terça-feira, agosto 26, 2008

42 Pensar Grande na Hora do Técnico

42
Se fizermos um exercício de memória e voltarmos no tempo uns três ou quatro anos, perceberemos o quão baixa estava a auto-estima e o nível de cobrança da torcida colorada em relação ao clube. Também pudera! Nos anos 80 e 90, afora alguns lampejos, vivemos no ostracismo. Mesmo quando ganhávamos alguma coisa, em seguida vinha uma derrota desmoralizante. Foi assim ao vencer o Gre-Nal do século e perder para o Bahia. Depois, eliminamos os nordestinos na Libertadores, mas, na seqüência, veio o fracasso contra o Olímpia. Assim foram aquelas décadas.

Contudo, após vários anos de obscuridade, especificamente nos anos de 2004 e 2005 o Inter voltou a dar sinais de grandeza, resgatando algo que, por certas vezes, achei que ficaria apenas na memória. O clube foi se estruturando, novos jogadores chegaram e os resultados começaram a aparecer. Voltamos às competições internacionais, travamos duelos de destaque contra o Boca Juniors. Depois, ganhamos mas não levamos o Brasileirão de 2005 e pintamos a América e o Mundo de vermelho em 2006.

No entanto, por mais que tenha havido um resgate na grandeza da instituição e, inegavelmente o grupo político que ainda está no Beira-Rio é o responsável por isso, penso que talvez os resquícios das décadas de fracassos ainda pesem um pouco sobre nossos dirigentes. Percebo isso quando observo a dificuldade que têm em pensar grande na hora de contratar um técnico.

Parece-me incontestável que uma direção que contrata Sorondo, Bolívar, Guiñazú, Magrão, D’Alessandro, Daniel Carvalho e Nilmar, todos esses nos últimos doze meses, está, no mínimo, tentando manter o nível de uma equipe que ganhou de tudo recentemente. E mesmo os grandes jogadores que saíram, ou foram contratados ou foram promovidos da base de 2002 pra cá, ou seja, na gestão de Fernando Carvalho. Mas a pergunta que não me sai da cabeça é a seguinte: por que diante de uma folha salarial tão alta, já há algum tempo, não se traz um técnico à altura?

Abel, amado e odiado, veio em 2006 e, numa linguagem bem boleira, deu liga. Permaneceu no início de 2007 mas, quando saiu, isso sim é que me espanta, o Inter trouxe nada mais nada menos que o inexpressivo Gallo, que chegou sem crista e saiu depenado. Resultado: o Abel voltou.

O interessante é que o mesmo filme, com personagens um pouquinho diferentes, está acontecendo em 2008. Mais uma vez o Inter começou com Abel, que saiu, e o trocou por um treinador sem a menor ascendência sobre seus comandados no vestiário. Chega a ser motivo de deboche dos jogadores, segundo especula-se na imprensa esportiva.

Aqui no blog, pedi Mano Menezes depois da Copa do Brasil. Semana passada, pedi Luxemburgo para 2009. Agora, depois dessa última partida, fico me perguntando se não poderíamos repatriar o Paulo Paixão, não só para que o time não se morra em campo no segundo tempo, mas também para que se tenha um grupo fechado de verdade no vestiário.

Não sei se são as cicatrizes do passado, que tanto abalou a auto-estima colorada, não sei se não existem investidores para contratar técnicos caros, não sei. Mas há algo que parece impedir nossos dirigentes de pensar realmente grande na hora de contratar um treinador.

Pensar grande é ter sempre uma lista tríplice na manga. É estar sempre pronto para entrar em contato com um grande técnico, aquele que, só de ter seu nome cogitado, já faz tremer de medo os adversários. Exemplos: Wanderlei Luxemburgo, Muricy Ramalho e Mano Menezes. Difícil? Impossível? Talvez, mas temos que ter ambição. O que não dá é pra ficar como estamos, só vendo a banda passar, ainda que o atual líder do campeonato seja um azarão. Azarão também ganha, mas não é a regra e, no futebol, eu cansei de ser a exceção.