segunda-feira, setembro 13, 2010

14 Canseira

14
Sempre que eu tenho um trabalho extenso pra executar, que me consome horas e dias, termino (como é de se esperar) exausta no fim da jornada. E mesmo depois daquela merecida e desfrutada noite de sono, continuo cansada. Permaneço em marcha lenta por um determinado período. É como se meu corpo executasse todos os comandos funcionais no piloto automático: acordar, escovar os dentes, tirar pijama, vestir uma roupa, tomar café, ir para o escritório e assim por diante.

O problema é quando sento em frente ao computador, ou com papel e lápis na mão, tendo que criar, resolver algum espaço. Essa manobra não vai no reflexo. Por mais que tantos traços marcados no papel, imaginados no monitor, tenham sido repetidamente executados, não consigo impor raciocínio nas tarefas mais simples.

Então já sei que, após qualquer exaustivo processo, entrarei num período onde posso ser flagrada estática, em frente ao computador, olhando pra tela. Sinto uma enorme preguiça que não me deixa inspirar. Também costumo terminar algumas jornadas diárias meio deprimida, pudera, tendo feito absolutamente nada que preste. E é lógico que eu não conto nada disso pra ninguém, de vergonha.
- Como foi teu dia, muito trabalho?
- Sim, sim. Bastante. (bastante coisa que eu deveria ter feito...)

Não sei exatamente quanto tempo isso dura, nem o que, e em que momento retomo o foco. Mas numa bela manhã qualquer, desperto com a corda toda. E tudo volta ao normal na rotina de uma capricorniana que sai do ar e volta mais tarde.

Ás vezes fica muito difícil manter concentração naquilo que mais queremos e apreciamos. Gosto muito da minha profissão, mas tem dias que não nasci pra ela. Talvez eu não tenha nascido pra ela todos os dias e estes são (ao contrário de apagões) lampejos de lucidez. Enfim... Concluí que nestes momentos fico distante do que sempre fui (ou me enganei, hehe) porque estive afundada num determinado objetivo. Não tem jeito, pra voltar é necessário desintoxicar-se de seus anseios.

O Inter está cansado de si mesmo, de ter respirado Libertadores, de ter depositado no sono todos os sonhos da taça. Não sei qual procedimento deve ser utilizado para renovar o espírito competitivo. Não sei o que faço comigo, até porque não faço nada – no máximo choro. Mas sei o que fazia Van Gogh.

Muitos pintores olham fixamente para um quadro totalmente preto, após horas de trabalho. Pois a diversidade das cores vicia os olhos, que tendem a confundir tonalidades.
O preto absoluto zera no cérebro a mistura de registros multicolor, resgatando a capacidade de distinguir, identificar cores e tons.

Cada jogador colorado precisa do seu “quadro preto absoluto”, mas isso até quarta-feira, quando toca novamente o despertador e... Vida que segue.