A gente sempre sabe quando foi O Momento, escrevo assim com maiúsculas porque se trata Do Momento, aquele onde uma equipe carimba um destino promissor e a partir dali torna-se tão forte que até os jogadores menos qualificados crescem e correspondem. E ninguém segura.
Esse momento está por vezes nas entrelinhas, num jogo que aparentemente não acarretaria determinantes consequências, talvez no detalhe, na bola quase perdida e recuperada num contra-ataque fulminante. Surge quando menos esperamos, nós todos: protagonistas e espectadores.
O A.M. e D.M. (antes e depois do momento) figuram como entorno do fato que marca a trajetória. O antes explica a importância da reviravolta, o depois justifica. E o que fica registrado para a posteridade é o tal momento. Às gerações que seguem se conta "aquele jogo mudou tudo".
Por mais que pensemos convictos "hoje vai!", o momento não obedece previsões sensitivas, não premia por bondade, apenas reflete o que naquele exato instante todos verdadeiramente conspiram a favor.
Por isso não há como saber se o jogo de hoje contra o Cruzeiro será o Nosso Momento. O que devemos esperar e assim cobrar de nossos jogadores é que se portem como reais candidatos ao momento. Que acreditem na iminência do instante mágico, humilde e incansavelmente. Esse espírito aparece no carrinho que salva uma bola saindo pela lateral, nos metros que se tornam centímetros pela vontade daquele que corre um pouco mais.
Como disse no início a gente sabe quando foi, não quando ainda não é. Todos acreditamos que pode acontecer, contudo, a probabilidade só vai do hipotético ao real passando pela entrega absoluta, durante os noventa minutos. Quero isso dos que vão à campo hoje, que busquem até o fim. A qualquer momento pode surgir O Momento. E depois dele... Ah depois... Não cometerei aqui o deslize ansioso de imaginar-me no futuro, dá azar e a falsa idéia de que a desistência numa simples dividida pode não comprometer aquele instante. E compromete. Primeiro, por favor, O Momento.