pro bem do povo e felicidade geral da nação colorada. Não sou muito fã do Alex, mas parece que não chegou a dita proposta e ele vai ficar. Então tudo indica que o treinador irá encaixá-lo em algum lugar e tampouco terá peito pra colocar o Taison ou Rosinei. De qualquer forma, não consigo ver o Alex na reserva do Rosinei, por exemplo. E gosto mais do Alex como coadjuvante, o que ele será nesse time.
Essa nova formação está cheia de gente que pode decidir uma partida, cheia de gente talentosa e de nome, gente rodada no futebol mundial e que pode muito bem assumir a bronca numa partida encardida. Em termos de nomes, se formos comparar com o time do Recreativo, atual líder, chega a ser covardia. Porém, o Recreativo tem um diferencial que fará muita falta a esse novo Inter: meses de conjunto.
Os jogadores, por mais medianos que sejam, já se conhecem e, como disse parágrafos acima, estão muito bem instruídos pelo Sexy Hot. Mas estou decretando que esse novo Colorado pode dar errado em curto espaço de tempo? Claro que não! Nada impede que esse time aconteça, mas não é recomendável mudar a roda com o carro em andamento, ainda que os nomes envolvidos sejam incontestáveis. De mais a mais, o Recreativo teve a grande sorte de ser um dos clubes menos prejudicados pela janela de agosto. Lembrem que o grande Guiñazú ainda pode sair. E seria uma perda irreparável, na minha parca opinião. Já eles perderam apenas Eduardo Costa e Léo. Perdas perfeitamente recuperáveis. Eis o bônus do Recreativo por não possuir grandes destaques individuais. E ainda trouxeram o bom jogador Souza. Com certeza ficarão mais competitivos e sem dúvida serão o time a ser batido. A não ser que surja pela frente um STJD e entregue o título para o São Paulo ou o Palmeiras.
E quanto ao novo Inter? Deve esquecer o provável sucesso do time de pijama e focar na Libertadores. Eu lembro do ano passado, quando o Flamengo, ao final do primeiro turno, amargava na zona do rebaixamento, até que o Tio Janjão assumiu e numa arrancada fulminante os cariocas alcançaram a vaga pra Libertadores.
Por isso, ainda mantenho uma ponta de esperança. Apesar de tudo conspirar contra, confio nesse novo time de segundo semestre e na capacidade do Neo-cagão Tite que, apesar da insistência com Marcão e Edinho, é bom treinador. Cagão nos jogos foras de casa, mas ele também não é milagreiro. Basta que olhemos as opções que teve à disposição no último jogo. Vimos que aquela história de melhor grupo do Brasil era apenas balela.
Bem, não podemos mais adiar a recuperação e devemos tocar em frente com o que sobrou. Precisamos agüentar só mais um pouquinho. Mais precisamente três jogos. Aí termina o turno e o semestre. A partir de então, começa um novo agosto em nossas vidas. E com ele, a esperança de um novo campeonato.
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Ps.: acabo de escrever esse texto e não é que me vendem o Guiñazú?! Faz sua última partida contra o Fluminense. E o pior é que foi por uma merréca. Perdoe-me quem pensa ao contrário, mas 3 milhões de Euros pelo Guiñazú é troco, é doação. Com isso, nosso meio-campo volta a ficar incompleto. POUTZ, até quando? Quando temos segundo volante de verdade não temos articulador. E quando finalmente temos articulador, ficamos sem segundo volante. E não é qualquer segundo volante. Quero ver achar outro parecido no mercado.
Ah, antes que eu me esqueça: Ei, Fanfarrão VTNC*$%#ZÃO!!!