Oi pessoal! Acabo de chegar em Madrid, depois de estar em cinco cidades durante quinze dias: Paris, Amesterdam, Berlin, Budapest e Praga. Estou cansada, mas não poderia deixar de passar por aqui para dar e receber notícias.
Quero lhes contar um pequeno "incidente" que me ocorreu e lhes deixar uma mensagem. Eu quis conhecer Budapest por memórias de um livro do Chico Buarque de mesmo nome da cidade. No romance ele conta as aventuras de um escritor na capital húngara tentando aprender o idioma que é super complexo. A maneira como Chico descreve a cidade me encantou e sempre quis conhecer esse lugar.
Pois bem, aqui estou em solo europeu e não perdi a oportunidade. Heis que chego na cidade e fui logo percebendo um aspecto meio decadente dos prédios. Quando se olha de longe, edificações como o parlamento que figura pomposa às margens do rio, parecem palácios de uma riqueza inestimável, resquícios do Império Austro-Húngaro. Bem dito, resquícios, vestígios. Pois de perto estão super mal cuidados e nos detalhes parecem mais ruínas.
Não que isso minorasse o charme de uma cidade, ao menos para mim, umas das que torceu o nariz quando viu sumir o concreto no Beira Rio, dando lugar às cadeiras que hoje usufruo com prazer. O problema real foi deparar-me com pessoas que não sorriem, não fazem questão de te receber, deixar-te à vontade em sua cidade.
A Hungria foi incorporada à Comunidade Européia há pouco tempo, por isso estão numa fase de adaptação, ainda não usam o euro como moeda corrente e a deles é super desvalorizada. Os preços, todavia, se equivalem no consumo e a tentativa é, o tempo todo, de arrancar dinheiro dos turistas e por vezes de maneira ardilosa.
Os bilhetes de metrô são conferidos por fiscais que estão nas saídas de cada estação. Às vezes controlam e outras não, mas se te pegam sem bilhete tens que pagar uma multa de 24 euros, o bilhete custa um euro e poucos. Estava deixando a cidade e me dirigia à estação de trem, onde pegaria um até Praga. No metrô fui comprar meu bilhete no guichê, porque não tinha moedas e a máquina não aceita notas. Pedi um bilhete até meu destino e notei que a moça me observou demais, até ali tudo bem, de louco todo mundo tem um pouco.
Quando cheguei na estação de destino havia um senhor com cara de poucos amigos que me parou e pediu o bilhete, mostrei o dito e ele me disse que estava errado e que eu deveria pagar 24 euros. Expliquei que havia comprado na outra estação e que deveria haver algum engano. Este me interrompia, com meu bilhete nas mãos e repetia em tom agressivo, 24 euros!
Eu, que pra conformada não sirvo, pedi meu bilhete de volta e disse que queria falar com seu superior. Ele se negava e me devolver o bilhete e em determinado momento botou no bolso de sua camisa e não me deixava passar. Nessas horas a gente tira o que tem de mais forte, como instinto de sobrevivência na lei da selva. Quem me acompanha por aqui sabe que não aceito uma coisa dessas pacificamente e a essas alturas eu estava super irritada. Não pensei duas vezes, meti a mão no bolso da camisa do grandalhão (era mesmo, maior que eu) e gritei em português: me dá isso aqui!
Saí bufando de raiva, procurei alguma "otoridade" e por ali todos ficam cegos, surdos e mudos. é a máfia do bilhete em Budapest. Concluí que (com perdão pela expressão, mas estou desabafando) a vagabunda do guichê me deu o bilhete trocado de propósito, era eu a presa perfeita porque não comprei na máquina. Ela me passa o falso, chama o filho de uma égua pelo rádio e avisa que vou desembarcar com o famigerado papel inválido. E eu, inocente, ainda disse meu destino pra essa (de novo) vagabunda quando comprei a porcaria do bilhete.
*Hehehe, apesar dos elogios eu agora dou risada do episódio. Os adjetivos aqui estão pra efeitos de entendimento do contexto.
No Brasil temos muitas injustiças, profissionais corrompidos e tudo mais. Não venho aqui dizer que estas coisas não ocorrem no nosso país. Apenas quero que saibam que por aqui também acontece. E que temos costas largas para as mazelas, tomamos tudo que não funciona como algo nosso. Não é assim. Todo lugar onde há problemas sócio econômicos acontecem coisas desse tipo. E no velho mundo não é diferente.
Se no Brasil há crianças pedindo dinheiro na rua, em Budapest, onde a taxa de natalidade é controlada, está cheio de velhinhos miseráveis, largados, pedindo qualquer coisa, nem que seja atenção.
E se pararmos pra pensar, somos geograficamente gigantes, para nós é até mais difícil controlar esses problemas. Os países aqui têm o tamanho de nossos estados e quem dera termos uma Comunidade Européia de respaldo a nossos desfalques econômicos. Somos nós quem apoiamos vizinhos em crise, como por exemplo o Haiti, que depende de nossas tropas para manter o mínimo da ordem, há anos na beira do caos.
Por isso queridos amigos, um clube como o Internacional montar uma equipe do nível desta que se está formando é mais do que motivo de orgulho, é a constatação de que a realidade está aí para ser vivida, trabalhando, ralando e sem baixar a cabeça pra uma camisa que leva o símbolo da UNICEF.
Saudades do Beira... Beijos e boa semana.